Capítulo XIX

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Wester Ross estava em uma completa agitação. O som de vozes se elevava pelos corredores, enquanto os serviçais se movimentavam com pressa, cumprindo ordens que pareciam nunca cessar. O ar estava impregnado pelo aroma de carnes sendo assadas, sobremesas ricamente preparadas, e a promessa de uma mesa farta de uísques e licores, digna de uma recepção real. A causa de tanta agitação? O retorno de Isabel MacKenzie, a matriarca da família, que voltava para as terras escocesas após anos de ausência, marcada por perdas dolorosas.

Desde a morte da filha e do marido, Isabel refugiara-se na propriedade da família em Londres, um lugar que lhe permitira vivenciar o luto em silêncio. Ali, ela chorou e sofreu, enfrentando as ondas de dor que vinham com as lembranças de uma vida compartilhada. No entanto, o tempo, implacável e curador, finalmente a chamou de volta para casa. Não havia como esquecer o que vivera, mas ela sabia que só o tempo poderia lhe devolver a força para continuar.

Agora, ao retornar ao castelo, o coração de Isabel estava inquieto. As mudanças que poderiam ter ocorrido a assustavam, e o lugar que antes chamara de lar já não era o mesmo em suas memórias. Mas, acima de tudo, havia um desejo ardente em seu peito: reencontrar seu filho Jeremy e talvez, de algum modo, descobrir um novo propósito, uma nova razão para seguir em frente.

Os convidados chegavam em carruagens reluzentes, trazendo consigo uma aura de poder e influência que reverberava pelos corredores do castelo. Nomes de prestígio cruzavam os portões: John Murray, Duque de Atholl, cujas alianças políticas eram tão notáveis quanto suas posses; William Douglas, o audacioso Marquês de Queensberry, sempre acompanhado de rumores e histórias que divertiam e escandalizavam; e Cler Wheston, a enigmática Lady de Kinston, conhecida por sua beleza e por segredos que sussurravam pelas cortes, apenas para citar alguns dos rostos ilustres que adentravam o grandioso salão.

A atmosfera estava carregada de excitação. A música, vibrante e alegre, ecoava pelos salões, chamando todos para a pista de dança, onde o ritmo contagiante das melodias escocesas convidava os pés a se moverem com graça. Os convidados rodopiavam em danças típicas da região, seus trajes coloridos criando um espetáculo de movimento e cores. Enquanto isso, os criados, ágeis e discretos, circulavam entre os nobres com bandejas repletas de bebidas finas e deliciosos petiscos, cuidando para que todos os desejos fossem satisfeitos sem uma palavra ser dita.

Mas, de repente, um súbito silêncio tomou conta do salão. Stuart, o mestre de cerimônias, com sua presença imponente e voz grave, deu um passo à frente e anunciou, com a solenidade que a ocasião pedia, a tão aguardada entrada de Lady Isabel MacKenzie. O nome ressoou no salão, como um eco de tempos passados, e todos os presentes, em um gesto de profundo respeito, se levantaram simultaneamente. O murmúrio das conversas cessou, e em seu lugar surgiu um aplauso uníssono e caloroso, que ecoou pelas paredes de pedra.

Violet, com uma bandeja de doses de Drambuie equilibrada entre as mãos trêmulas, parou abruptamente ao ouvir o nome. O salão pareceu congelar em torno dela, as vozes abafadas, como se o tempo tivesse se contraído apenas para aquele instante. Jeremy, que caminhava atrás dela com a postura altiva e impenetrável, também se deteve. Sem pronunciar uma palavra, os dois fixaram os olhos na porta do salão, que se abria lentamente, como se o próprio ar tivesse decidido esperar.

Os sons de passos ecoaram pela imensa sala enquanto Lady Isabel surgia com uma aura de autoridade e graça, carregando nos ombros o peso de uma lenda viva. O leve farfalhar de seu vestido de seda reverberava, trazendo uma elegância que parecia ter sido moldada com o tempo. Por um momento, Violet esqueceu-se da bandeja em suas mãos, de sua posição como criada, e até da presença imponente de Jeremy tão próximo a ela. Havia algo na entrada de Isabel que despertava emoções profundas, algo que parecia ameaçar arrancar o ar de seus pulmões.

A Escolhida - Duque de RossOnde histórias criam vida. Descubra agora