· Interest

24 4 0
                                    

Satoru Gojo

Você não está mais… interessado em mim dessa maneira?

Afundando a unha nas coxas, eu me repreendo em pensamento por deixar a pergunta escapar dos meus lábios.

Minha mente estava muito turva, em parte devido ao orgasmo que tive menos de meia hora antes e em parte porque a cabine estava começando a parecer um caixão, e de repente a pergunta saiu da minha língua e se lançou na direção dele.

Como se dormir com Suguru Geto fosse a coisa mais importante do universo.

É verdade, pensei muito pouco em outras coisas nas semanas que se passaram desde que ele destroçou minha virgindade, mas, mesmo assim.

Dado o caos completo das últimas vinte e quatro horas, a reviravolta completa da vida como eu a conhecia, o sexo deveria ser a última coisa na minha cabeça.

Devia estar contente por ele não querer isso de mim. Devia fazer eu me sentir forte, como se me deixasse ficar com a única moeda de troca que já tive.

E, no entanto, quando olho para ele do outro lado do sedã preto ao qual fomos conduzidos depois de sair o jatinho, aquele desejo familiar se espalha do meu pau e flui por minhas veias como se pertencesse ali.

E apenas me sinto indesejado.

Ele está quase colado à porta, o paletó dobrado no banco entre nós. As mangas da camisa social preta estão enroladas até o meio do antebraço, revelando músculos rígidos e mais pele bronzeada do que já vi dele.

Percorrendo o telefone com um polegar, Suguru acaricia a parte inferior do queixo com o outro. A tela muda tão rápido, que é difícil imaginar que ele está processando qualquer informação.

Franzindo os lábios, eu me curvo e procuro meu celular na mochila. Não acho nada. Viro a cabeça, a boca se abrindo para perguntar onde ele colocou.

— Um risco — diz ele, antes mesmo de eu falar qualquer palavra, e sem nem me olhar. — Quando estivermos em casa, vou entregar um novo dispositivo para você.

Casa. Passando as mãos pelo material suave das minhas leggings, olho pela janela escura quando o terreno azul-esverdeado de onde quer que aterrissamos termina. O mar se estende além do horizonte das copas das árvores, embora eu não tenha certeza se isso significa que ainda estamos no
continente.

— Onde exatamente é sua casa? — pergunto.

— Ilha Aplana, embora os nativos apenas a chamem de Aplana. Fica nos arredores das Ilhas de Boston Harbor.

— Nunca ouvi falar — digo, meu dedo pressionando o botão que abre a
janela.

Ela solta um chiado ao descer, o som perfurando o silêncio ao nosso redor, provocando uma calma no meu íntimo que não sentia desde que entrei no quarto de Iori. Para cima e para baixo, repito o movimento, hipnotizando-me com ele.

Pelo canto do olho, vejo Suguru se mexer no assento, cruzando e descruzando as pernas como se não conseguisse ficar confortável. Sua mão esquerda desce para segurar um pouco acima do joelho, apertando até as veias se saltarem, sua garganta subindo e descendo repetidas vezes enquanto engole em seco várias vezes.

Quero saber se ele está tendo dúvidas sobre tudo: se casar comigo, me foder, me roubar de Boston. Será possível que o mau doutor não soubesse no que estava se metendo quando entrou como meu cavaleiro em uma armadura não tão brilhante?

Antes que eu tenha a chance de perguntar se é tarde demais para uma anulação, a mão de Suguru avança até mim, cobrindo a minha assim que a maresia sopra no meu rosto. Ele afasta meu dedo, devolvendo a janela de volta à sua posição original, respirações profundas saindo de seu peito.

-» Devotion / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora