CAPÍTULO SETE

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QUEENIE WHITE POINT OF VIEW

💭

          Queenie estava no dormitório, o silêncio do final da tarde preenchendo o espaço ao seu redor. As horas haviam passado desde a última vez que conseguira manter as aparências, mas agora, sozinha, ela não precisava fingir mais. Ela tirou o sobretudo branco com movimentos lentos, caminhando até o espelho que ficava ao lado da cama. A iluminação suave do quarto mal dava para esconder a expressão perturbada que ela encarava no reflexo.

O calendário decorado na parede chamou sua atenção. Seus olhos caíram sobre a data que ela marcou no exato dia em que chegou em Auradon: faltavam pouco menos de um ano para o seu aniversário de dezoito anos. No começo do ano que vem, a maldição se completaria. Apenas alguns meses separavam Queenie do ponto sem volta. Uma pontada de desespero subiu pelo seu peito. A crise que ela havia enfrentado durante o dia era mais do que um simples surto temporário. Era um sinal.

O tempo estava se esgotando.

Tudo o que ela fez ao longo dos anos para ser mais forte e aguentar melhor as crises teria sido em vão.

Ela se lembrava dos gritos ensurdecedores que ela dava quando uma crise começava.

Ela passou a mão pelos cabelos loiros quase platinados, ainda tentando entender o que estava acontecendo. Sua cabeça girava com a ideia de que, em algum momento, a loucura tomaria conta de vez. Não haveria mais volta, não haveria mais controle. O pavor dessa verdade era o que fazia sua respiração acelerar, como se a crise, que deveria ter ido embora, ainda estivesse ali, latente, espreitando cada um de seus pensamentos.

Queenie se virou, tentando afastar o peso da revelação. Caminhou até a porta do banheiro, pronta para se preparar para o banho, mas a visão dela mesma no espelho parou seus movimentos. Havia algo no seu olhar, algo sombrio que ela não conseguia afastar. A insanidade estava sempre lá, como uma sombra, um eco distante que se aproximava cada vez mais rápido.

Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto. Ela mal conseguia reconhecer a garota que via refletida. Quantas vezes ainda teria que encarar esse olhar vazio antes que a maldição tomasse conta de vez? Um nó apertava sua garganta, e ela lutava para não chorar. Não podia deixar que as lágrimas caíssem. Não podia dar a si mesma o luxo de desmoronar.

Mas ainda assim, elas estavam ali. Poucas, silenciosas, mas presentes.

Ela respirou fundo, secando o rosto rapidamente com as mãos trêmulas. Talvez fosse só um sinal. Talvez ainda houvesse tempo. Mas, no fundo, Queenie sabia que o relógio estava correndo, e a cada dia, o controle que ela tanto tentava manter estava ficando mais frágil.

Com a mente um pouco tonta, ela se afastou do espelho, desligando seus pensamentos por alguns instantes, pronta para enfrentar o próximo momento – por mais temporário que ele fosse.

💭

Queenie deitou-se na cama com o corpo ainda exausto. Os cachos úmidos de seu cabelo se espalhavam pelo travesseiro seco, fazendo-a se sentir levemente desconfortável, mas isso era o menor dos seus problemas. O quarto estava quieto, iluminado apenas pela luz suave que atravessava a janela, mas nada naquela calma trazia paz. Ela virou o rosto, encarando o teto, enquanto seus pensamentos vagavam para lugares que preferia evitar.

Ela desejava, do fundo da alma, que um dia pudesse simplesmente dormir e não acordar mais. Talvez, assim, ela pudesse escapar de tudo o que a esperava. A insanidade, o terror de perder a si mesma, tudo aquilo que o futuro lhe reservava. Morrer dormindo parecia uma solução simples, uma forma de fugir do destino cruel que já estava traçado, mas a realidade era outra. Nada poderia ser feito. Nada.

𝗧𝗛𝗘 𝗪𝗛𝗜𝗧𝗘 𝗣𝗥𝗜𝗡𝗖𝗘𝗦𝗦,  harry hook.Onde histórias criam vida. Descubra agora