Ana me desamarra com a convicção de que sua tortura física e psicológica foi o suficiente para realizar uma lavagem cerebral, como já fez com tantas outras mulheres antes de mim, todas vendidas no submundo do tráfico humano. Esse esquema nojento, cruel e abominável nos trata como gado a ser leiloado, retirando toda a nossa autonomia. Marcar nossos corpos, praticar algum tipo de mutilação, como arrancar uma unha, cortar um pedaço da pele ou até mesmo desfigurar um olho – tudo isso são apenas os primeiros passos no processo de transformação para nos tornar mercadoria. Essas eram as intenções iniciais de Ana. Mas, por exigências do porco nojento que pretende me comprar, ela não me destruiu completamente... pelo menos, ainda não. Suas mãos manchadas de sangue inocente me tocaram como se eu fosse uma boneca a ser manipulada. Certa vez, em um de seus devaneios, ela confessou seus crimes – não sei se falava comigo ou com um dos muitos obsessores que parecem assombrá-la.
Quando pensei que ela não poderia piorar, ela revelou algo ainda mais monstruoso: o tráfico de bebês e órgãos. O nojo subiu pela minha garganta, quase me fazendo vomitar, enquanto percebia o quão podre a humanidade pode ser. Ela até entregou alguns de seus cúmplices, mencionando gravações feitas por uma câmera antiga de VHS, pois a 'limpeza' precisa ser documentada como garantia da qualidade final do 'produto' para o comprador. Sinto o álcool puro queimando minha pele quando entra em contato com a parte superior do meu corpo, enquanto o sangue quente escorre entre minhas pernas. Por um momento, agradeço a sorte de que ela não ousou me marcar mais profundamente, pois isso poderia atrasar a venda e desagradar o comprador. Uma "flor" não pode ter todas as suas pétalas destruídas.
Mantenho-me imóvel e em silêncio. Não posso confrontá-la de frente, não sei se ela esconde uma arma. Um tiro no meio da minha cara não seria a melhor saída. Ela se abaixa para pegar um pote na prateleira inferior de um armário velho, caindo aos pedaços, assim como esse porão sujo, inundado por um cheiro horrível de mofo e podridão. Mesmo sendo parte da família, nunca estive aqui. Quando nasci, meus avós já tinham falido e abandonado este lugar.
Aproveito sua distração, pego o primeiro objeto ao alcance – um ferro enferrujado ao lado da cadeira onde estou presa, repousando sobre uma pequena mesa que também sustenta o vidro de álcool. Acerto a nuca dela com força, mas não para matá-la, apenas para desmaiá-la. Aprendi com Ana os pontos certos para se defender sem matar, e a nuca, se atingida no lugar certo, pode desmaiar alguém instantaneamente.
Ela desmaia, e isso me dá a chance de fugir. Ignoro a dor que se espalha por todo o meu corpo, especialmente entre minhas pernas. Corro até a porta velha do porão, mas ela parece emperrada, o que me deixa desesperada. Se Ana acordar, estou condenada. Empurro com todas as forças, sentindo as farpas da madeira podre penetrando em meus dedos. Reprimo um grito de dor, insisto mais um pouco, e finalmente a porta se rompe, fazendo um estrondo ensurdecedor. Saio correndo pela casa, deixando um rastro de sangue no chão.
Quando alcanço a porta principal, quase a arranco de tanto puxá-la. Corro para fora e ouço os gritos distantes de Ana, me fazendo acelerar ainda mais, mesmo descalça e correndo pelo matagal que cerca a casa.
A poeira da estrada começa a cobrir o carro, forçando-me a fechar os vidros. Observo o cenário abandonado ao redor, com o mato alto cercando os dois lados da estrada.
— PARA! — Vanessa grita, fazendo-me frear bruscamente. Observo uma movimentação rápida saindo do meio do matagal à distância. Duas figuras se aproximam rapidamente.
Desço do carro assim que as duas pessoas se aproximam, e é quando eu a vejo: minha mulher, Liliana, completamente nua, correndo, com Ana logo atrás. Minha primeira reação é sacar a arma, apontando diretamente para Ana.
— Sai de perto da minha mulher, vadia! — grito, minha voz carregada de ódio.
— Não é o que estão pensando! Ela fugiu da clínica e eu estava apenas tentando trazê-la de volta! Eu sei como cuidar da minha filha!— Ana tenta justificar, mas suas palavras são repletas de mentiras e desespero.
Não penso duas vezes. Disparo um tiro perto do pé dela, o suficiente para fazê-la recuar, enquanto corro para Liliana, que cai de joelhos em uma pequena poça de sangue.
Ana some de vista enquanto entrego minha arma para Nefertari, que observa a cena em silêncio. Sei que por dentro ela está tão destruída quanto eu. Que maldita situação!
Levanto Liliana em meus braços e a coloco no banco de trás do carro. O rosto pálido dela me enche de pânico. Ela está perdendo muito sangue. Arranco com o carro, acelerando o mais rápido possível.
— Vó? Quem são essas pessoas? — Liliana murmura com uma voz fraca do banco de trás.
— Sua mãe e sua filha, querida. Mas agora não se esforce, você precisa se manter firme até chegarmos ao hospital.— Vanessa responde com calma, tentando acalmá-la, mas seus olhos denunciam o desespero.
— Pai, temos que mantê-la aquecida. Tem algum pano ou manta? Posso fazer uma compressa e cobrir o corpo dela!— Nefertari pergunta, já procurando algo para ajudar.
— Sim, há uma manta atrás do banco!— acelero ainda mais, passando por um sinal vermelho. O hospital mais próximo está a cerca de vinte minutos.
Minutos depois, viro na rua do hospital, mas a estrada está bloqueada por um engarrafamento causado por um acidente.
— Não pode ser! Meu Deus, não leva minha filha de novo! — Anaya murmura, quase sem fôlego, segurando as lágrimas no banco da frente.
"Merda! Não posso perdê-la outra vez!"
— Não vamos perdê-la, não nesta vida! — saio do carro rapidamente e vou até a porta de trás.
— Se não posso ir de carro, vou a pé, mas não vou deixar a morte levá-la outra vez.
Carrego Liliana nos braços, envolta na manta, seu corpo está frio, o que me desespera ainda mais. Mas me recuso a deixá-la desistir. Ela é forte, já superamos situações difíceis antes.
— Eu te amo, sabia? Amo nossos filhos, mesmo sem conhecê-los nesta vida. Diga isso a eles, e mesmo que não possamos viver juntos desta vez, eu vou te amar até a última vida e além dela. — ela sussurra essas palavras antes de apagar em meus braços.
— Não! Você não vai morrer! — arrebento a fita de contenção que bloqueia a rua, avistando o hospital do outro lado.
Um policial se aproxima rapidamente. — **Ei, rapaz! Você não pode ultrapassar!**
Ignoro o aviso, correndo para o hospital, mas antes de chegar, ouço um tiro e sinto uma dor terrível nas minhas costas.
"Filha da puta, ele me acertou!"
Seguro o grito de dor, transformando-o em um pedido de socorro enquanto entro no hospital.
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Inicialmente, planejei postar amanhã, mas resolvi deixar vocês ainda mais curiosas para os próximos capítulos.
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Até a Nossa Última Vida●Tupac●
Hayran Kurgu"Você ainda me amaria se eu não tivesse toda essa grana?" Dinheiro, drogas, armas e mulheres - é disso que um rapper precisa para viver, certo? Mas, por trás dessa fachada, existe algo muito mais profundo. Ela era como um lírio selvagem, delicada e...