Entre olhares e perigos.

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O bar parecia um mundo distante de tudo o que ela conhecia. As luzes fracas, o som abafado de conversas e o cheiro forte de cigarro lhe causavam uma sensação desconfortável, mas era exatamente o que ela queria. Algo diferente, longe de sua realidade, longe das expectativas e da pressão que a sufocava. Sem trocar palavras com o barman, Sara se sentou no balcão, onde o vidro frio do copo recém-servido trouxe uma estranha sensação de calma. Aqui, ninguém a conhecia. Ninguém esperava nada dela.

Enquanto girava o copo nas mãos, perdeu-se em seus próprios pensamentos, tentando afastar as preocupações que a seguiam até aquele lugar. O peso de sua vida parecia estar se acumulando, e ela precisava de um momento de fuga. Seus olhos vagavam pelo bar, buscando qualquer coisa que a distraísse de si mesma. E foi aí que o viu.

Ele estava sentado no canto oposto, meio escondido pelas sombras. O tipo de homem que, mesmo em silêncio, dominava o ambiente. Quando seus olhares se cruzaram, a intensidade dele fez um frio percorrer sua espinha. Era como se, por um segundo, o tempo no bar tivesse parado. Havia algo naquele homem que não era como os outros. Algo escuro e calculado que a atraía.

“Não seja ridícula,” pensou, virando-se para o balcão e tomando um gole rápido de sua bebida, o líquido queimando sua garganta. Mas a sensação persistia. Ele ainda a observava, e ela podia sentir.

Antes que pudesse processar o que aquilo significava, um barulho alto irrompeu ao seu lado. Dois homens começaram a brigar, empurrando mesas e cadeiras no processo. Ela se levantou instintivamente, o coração disparado, tentando se afastar do caos, mas o espaço era apertado. Sentiu o choque de corpos ao seu redor, pessoas tentando fugir da confusão, mas ela estava presa.

“Droga!”, murmurou, olhando ao redor em busca de uma saída. Quando estava prestes a fazer um movimento brusco, uma mão firme segurou seu braço. Ela virou-se com um sobressalto, pronta para reagir, mas parou assim que seus olhos encontraram os dele.

Era o homem do outro lado do bar. Seus olhos penetrantes estavam fixos nela, mas o toque em seu braço não era agressivo. Pelo contrário, havia uma calma fria em sua postura, como se o caos ao redor não o afetasse em nada. Ele puxou-a levemente para mais perto, longe da briga que se intensificava.

— Fica perto de mim — sua voz era baixa, mas carregava uma autoridade inquestionável.

Ela hesitou por um segundo, sem saber se devia confiar nele, mas a confusão e o pânico ao redor a fizeram decidir rápido. Algo naquele homem transmitia segurança, mesmo que houvesse uma aura de perigo evidente. Assim, ficou perto, o coração ainda acelerado, enquanto ele observava a cena à frente com uma tranquilidade perturbadora.

Um dos homens foi jogado contra a parede ao lado deles, mas o estranho sequer piscou. Ele fez um gesto sutil com a cabeça para o segurança do bar, que imediatamente começou a agir, dispersando os brigões. Em questão de minutos, o ambiente começou a voltar ao normal. O barulho das conversas retornou, e as pessoas aos poucos voltaram para suas mesas, como se nada tivesse acontecido.

Ainda tentando processar o que acabara de ocorrer, o homem finalmente soltou seu braço. Mas o impacto daquele toque permaneceu gravado nela. Ele deu um passo para trás, pronto para sair, e por um instante, ela pensou em perguntar seu nome, em dizer algo, mas as palavras ficaram presas na garganta.

Ele olhou para ela mais uma vez, aquele mesmo olhar que a havia prendido no início da noite. Então, sem uma palavra, se virou e foi em direção à porta. Ela o observou sair, o coração batendo forte, sem entender por que sentia um misto de alívio e curiosidade intensa.

Quem era ele? E por que ela sentia que esse encontro não seria o último?

Sara ficou ali por mais alguns minutos, incapaz de se mover. Uma parte dela queria ir atrás dele, descobrir quem era aquele homem que, em poucos minutos, havia transformado sua noite em algo que jamais esperava. Mas outra parte a impedia. Algo lhe dizia que, se ela seguisse aquele caminho, não haveria volta.

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