Capítulo Quatorze

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Os dias que se seguiram transcorreram sem maiores incidentes.

Regulus terminou de montar o quebra-cabeça, desfez tudo e voltou a montar. A segunda vez não chegou nem perto da primeira em termos de satisfação, mas ainda era um passatempo melhor do que as outras opções, já que ele havia terminado de ler a única obra de ficção da prateleira, composta de preciosidades tais como Métodos de engenharia do Império Otomano e Obras-primas da arquitetura rural de Linlithgow

Ele não concebia um bom motivo para que o capitão de um navio precisasse de um guia para obras-primas da arquitetura rural de Linlithgow, mas até que tivera alguns momentos de prazer ao ler a parte sobre Logie Woodlands, a propriedade rural onde os pais cresceram e onde as primas ainda moravam.

Regulus visitara Logie Woodlands diversas vezes, mas não nos últimos tempos. As reuniões da família Black costumavam ser em Londres. Fazia sentido, na opinião de Regulus. Por sorte, a Casa Black em Londres era grande o suficiente para caber todos os membros da família – até mesmo os animais de estimação dos primos –, a temporada que passariam em Londres seria a apresentação de Regulus à sociedade londrina como o príncipe da Escócia, que estava ali para o debut e conhecer as novas pretendentes.

Com a permissão de sua mãe, Regulus ficara sob a supervisão de sua tia Druella, que assim como Walburga, desejava que o príncipe tivesse logo um herdeiro para o trono.

O que honestamente Regulus não entendera. Ele sequer se tornou rei e já queriam substituí-lo?

Mas, para a sua felicidade, as pretendentes que apareceram eram, em suma, eram chatas. Irritantes. Insuportáveis. E se tivesse que convidar para dançar mais uma daquelas moças desesperadas, ele teria se matado.

Não por elas dançarem mal. Não, mas porque parecia que para todos em Londres a vida se baseava em apenas falar sobre as pessoas de Londres.

Pelo amor de Deus, era pedir demais alguém que soubesse conversar? Que o fizesse rir? Parecia que as pessoas de Londres só faziam falar sobre as pessoas de Londres, e, embora Regulus não fosse inteiramente avesso a fofoca (novamente falando com honestidade, quem diz não gostar de fofoca está contando uma grande mentira), a vida era muito mais rica do que discussões sobre quem dançou com quem nos bailes, dívidas de jogo e o tamanho do nariz de alguém.

Ele logo aprendera a não fazer as perguntas que surgiam sem parar em sua cabeça quando tivera uma dúvida honesta sobre como as estrelas surgiam. Ou quando percebera que ninguém tinha o menor interesse em saber por que alguns animais tinham bigodes e outros, não. E houve uma certa vez, quando Regulus se perguntara em voz alta se todo mundo enxergava o mesmo tom de azul no céu, alguns jovens que estavam próximos de Regulus olharam para ele como se estivesse passando por algum surto de loucura.

Um deles chegou a sair de perto.

Sinceramente, Regulus não entendia como aquelas questões não intrigavam a todo mundo. Mas ele nunca poderia estar dentro da mente de alguém.

Talvez, onde ele via azul, outra pessoa visse laranja.

Não havia meio de comprovar o contrário.

Por outro lado, Regulus não queria ser solteiro para o resto da vida. Assim, havia se resignado, e tinha planos de voltar a Londres para mais uma temporada, desde que sua tia Druella estivesse disposta a recebê-lo outra vez.

Mas tudo havia mudado. Ou, mais precisamente, tudo poderia mudar. Como seria a sua vida quando o Gryffindor enfim retornasse à Windsor era um grande mistério. Talvez ainda conseguisse voltar para Briar House sem que ninguém soubesse (exceto Pandora), uma hipótese à qual Regulus se agarrava com unhas e dentes. Confiava em Pandora e tinha a plena certeza de que a amiga cuidaria para que tudo estivesse bem.

Look After You, starchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora