Dream World

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Dream World, um parque de diversões localizado na província de Pathum Tani,  há cerca de vinte quilômetros do centro da cidade de Bangkok, era um dos destinos mais procurados aos fins de semana, com atrações para adultos e crianças.

Foi a sugestão de Engfa para Charlotte para a mulher fazer as pazes com Malee. Charlotte de alguma forma aceitou e ali estava Engfa, na imensa fila para comprar os ingressos, observando Charlotte e Malee sentadas em um banco distante.

Uma ao lado da outra, com Malee apontando entusiasticamente para os personagens andando por ali e os jardins de fundo, elas pareciam princesas.

Engfa riu com o pensamento infantil. Princesas. Ela nunca havia acreditado em contos de fadas.

Seu celular tocou dentro do seu bolso, uma melodia irritante que Aoom havia escolhido para ser seu toque personalizado.

"Boa tarde, Aoom."

"Não me venha com boa tarde, Engfa." A voz alta de Aoom a cumprimentou. "Onde diabos você está?"

Engfa sabia que Aoom ligaria, só não esperava que a mulher estivesse tão exasperada.

"Dream World." A resposta curta pareceu irritar mais sua amiga.

"Dream World?" Havia incredulidade em sua voz. "O que você está fazendo em um parque de diversões quando deveria estar fotografando os meus modelos?"

Engfa fechou os olhos por um instante, suspirando. Sim, ela deveria estar fazendo as fotos de capa da ThaiMagazine, uma das maiores revistas de Bangkok. O casal escolhido eram modelos da agência de Aoom e quando o acordo foi assinado, parecia perfeito. Aoom até havia comprado um vinho importado para beberem quando tudo terminasse, planejando uma comemoração em seu apartamento.

Era um grande acordo comercial, benéfico para as duas, mas Engfa não pensou em nada disso há algumas horas atrás, quando convidou Charlotte para passar a tarde no distrito de Thanyaburi.

"Aoom, posso te explicar depois?" Engfa olhou ao redor, para as pessoas na fila, ninguém prestava atenção em sua conversa, mais ainda assim ela não queria falar nada ali.

"Engfa Waraha!" Aoom gritou do outro lado. Engfa afastou o celular do ouvido por um instante, começando a se frustrar. "Explique agora! Como você simplesmente desaparece assim? É a capa da ThaiMagazine!"

"Estou com Charlotte e Malee, Aoom. Explico depois."

Houve uma pausa na linha, e Engfa pensou que Aoom havia desligado. Mas então a mulher voltou a falar, seu tom agora bem mais leve, quase risonho, provocador.

"Charlotte? Sua vizinha pela qual você se sente atraída? A gostosa da porta ao lado?"

Engfa segurou o celular com força na mão, irritação florescendo em seu peito. Ela não gostou da forma que Aoom havia falado de Charlotte, nem um pouco. Claro, ela havia dito a Aoom que estava atraída por Charlotte depois do episódio dos cookies, numa tentativa fracassada de convencer a si mesma. Mas ela não havia usado a palavra gostosa em nenhum momento. Charlotte merecia respeito.

"Aoom, nunca mais fale de Charlotte dessa forma, você escutou?" Sua voz subiu um pouco, o que fez as outras pessoas na fila a olharem. Ela não deu atenção.

"Nossa, Engfa, só estava brincando." O tom de Aoom era mais sério agora.

"Não brinque com o nome dela."

"Desculpe, tudo bem? Foi uma fala infeliz. Sinto muito." Aoom estava claramente constrangida. Ela não costumava levar sermão de Engfa, e quando acontecia, ficava envergonhada. Engfa era um ano mais velha que Aoom, mas elas tratavam uma a outra informalmente a maior parte do tempo já que estudaram e moraram juntas por anos.

Engfa suspirou mais uma vez e deu alguns passos para frente conforme a fila andou. "Sinto muito por não comparecer hoje, explico quando voltar."

"Engfa, você assinou os papéis. A multa por quebra de contrato é de cinquenta mil baths."

"Eu vou pagar."

Aoom protestou do outro lado da linha. "Quem eu vou colocar no seu lugar?"

"Coloque Mew."

Aoom grunhiu. "Você sabe que eu detesto o cara."

"Então o demita!" Engfa também não era fã do homem, mas Aoom realmente o desprezava.

"Engfa!"

"Aoom, eu te devo uma, tudo bem? Tenho que ir." Sem esperar, Engfa desligou.

Ela olhou para onde Charlotte e Malee estavam e quando a garotinha lhe deu um aceno, a irritação passou imediatamente e ela se pegou acenando de volta, um sorriso em seu rosto. Ela deixaria de lado as palavras de Aoom e focaria no dia que tinha pela frente.

Engfa logo descobriu que Malee era destemida, a menina tinha interesse nas atrações para crianças mais velhas, sempre correndo para placa de madeira que indicava a altura mínima para verificar se poderia brincar ou não. (Ela ainda não havia ido em nenhum brinquedo, não preenchendo o requisito.)

Foi quando ela se deparou com um grande carrossel. Contando com figuras de cavalos, leões e até mesmo unicórnios esculpidos com cores vibrantes, a atração chamava atenção. Malee não precisou verificar sua estatura para saber que poderia ir. A menina segurou a mão da mãe e de Engfa e disparou até o brinquedo, as forçando a correr também.

"Vamos na carruagem, é perfeita!" Malee decidiu quando entrou na fila.

Engfa, que estava prestes a se afastar para deixar as duas irem no brinquedo, teve suas pernas agarradas de repente. "Vizinha, onde vai?"

"Vou esperar por vocês aqui."

Malee negou. "Você vai com a gente no carrossel, vizinha."

Engfa trocou olhares com Charlotte, que estava quieta durante todo esse tempo. Ela não havia planejado ir em brinquedo nenhum. Na verdade, Engfa não havia planejado nada. Desde o começo, desde que Charlotte e Malee entraram em sua vida, ou mais precisamente ela entrou em suas vidas, Engfa agia por impulso toda vez. Motivada apenas pela necessidade urgente de mantê-las bem.

"A carruagem é espaçosa o suficiente para três, Engfa." Charlotte falou com sua voz suave. "Venha conosco."

Engfa percebeu que não resistia a nada que nenhuma das duas falavam, e em alguns minutos lá estavam elas na carruagem de madeira.

Ela olhou ao redor, observando as crianças com seus pais, animadas e sorrindo. Ela olhou para si mesma, para Charlotte e para a pequena garota que estava no meio das duas. Elas pareciam uma família também.

O pensamento a deixou com vertigem, sua imaginação correndo solta. Ela se perguntou se Charlotte estava confortável com aquela situação, se ela não tinha pensado que elas pareciam uma família também, se aquilo não a deixava inquieta.

Engfa deixou o pensamento de lado quando uma música clássica infantil começou a tocar e o carrossel começou a girar lentamente, as crianças gritando em uníssono com emoção.

Malee estava com um sorriso grande no rosto, seus pequenos pés que não alcançavam o chão balançando com animação. Engfa desviou o olhar para Charlotte apenas para descobrir que Charlotte já estava a olhando, algo indecifrável em seu olhar. Engfa sorriu e quando Charlotte retribuiu, ela pensou que pagaria quantas multas fossem necessárias para ver aquele sorriso.

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