CAPÍTULO SEIS

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          QUEENIE ESTAVA SENTADA em um canto mais afastado, observando o grande gramado onde as famílias se reuniam para o tão aguardado Dia da Família em Auradon. Era um evento cheio de risadas, abraços, reencontros e sorrisos genuínos. As conversas fluíam animadas entre os alunos e seus pais, irmãos, tios… todos tão envolvidos no ambiente festivo que Queenie parecia invisível. Ela não fazia parte daquilo, não se sentia pertencente. Na verdade, estar ali apenas a fazia lembrar da distância, da estranheza que sentia desde que chegara a Auradon.

Ela passou os dedos distraídos sobre a borda de sua saia, os olhos vagando por entre os grupos de famílias sorridentes. Cada risada ecoava um pouco mais dolorosa dentro de si, lembrando-a do conforto que sentia sempre que sua mãe, a Rainha Branca, estava por perto. Em seu castelo no País das Maravilhas, havia uma calmaria que a envolvia nos momentos em que o caos da sua mente ameaçava dominá-la. A presença serena e sábia de sua mãe sempre a fazia se sentir segura, como se o turbilhão de pensamentos e alucinações pudesse ser abafado por uma simples palavra dela. Aqui, no entanto, essa sensação parecia distante, como se a ausência da mãe amplificasse ainda mais seu isolamento.

Perdida nesses pensamentos, Queenie não percebeu quando Evie se aproximou. A filha da Rainha Má era sempre fácil de notar, com seu estilo impecável e aquele brilho no olhar que ela exibia com tanta confiança. Mas, hoje. Sem fazer alarde, Evie se sentou ao lado de Queenie, observando o campo à frente, onde as famílias continuavam a se divertir.

— Eu sei como você se sente — Evie disse suavemente, sem nem olhar diretamente para Queenie, como se o silêncio entre elas fosse mais fácil de lidar sem contato visual. — Não é fácil ver todo mundo tão feliz com suas famílias.

Queenie ergueu o olhar, surpresa pela abordagem repentina, mas a sinceridade na voz de Evie a fez relaxar um pouco. Mesmo que fosse difícil para ela falar sobre como se sentia, havia algo de reconfortante em Evie estar ali ao seu lado.

— Você também sente falta da sua mãe? — Queenie perguntou baixinho, ainda um pouco reticente em se abrir.

Evie deu um sorriso melancólico, passando os dedos pelos fios de seu cabelo azul perfeitamente arrumado.

— Às vezes — admitiu. — Mesmo que a minha mãe seja... complicada, para dizer o mínimo, ela ainda é minha mãe. Cresci ouvindo ela falar sobre beleza e poder o tempo todo, mas, sabe... há momentos em que sinto falta disso. De algum jeito. Ela tinha um jeito de me fazer sentir importante, mesmo que fosse pelos motivos errados.

Queenie assentiu, compreendendo a complexidade dos sentimentos de Evie. Sua própria mãe era tão diferente da Rainha Má, mas o laço entre mãe e filha, independente de suas personalidades, sempre seria algo profundo e difícil de ignorar. Mesmo nos momentos em que o País das Maravilhas parecia um caos total (principalmente com a tia tirana que Queenie tinha no comando do reino), sua mãe sempre estava lá para oferecer uma palavra de carinho e consolo, algo que, neste momento, ela desejava desesperadamente.

— Minha mãe... — Queenie começou, a voz soando hesitante, como se as palavras fossem difíceis de formular. — Ela sempre soube como me acalmar quando as coisas ficavam ruins. - Queenie engoliu seco, e logo após alguns segundos de silêncio, ela voltou a falar — Talvez eu não devesse ter vindo.

— Não diga isso. — Evie sorriu, tentando reconfortá-la. — Eu estou aqui pra você, se precisar de alguma amiga para conversar.

O peso do isolamento dentro de Queenie parecia diminuir um pouco com aquelas palavras. Mesmo sendo reservada, a presença gentil de Evie fazia com que ela se sentisse um pouco menos solitária naquele lugar que, até agora, parecia completamente estranho.

𝗧𝗛𝗘 𝗪𝗛𝗜𝗧𝗘 𝗣𝗥𝗜𝗡𝗖𝗘𝗦𝗦,  harry hook.Onde histórias criam vida. Descubra agora