Capítulo Doze

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Mui agradável, de fato. O garoto estava tramando alguma coisa, isso era fato. Embora James não conseguisse nem imaginar o que poderia ser. Acreditava quando ele dizia que não estava planejando uma fuga. Regulus era inteligente demais para isso. Quando aportassem em solo britânico, aí sim ele poderia tentar alguma gracinha, mas não antes, disso ele tinha certeza.

Mas quando eles estivessem de volta... bem, ele iria querer se livrar de Regulus, não é?

— Algo errado? — perguntou Regulus. — Você ficou com um olhar tão cético de repente...

James olhou para ele. Cabelos negros, olhos azuis-acinzentados, vestes escuras... tudo estava igual. Mas sentia como se alguma coisa estivesse diferente.

Não era nada em Regulus. Ele sabia bem disso. É claro que a viagem estava sendo diferente de todas as outras graças à presença dele, mas não era isso que o deixava instável. Já fazia vários meses que ele vinha se sentindo estranho.

Algo dentro dele parecia fora de lugar.

James se sentia inquieto.

Descompensado.

Essa sensação geralmente significava que estava na hora de zarpar. James sabia que sua alma não era destinada a ficar presa a um único lugar. Isso era um fato básico de sua existência, parte tão indelével quanto seu senso de humor atrevido, seus olhos castanhos e seu fascínio por tudo que envolvia mecânica. Por isso havia implorado aos pais para não cursar o último ano em Eton para, enfim, se alistar na Marinha. E era por isso que eles haviam permitido, embora James soubesse muito bem que preferiam que ele tivesse concluído os estudos.

Só que James nunca teria sobrevivido aos três anos da universidade. Pelo menos não naquela época de sua vida, durante a qual mal conseguia passar algum tempo sentado. Palestras e seminários teriam sido simplesmente torturantes.

No entanto, a inquietude instalada em seu âmago nos últimos tempos era diferente. Um desejo de mudança, é claro, mas não de mudança constante. Visualizou novamente o chalé, uma imagem que já rondava seu subconsciente fazia um bom tempo. Sempre que pensava na casa, a imagem mudava um pouco... uma treliça aqui, uma silharia ali. E ele nunca conseguia decidir o tamanho exato.

Seria melhor morar sozinho? Ou ter uma família?

Não poderia ser pequena demais, disso ele sabia. Mesmo se nunca viesse a casar e ter filhos, queria poder receber os sobrinhos e as sobrinhas com conforto. Crianças precisavam de espaço para correr livremente e explorar o mundo. Sua infância fora magnífica nesse aspecto. Seu território era a imensidão das propriedades da Família Potter. Pescavam, escalavam, faziam todos os tipos de brincadeira de faz-de-conta cheias de príncipes e cavaleiros, piratas e reis. Incluindo, é claro, Joana d’Arc e a rainha Elizabeth, porque Mary Potter sempre se recusara a fazer o papel de donzela em apuros.

Quando chovia, ficavam dentro de casa jogando ou construindo castelos de cartas; houvera, naturalmente, algumas aulas em meio a tudo isso, mas até as lições eram agradáveis graças à perícia dos pais na escolha dos tutores. Acreditavam que o aprendizado poderia ser divertido, que uma devoção cega à disciplina não traria nada de positivo, pelo menos em se tratando de crianças com idades que ainda nem haviam chegado aos dois dígitos.

Seus pais eram pessoas extremamente sábias. Era irônico (mas, ao mesmo tempo, lógico) que nem James ou Mary tivessem compreendido aquela verdade antes de chegar à idade adulta.

Era irônico pensar que depois de tudo que tivera em sua vida; a boa criação, sua irmã, a presença e sorrisos de seus pais, seus amigos... Tudo... James ainda preferia sua vida como um maldito pirata.

Look After You, starchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora