Capítulo 23: Bruxa?

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🔮    Eleanor Sinclair    🔮

Uma Bruxa? Como eu poderia ser uma bruxa se nunca, em toda a minha vida, havia mostrado qualquer indício disso? Não fazia sentido... até que comecei a me lembrar de detalhes esquecidos, fragmentos do passado que talvez estivessem tentando emergir.

Afastei-me um pouco, olhando para Richard com olhos marejados. Eu precisava falar. Precisava colocar em palavras tudo aquilo que estava me sufocando.

— Eu... eu realmente não sei o que pensar, Richard. — Minha voz saiu entrecortada, e notei a preocupação no seu rosto ao ver minhas lágrimas começarem a escorrer. — Nunca imaginei... nunca imaginei que houvesse algo especial em mim. Não desse jeito.

Ele franziu o cenho, se aproximando mais, e eu senti o calor reconfortante de suas mãos segurando as minhas com firmeza.

— Eleanor, você sempre foi especial. Sempre soube que havia algo em você... mesmo antes de... — Ele parou, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — Mesmo antes de começarmos a nos envolver desse jeito, eu sentia. Sua energia, sua presença... você é diferente, sempre foi. Mas isso nunca mudou o que sinto por você. Nunca vai mudar.

Eu queria acreditar. Queria confiar que nada disso mudaria o que éramos. Mas a verdade é que, por toda a minha vida, eu havia sido cercada por mistérios e meias-verdades. E agora, parecia que o passado estava finalmente se revelando de uma forma que eu não sabia como lidar.

— Minha mãe... — sussurrei, sentindo o nó na garganta se apertar mais a cada palavra que eu dizia. — Minha mãe costumava me olhar de um jeito... eu era pequena, mas eu lembro. Ela me olhava como se... como se houvesse algo que ela quisesse me dizer, mas que não podia. — Fechei os olhos, tentando afastar a dor que sempre surgia quando pensava nela. — Eu era só uma criança quando ela se matou, Richard. Nunca entendi por quê. Nunca soube o motivo. Só... só lembro de como meu pai ficava estranho quando eu perguntava.

Richard manteve o olhar fixo em mim, seus olhos escuros cheios de compreensão e paciência. Ele não me interrompeu, apenas me incentivou a continuar.

— Ele... — engoli em seco, tentando organizar as lembranças desconexas. — Ele falava que ela era "frágil", que tinha seus próprios demônios. Mas nunca explicou o que isso significava. Eu queria saber... queria entender, mas ele sempre mudava de assunto, sempre desviava. — Minha voz falhou, um soluço preso em minha garganta. — E então... ele também morreu. E eu fiquei com Cecília.

As memórias sombrias de Cecília se infiltraram, trazendo com elas um amargor que ainda queimava. Minha madrasta nunca havia feito questão de esconder o desprezo que sentia por mim. Eu era uma intrusa em sua vida, um fardo que ela foi obrigada a carregar. E eu sempre me senti perdida, sem família, sem respostas... até conhecer Richard.

— Cecília dizia que eu era amaldiçoada — murmurei, minha voz quase inaudível. — Ela falava que minha mãe era "louca" e que eu acabaria do mesmo jeito. E sabe, por muito tempo... eu acreditei. — Respirei fundo, tentando não ceder ao desespero que ameaçava me consumir. — Mas agora... agora eu vejo que talvez houvesse uma razão para tudo isso. Talvez... talvez meus pais estivessem tentando me proteger de algo. Talvez eu não fosse louca, talvez... fosse especial. — Levantei os olhos para Richard, e ele me encarava com um olhar intenso, sua expressão grave e atenta.

— Eu não posso acreditar que você tenha se sentido assim, Eleanor. — Sua voz saiu quase como um rosnado, a raiva brilhando em seu olhar ao pensar no que Cecília havia feito comigo. — Você nunca foi amaldiçoada. Cecília estava errada, e eu nunca vou perdoá-la por tudo que fez você passar. — Ele respirou fundo, parecendo se forçar a se acalmar antes de continuar, sua voz suavizando. — Mas você tem razão. Há algo a mais aqui, algo que seus pais sabiam e que queriam manter em segredo. Talvez... talvez eles estivessem tentando proteger você de um destino que nem eles entendiam completamente.

Fiquei em silêncio, tentando absorver suas palavras. Seria isso mesmo? Meus pais estariam tentando me proteger? Mas de quê?

— Eu preciso saber o que realmente aconteceu com eles, Richard — murmurei, sentindo a urgência crescer dentro de mim. — Eu preciso descobrir a verdade sobre quem eu sou. Se... se há algo em mim, se eu realmente sou uma bruxa, então por que isso nunca se manifestou antes? Por que agora?

Ele apertou minhas mãos mais uma vez, como se quisesse me passar toda a força que possuía.

— Talvez o que aconteceu hoje tenha sido um catalisador, Eleanor. Algo... despertou essa parte de você. — Richard inclinou a cabeça, seu olhar profundo como se estivesse tentando desvendar um mistério antigo. — Precisamos investigar seu passado. Seus pais, as circunstâncias da morte deles... tudo isso. — Seus olhos brilharam com determinação. — Eu conheço pessoas que podem nos ajudar. Arquivos antigos, registros que talvez contenham alguma pista. E, se houver algo mais, algo que seus pais deixaram para trás... nós vamos encontrar.

O calor do seu apoio me inundou, dissipando parte do medo que ainda latejava dentro de mim. Pela primeira vez, eu tinha alguém disposto a ir tão fundo quanto fosse necessário, disposto a enfrentar qualquer verdade, não importava o quão sombria fosse.

— Eu... eu sempre quis saber — confessei em um sussurro, quase com medo de admitir isso em voz alta. — Sempre quis entender por que eles me deixaram. Por que minha mãe se foi assim, tão... tão de repente. Meu pai... ele ficou mais sombrio depois que ela morreu. Mais distante. — Meus dedos tremiam levemente enquanto eu revivia aqueles dias sombrios. — Ele começou a falar menos, a evitar me olhar. E então, um dia, ele... ele também se foi. E tudo o que restou foram perguntas e mais perguntas. Cecília nunca se preocupou em me contar nada. Ela apenas... me odiava. Me mantinha presa. E eu me convenci de que nunca teria respostas.

Os olhos de Richard estavam fixos em mim, e eu vi uma fúria contida neles. Não contra mim, mas contra todos aqueles que haviam me machucado, contra os segredos que haviam destruído minha família.

— Nós vamos conseguir as respostas, Eleanor. Eu prometo. Seja o que for, vamos descobrir o que aconteceu com seus pais, o que eles estavam escondendo. — Ele colocou a mão em meu rosto, seu toque gentil e reconfortante. — E vamos entender quem você realmente é. Você não está sozinha nisso. Nunca mais estará.

As lágrimas que eu havia tentado conter finalmente escorreram, mas não eram de dor. Eram de alívio. Pela primeira vez, eu sentia que estava no caminho para finalmente entender meu passado.

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