A Escolhida - Duque de Ross

Capítulo XV

Nota da autora: A partir deste ponto, vamos mergulhar mais fundo nos sentimentos do duque e explorar suas emoções com mais profundidade. Espero que apreciem essa nova camada da história. Até breve!

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Jeremy estava deitado, os olhos fixos no teto, o peito nu brilhando à luz fraca do candelabro. O silêncio do quarto era quebrado apenas pela respiração suave da mulher ao seu lado. A meretriz se movia lentamente, com uma expressão lânguida no rosto enquanto seus dedos percorriam a cicatriz em seu ombro. Algo que, em outros tempos, teria dissipado suas tensões, mas agora parecia uma afronta ao que ele realmente desejava — ou temia.

Desde o nascimento, Jeremy sabia que seu destino estava traçado. Nunca foi apenas o filho de Jame e Isabel MacKenzie; ele era o herdeiro, o futuro duque de Ross. Seus primeiros passos foram vigiados com a precisão de quem preparava uma peça chave para a continuidade de uma dinastia poderosa. Não havia espaço para falhas, e menos ainda para fraquezas. As expectativas eram um fardo constante em seus ombros, e ele aprendeu, cedo demais, a esconder suas emoções, a enterrar seus desejos, a não confiar em ninguém.

Havia noites em sua infância quando chorava em silêncio, o rosto enterrado nos travesseiros pesados de seu quarto solitário, desejando poder correr livre como as outras crianças. Mas esse luxo nunca lhe foi concedido. Seu pai, Jame, era impiedoso. Um homem inflexível, duro, que considerava qualquer emoção um sinal de fraqueza. Jeremy tinha sido forçado a amadurecer antes de estar pronto, aprendendo a comandar e a agir com frieza. Seus dias eram de disciplina e de ordem, e seus erros, corrigidos com severidade.

Ele suspirou, os pensamentos flutuando até sua irmã, Julie. A morte trágica dela deixou uma cicatriz profunda na família MacKenzie, uma ferida que nunca cicatrizou completamente. Jeremy havia amado Julie, ela era o raio de sol em um mundo cinzento e calculado. A partida dela, levou consigo a alegria, o riso e qualquer vestígio de leveza que pudesse existir. Jeremy nunca tocava no nome da irmã, como se o silêncio pudesse enterrar a dor. Mas o silêncio apenas ampliava o vazio.

Ao pensar em Julie, uma pontada de amargura surgiu em seu peito. Jame havia falhado como pai, incapaz de demonstrar qualquer afeto, mesmo diante da tragédia. No leito de morte, o velho duque buscou o perdão de Jeremy. E, com relutância, ele havia dado. Não pelo amor que jamais existiu entre eles, mas por necessidade de seguir em frente. No entanto, o perdão veio tarde demais, muito tarde para qualquer reconciliação verdadeira. Quanto à sua mãe, Isabel, apesar dos desentendimentos no passado, ele a amava profundamente. Ela era tudo o que restava da família privilegiada, mas que havia sido arruinada.

As paredes erguidas ao redor de seu coração se tornaram mais altas depois disso. Jeremy decidiu que jamais permitiria que o amor, ou qualquer laço afetivo, entrasse novamente em sua vida. Ele se tornara o duque de Ross com total convicção de que o poder, o dever e a solidão eram seus companheiros inevitáveis. As expectativas que outrora o esmagaram se tornaram a armadura que ele usava com orgulho.

No entanto, tudo isso estava sendo desafiado agora. Ela o desafiava. Violet.

Cada vez que pensava nela, sentia a armadura que passou anos forjando se partir um pouco mais. A forma como ela olhava para ele, desafiadora e frágil ao mesmo tempo, o irritava profundamente. No início, ele achou que era apenas uma atração carnal, uma faísca de desejo que poderia ser apagada. Mas a cada dia, aquilo crescia. Ela o fazia se sentir vivo de uma maneira que há muito ele havia esquecido. Mas também o enfurecia. Como ela ousava? Como uma simples criada poderia penetrar tão fundo em sua alma, quando ele passou toda sua vida protegendo-se contra isso?

Ao lado dele, a meretriz murmurou algo, que ele nem se importou em escutar, sua mente vagava. Vagava até Violet. Jeremy virou a cabeça, o olhar frio, vazio. A mulher ali presente não tinha culpa, claro, mas sua presença o irritava. Ela representava um alívio que ele não conseguia mais sentir, uma distração que já não funcionava. Nada mais funcionava desde que Violet surgiu em sua vida.