· Flowers

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Suguru Geto

Encontro Satoru no quintal um pouco mais tarde, levantando sacos de terra de uma caixa de papelão e arrastando na grama onde montou um espaço de trabalho improvisado perto da cerca-viva.

Shoko fica a alguns metros de distância, mergulhando um saquinho de chá numa caneca de cerâmica azul enquanto assiste.

Tirando uma mecha de cabelo suado do rosto, Satoru se vira para examinar nosso quintal, colocando as mãos nos quadris. A calça jeans delineia sua bunda com perfeição e, ao me aproximar dele, a memória de agarrá-lo enquanto puxo Satoru para meu pau me invade.

Por um segundo, posso esquecer as outras coisas que acontecem e me perder em sua presença. Ele é como uma tarde de primavera aconchegante, flores novas e ar fresco do mar carregado por uma brisa, e isso me envolve, apagando a realidade feia de todo o resto.

Eu nunca fui o tipo de homem que foge da adversidade, mas quanto mais fico olhando para o homem diante de mim, aquele que arrastei para minha bagunça, começo a desejar que eu pudesse ser. Ansiando que esta pudesse ser a vida que alguém como Satoru merece.

Não fique chateado — ele diz antes mesmo de eu chegar até ele, virando para me encarar.

Há um olhar de exaltação em seus traços delicados, uma suavidade que apaga a rigidez profunda. Um resplendor que só posso explicar como um efeito residual de sexo alucinante.

Por que ficaria chateado? — pergunto, estendendo a mão para emoldurar a bochecha dele com a palma da mão. Meu polegar roça a parte de baixo do hematoma ao redor do olho, observando que o inchaço e o púrpura diminuíram significativamente desde a noite passada.

— Vou destruir seu quintal — diz, apontando para os sacos de terra. — E
não faço ideia do que estou fazendo. Shoko deveria estar lendo a página da Wikipédia, mas…

Ele revira os olhos para olhar para a governanta, que dá de ombros, tomando um gole de chá.

— Mas jardinagem não faz parte do meu trabalho. — Shoko diz.

Satoru bufa.

Nem ajudar Suguru a me sequestrar, né?

Minhas entranhas se agitam com o uso irreverente da palavra, e eu me pergunto o que seus irmãos contaram a ele sobre o que as notícias estão dizendo. Se essas coisas mudam a forma como ele vê tudo isso.

Pigarreando, abaixo a mão e a enfio no bolso do terno.

— Ficarei ocupado nos próximos dias com algumas reuniões, mas devo poder ajudá-lo no final de semana.

— Sério? — Suas sobrancelhas se levantam e ele acena para o retângulo que marcou com madeira. — Você sabe alguma coisa sobre plantar flores?

Ajudei em uma cirurgia bem-sucedida com três pontes de safena durante minha residência e costurei feridas mais abertas do que você provavelmente verá em sua vida. Tenho certeza de que consigo lidar com plantas.

Deixando eles do lado de fora, volto para o Asfódelos e me escondo na biblioteca, tentando me livrar da estranha sensação no meu estômago. Não é dolorosa, é quase uma onda nauseante que vai de encontro a margem várias vezes, sem nunca recuar por completo.

Abrindo uma garrafa de uísque de cinquenta anos, despejo três dedos em
um copo, pego o primeiro livro em que minha mão toca e caio em uma das duas poltronas de couro em frente à lareira apagada.

Abrindo o livro, eu o equilibro no joelho, meus olhos colados à página sem ler. Meu coração bate acelerado, repugnado pela forma como meu estômago arde com o peso da minha consciência, tentando ignorar o fato de que os Gojo me enganaram mais uma vez.

-» Devotion / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora