CAPÍTULO TRÊS

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QUEENIE DEITOU-SE NA cama do dormitório feminino da Auradon Prep, sentindo o peso do dia finalmente cair sobre seus ombros. O quarto ao seu redor era silencioso, com um leve perfume de lavanda vindo da janela aberta, mas a mente dela continuava inquieta. Olhando para o teto alto e os móveis elegantes, sentia-se deslocada, como se estivesse em um mundo que não era o seu. A cama era macia demais, os travesseiros afundavam sob o peso de sua cabeça, algo tão diferente das camas rígidas e improvisadas do País das Maravilhas. Auradon era um lugar perfeito, tão longe da loucura que se desenrolava dentro dela.

Enquanto observava os detalhes do quarto, seus pensamentos inevitavelmente voltaram para o futuro. Dezoito anos. Faltava pouco, muito pouco para o dia em que sua vida seria irremediavelmente consumida pela profecia. A insanidade, que agora vinha em ondas, tomaria conta por completo, deixando-a apenas uma sombra do que era. Ela não sabia exatamente o que aconteceria quando esse dia chegasse, mas a sensação de um relógio contando os segundos a atormentava sem descanso. E se aquele fosse o último lugar onde teria algum controle sobre sua própria mente?

Seus olhos correram pelo quarto, pelos detalhes delicados que pareciam zombar dela, como se toda a normalidade de Auradon fosse uma piada cruel. Ela sentiu a respiração começar a se acelerar. As pessoas ali não faziam ideia do que era viver com o medo constante de perder a cabeça, de um dia acordar e ser outra pessoa, ou pior, não ser ninguém. Será que alguém em Auradon entenderia? Será que algum dia ela conseguiria se encaixar?

A exaustão física a tomou, e ela começou a cair no sono, lentamente. Seu corpo relaxou na cama, e seus pensamentos, apesar de sombrios, começaram a se dissipar. Mas logo o pesadelo tomou conta.

Ela estava no meio de uma multidão no pátio da escola, cercada pelos alunos, por rostos familiares e desconhecidos. Eles olhavam para ela com horror, como se ela fosse uma aberração. Mal estava lá, Ben também, Evie e os outros dois garotos, Carlo e Jay, que ela tinha conhecido mais cedo, todos os líderes da escola, todos os olhares fixos nela. Ela tentou falar, mas suas palavras saíam distorcidas, um murmúrio caótico, sem sentido. Algo dentro dela estava se quebrando, fragmentos da sua mente flutuavam ao seu redor, e ela não conseguia mais segurar. Sua risada ecoava pelo pátio, alta, descontrolada. Cada movimento dela era errático, sem propósito, sem controle.

Ela olhou ao redor e viu o medo nos olhos de cada um. Sentiu o julgamento, o desprezo, e sabia que não havia volta. A insanidade a tinha consumido por completo, e ela era uma prisioneira dentro de si mesma. As risadas, os gritos, tudo se misturava em um caos absoluto.

E então, com um sobressalto, acordou.

Seu corpo estava coberto de suor, os lençóis grudando em sua pele. O coração batia violentamente, e ela sentia o peito apertado, como se estivesse se afogando. A escuridão do quarto parecia sufocá-la, como se as paredes estivessem se fechando ao seu redor. Ela levou alguns segundos para perceber onde estava, para lembrar que ainda era noite, que ainda estava em Auradon. Mas o pesadelo permanecia, a sensação de estar à beira do abismo não desaparecia.

Queenie respirou fundo, tentando se acalmar. Tentando convencer a si mesma de que ainda estava no controle. Mas por quanto tempo?

💭

Na manhã seguinte, Queenie estava sentada sozinha na cantina da escola, seus olhos vagando pelos outros alunos enquanto mal tocava na comida. O ambiente ao seu redor era vibrante, cheio de risadas e conversas, mas ela não conseguia se sentir parte daquilo. A bandeja à sua frente estava quase intocada, e, por mais que tentasse, o desconforto a envolvia como uma sombra persistente. A normalidade e a alegria de Auradon eram tão estranhas para ela, como se estivesse vendo tudo de uma janela, sem poder participar de verdade.

𝗧𝗛𝗘 𝗪𝗛𝗜𝗧𝗘 𝗣𝗥𝗜𝗡𝗖𝗘𝗦𝗦,  harry hook.Onde histórias criam vida. Descubra agora