Capítulo XIV

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O ar estava denso, carregado com o cheiro de pedra fria e madeira antiga, como se os próprios corredores guardassem segredos enterrados há séculos. Cada passo de Violet soava abafado contra o piso de pedra, os ecos suaves se misturando ao som distante de uma janela mal fechada, onde o vento assobiava, trazendo consigo a umidade do lado de fora. A carta do duque permanecia amassada em sua mão, o papel áspero contra sua pele, lembrando-a a cada instante da irritação que ele deixara transparecer em suas palavras.

Ela ainda estava dolorida. O corpo, frágil e pesado, protestava a cada movimento, mas sua mente estava em alerta, girando entre pensamentos caóticos. Aquele encontro seria decisivo. O tom frio e impaciente de Jeremy no bilhete sugeria que ele não estava disposto a tolerar mais desafios. No entanto, algo mais inquietava Violet: o modo como ele a tratava. Não como uma pessoa, mas como parte de suas posses. Esse pensamento latejava em sua mente enquanto ela percorria o caminho em direção ao gabinete.

O corredor parecia mais longo do que o normal, as tapeçarias penduradas nas paredes se movendo levemente com o fluxo do ar. O aroma do couro dos móveis próximos, misturado ao leve cheiro de fumaça que vinha da lareira acesa em algum outro cômodo, preenchia seus sentidos. Tudo aquilo deveria lhe trazer uma sensação de segurança, mas, em vez disso, apenas intensificava sua inquietação.

Quando finalmente parou em frente à grande porta de madeira escura que levava ao gabinete de Jeremy, Violet hesitou. O frio do metal da maçaneta tocou sua pele e fez seu corpo se enrijecer. Por um momento, ela fechou os olhos, tentando controlar a respiração. Podia ouvir o crepitar da lareira do outro lado da porta, o único som quebrando o silêncio tenso que parecia cercá-la.

O duque estava lá, aguardando-a. Sua paciência não era infinita, e ela sabia que sua presença demorava mais do que ele gostaria. As palavras dele na carta ecoaram em sua mente: "Não deixe que minha paciência seja testada além do necessário." Violet sabia que aquele encontro seria tudo menos fácil, mas, apesar do desconforto físico e emocional, uma centelha de resistência crescia dentro dela. Não se curvaria aos caprichos de um homem.

Ela deu um último suspiro profundo antes de levantar a mão e bater na porta. O som ecoou pelos corredores vazios, mais alto do que esperava. Um silêncio denso seguiu o som, como se o próprio castelo segurasse a respiração.

"— Entre," veio a voz de Jeremy, abafada pela madeira, mas ainda carregada com autoridade.

Violet abriu os olhos e, com os dedos ligeiramente trêmulos, girou a maçaneta fria. A porta rangeu ao ser aberta, revelando o ambiente quente e sombrio do gabinete do duque. Ela entrou, sabendo que a batalha que enfrentaria ali seria muito mais do que apenas palavras.

Jeremy se encontrava de pé junto à lareira, os olhos fixos nas chamas, as sombras projetadas na parede ao fundo. Assim que Violet entrou, ele virou-se lentamente, o semblante sério e investigativo. Não houve troca de cortesias. Ele foi direto ao ponto.

Violet, — ele começou, com a voz firme, mas baixa, — o que exatamente você estava fazendo na floresta, sozinha? Não me parece uma atitude sensata, dadas as circunstâncias.

Violet sentiu o sangue gelar. As palavras de Jeremy eram firmes, mas o subtexto era claro: ele suspeitava. Havia pouco tempo para pensar, e ela tinha que ser rápida. Controlando a respiração, começou a falar, escolhendo suas palavras com cautela.

Eu... — começou ela, hesitando apenas por um segundo. — Eu precisava pensar. As coisas têm sido confusas, e eu achei que uma caminhada ajudaria a clarear minha mente. — Ela fez uma pausa, avaliando a reação de Jeremy antes de continuar. — Mas me afastei mais do que pretendia e... acabei me perdendo.

A Escolhida - Duque de RossOnde histórias criam vida. Descubra agora