Silêncio Entre as Ondas

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A noite já estava avançada, e a energia que antes dominava a taverna começava a diminuir. A maioria da tripulação de Daniel e Lindsay, cansada e embriagada, estava se despedindo para procurar algum lugar para descansar. Ely, completamente bêbado, mal conseguia se manter em pé, e Raul, com a paciência típica, o arrastava para fora da taverna.

- Boa noite, capitães - disse Raul com um suspiro, acenando brevemente para Daniel e Lindsay antes de sair, enquanto Pedro, ainda reclamando do ombro dolorido, saía logo atrás, acompanhado por Bia, que permanecia inexpressiva como sempre.

A taverna agora estava mais tranquila, com apenas alguns poucos clientes ainda bebendo ou cantando canções baixas. Daniel e Lindsay permaneciam em suas cadeiras, cada um absorto em seus próprios pensamentos. O clima entre eles estava diferente, mais silencioso, quase carregado de algo não dito.

- Então... - começou Daniel, quebrando o silêncio. - Sobre o que falamos antes.

Lindsay, que estava distraída olhando para a janela e as luzes da cidade portuária, virou-se para ele, com o rosto iluminado pelo brilho suave das lanternas da taverna.

- Sim... - respondeu ela, num tom baixo e reflexivo. - Acho que falamos demais para uma única noite.

Daniel riu levemente, mas não com o humor usual. Ele olhou para sua caneca vazia, rodando-a entre os dedos, antes de erguer o olhar novamente para ela.

- Talvez - disse ele. - Mas, ainda assim... foi uma boa conversa. Me fez pensar um pouco mais sobre o que nos mantém aqui. Além dos tesouros e da liberdade, claro.

Lindsay manteve o olhar fixo nele por um momento, tentando entender o que ele realmente queria dizer. Havia algo no ar, algo que ambos sentiam, mas não sabiam como colocar em palavras. O álcool os deixava um pouco mais vulneráveis, mais dispostos a admitir coisas que, em outra ocasião, jamais sairiam de suas bocas.

- O mar sempre vai estar lá, Daniel - disse ela, suave, mas firme. - Mas, de vez em quando, ele não é suficiente. Às vezes... a gente precisa de mais. Algo ou alguém para nos manter ancorados.

Daniel assentiu lentamente, absorvendo aquelas palavras. Eles trocaram um olhar prolongado, e por um breve momento, algo diferente passou entre eles. Um sentimento não tão comum para dois capitães endurecidos pelo mar e pela vida. Um lampejo de curiosidade, de algo a mais do que a camaradagem de sempre. Era como se, naquele instante, ambos estivessem à beira de descobrir algo mais profundo.

Lindsay desviou o olhar primeiro, como se aquele contato tivesse sido intenso demais.

- Bem... - disse ela, levantando-se da mesa, tentando manter o tom leve. - Acho que já deu por hoje. Vou descansar. Precisamos estar prontos para o que vier amanhã.

Daniel seguiu seu exemplo, levantando-se também. Ele abriu a boca para dizer algo mais, mas hesitou. Talvez o momento já tivesse passado, ou talvez não fosse hora de explorar o que quer que estivesse crescendo ali.

- Boa noite, Lindsay - ele disse, a voz baixa, mas calorosa.

- Boa noite, Daniel - respondeu ela, oferecendo um pequeno sorriso antes de virar-se para sair.

Os dois caminharam juntos em silêncio até seus respectivos navios, o som das ondas batendo contra o cais sendo o único barulho ao redor. Quando chegaram ao ponto de se separar, pararam por um breve instante, trocando mais um olhar. Mas nenhum dos dois se atreveu a dizer algo mais.

Sem mais palavras, cada um seguiu seu caminho.

Quando Daniel entrou em sua cabine, tirou o casaco e jogou-o sobre a cadeira, mas não conseguiu evitar a sensação estranha que ficava no ar. Seus pensamentos voltaram para a conversa que tiveram na taverna, para o olhar que compartilharam antes de se despedirem. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando afastar aquela sensação.

Amor e Sangue no MarOnde histórias criam vida. Descubra agora