CAPÍTULO UM

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          NO CORAÇÃO DO País das Maravilhas, o caos estava sempre à espreita, mas ali, naquele jardim particular, havia um raro equilíbrio. As flores brancas que Queenie cuidava com tanto zelo pareciam partilhar de sua serenidade. Ela estava ajoelhada no chão, os dedos sujos de terra, enquanto suas mãos habilidosas passavam pelas pétalas macias de uma rosa recém-nascida. O ar estava impregnado com o perfume sutil daquelas flores brancas, que há gerações pertenciam ao jardim de sua mãe, a Rainha Branca.

Aos dezessete anos, Queenie sabia que seu tempo estava se esgotando. O oráculo tinha sussurrado aquele destino cruel quando ela era apenas uma criança, e a cada ano que se passava, a sombra da insanidade parecia se aproximar mais e mais. Mas, curiosamente, ela não se deixava abater. 

No fundo, algo dentro dela ainda lutava para ver o lado positivo das coisas. Talvez fosse a loucura se infiltrando devagar, sussurrando que nada era tão definitivo quanto parecia. Talvez fosse a própria natureza do País das Maravilhas, onde o impossível era o normal, onde até mesmo a sanidade parecia relativa.

— Elas estão lindas, minha querida — a voz suave e gentil da Rainha Branca ecoou pelo jardim. Queenie ergueu os olhos e viu sua mãe se aproximando, com o vestido branco flutuando como se o vento fosse parte dela. A Rainha sempre parecia tão serena, tão distante da preocupação que assolava o coração de sua filha. Ela sorriu para Queenie, observando as flores brancas, símbolo de pureza e clareza — algo que Queenie sentia que estava escapando dela a cada dia que passava.

— Eu acho que as flores sabem — murmurou Queenie, observando as pétalas com carinho. — Sabem que logo não estarei mais aqui para cuidar delas. - Sua voz era tranquila, quase resignada.

A Rainha se abaixou ao lado da filha, seus movimentos graciosos e quase etéreos. Ela tocou o ombro de Queenie com gentileza, os olhos brilhando com uma mistura de tristeza e esperança.

— O futuro ainda é incerto, minha filha. Você sabe que parte da profecia foi rasgada. — Sua voz era suave, mas havia um leve tremor nela, como se, no fundo, até mesmo a Rainha tivesse medo do que estava por vir. — Você ainda tem tempo. Tempo para encontrar sua própria solução.

Queenie abriu um pequeno sorriso, quase irônico. "Tempo", pensou ela. Tempo para enlouquecer completamente. Mas ela não disse isso em voz alta. Sua mãe já tinha preocupações suficientes.

Foi nesse momento que um som ecoou pelo jardim, um som que parecia vir de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo. Era um som de batidas suaves, como um tambor rítmico, mas feito de ar. As flores no jardim começaram a se agitar, como se sentissem uma presença nova. Queenie levantou lentamente, e a Rainha Branca franziu o cenho, olhando ao redor.

Subitamente, o ar à frente delas começou a brilhar com um brilho dourado, como um véu sendo rasgado, e, diante delas, um envelope apareceu flutuando. Ele era selado com um emblema que Queenie nunca havia visto antes — um brasão que brilhava com o desenho de uma fera em dourado, era de Auradon.

A Rainha Branca pegou o envelope no ar com delicadeza, seu rosto neutro, mas seus olhos mostravam surpresa.

— Uma carta de Auradon? — murmurou a Rainha, olhando para Queenie com uma mistura de curiosidade e incerteza. — Desde que a sua tia se recusou a fazer parte de Auradon, selaram o buraco do coelho e nunca mais fizeram comunicação.

Ela quebrou o selo com um movimento elegante e retirou a carta, seus olhos escaneando as palavras com rapidez. Conforme lia, seus lábios se apertaram levemente, e ela ergueu os olhos para Queenie.

— Eles estão te convidando para estudar na escola de Auradon. — A Rainha entregou a carta à filha, o olhar cuidadoso, quase avaliando a reação da menina. — Você será a primeira do País das Maravilhas a pisar em Auradon desde que selaram a passagem.

𝗧𝗛𝗘 𝗪𝗛𝗜𝗧𝗘 𝗣𝗥𝗜𝗡𝗖𝗘𝗦𝗦,  harry hook.Onde histórias criam vida. Descubra agora