Saving us

Uma promessa

Quando Malee parou de rir e sua respiração ficou constante, foi quando Engfa soube que a menina havia adormecido. Ela ajustou a criança no seu colo, apoiando seu pequeno corpo de forma que ficasse o mais confortável possível e não acordasse. Engfa olhou para o rosto da menina, e não pode deixar de se surpreender em quanto Malee era linda. Suas sobrancelhas cheias e levemente arqueadas, seu nariz fino e sua pequena boquinha faziam com que seu rosto fosse completamente harmônico. Ela poderia ser uma modelo infantil, ou alguma atriz mirim. Engfa riu pensando em Malee atuando, ela certamente conquistaria todo o país com sua beleza e carisma.

Ela desviou o olhar para Charlotte, que ainda prestava atenção no filme, o rosto iluminado pela luz da televisão. Engfa não fazia ideia de como era o pai de Malee, mas tinha absoluta certeza de que a menina havia puxado toda a beleza da mãe. Sendo completamente honesta consigo mesma, Charlotte Austin era a mulher mais linda que já havia visto. De alma também. Embora a mulher tão jovem tivesse visto o lado feio da vida muitas vezes, ela ainda carregava ingenuidade no olhar, uma pureza que era intrínseca, que nem toda a maldade do mundo poderia arrancar.

Engfa apertou Malee em seu colo ao mesmo tempo que colocou um pouco mais de pressão na mão que segurava a cintura de Charlotte. Ela havia feito isso muitas vezes ao longo do filme, quase involuntariamente, como se para ter certeza de que Charlotte e Malee estavam realmente ali com ela, sentadas no sofá de sua sala, assistindo um filme. Embora o começo do dia tivesse sido preenchido com preocupação visível e ela tivesse tido um pequeno descontrole emocional, depois que Charlotte acordou melhor, tudo pareceu perfeito para ela, mesmo que ela não fosse muito boa nisso de cuidar.

O ato de cuidar nunca havia sido da natureza de Engfa, a mulher não havia sido ensinada a fazer isso, assim como tantas outras coisas. Claro, quando ela conheceu Aoom, ela soube pela primeira vez o que era ser cuidada, e aprendeu um pouco como cuidar também, embora tivesse dificuldades. Aoom era a pessoa que perguntava se ela estava bem, que sempre notava quando algo estava errado, que a fazia rir e primeira e única para qual Engfa já havia chorado. Mas mesmo aquela amizade tão significativa não era o mesmo que ela sentia por Charlotte e Malee.

Desde que conheceu Charlotte e Malee, tudo havia mudado. Suas atitudes eram tomadas baseadas em sentimentos que ela nem entendia, o único objetivo de proporcionar bem-estar para as duas. Com Charlotte e Malee, havia aquela sensação de pertencimento que ela nunca havia experenciado, algo que ela nunca havia encontrado em nenhuma das rasas relações que teve.

Quando os créditos subiram na tela, o ambiente ficando ligeiramente mais escuro, Engfa Waraha sentiu seu coração acelerar dentro do peito, uma sensação de desespero a tomando. O filme havia acabado, marcando o encerramento do dia, assim como o vislumbre de uma vida que ela sonhava em construir. Charlotte se virou no sofá, fazendo a mão de Engfa sair de sua cintura, a mulher mais velha imediatamente sentindo falta do contato.

Ela olhou para Engfa com um sorriso gentil e cansado. "Muito obrigada, de coração, por ter cuidado de mim e de Malee hoje, P'Fa." A mulher falou com a voz baixa, talvez com receio de acordar Malee. "Eu acho que nunca vou conseguir retribuir."

Não é como se ela precisasse retribuir de alguma forma, Engfa pensou. Ou talvez, ela pudesse retribuir focando em ficar saudável, em cuidar bem de si mesma, em não ficar doente outra vez. Porque por mais que Engfa gostasse de cuidar dela, era terrivelmente ruim ver a mulher tão frágil e abatida.

A mulher continuou, suas palavras fazendo o coração de Engfa afundar. "Já abusamos demais da sua boa vontade. Acho que é hora de irmos para casa."

Casa. O apartamento ao lado do seu. O lugar onde Charlotte havia sofrido tanto, que guardava as marcas da violência, do medo e da dor. O lugar onde ela sabia que Charlotte e Malee não estavam seguras. O lugar para onde Heidi eventualmente voltaria.