Coragem à Altura.

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Depois de tentar várias vezes alguma coisa pra trancar a porta e nada, depois de procurar a chave que ficava em seu quarto e não achar. Sara estava tentando pensar em mais alguma coisa, qualquer coisa, menos chamar Wilbert para ir até sua casa, era arriscado demais.


Sentada perto da porta da sacada, sara escuta o barulho do motor do carro do seu pai sendo legado. Rapidamente ela corre para sacada, e vê seu pai saindo com o carro. Ele a deixou sozinha, trancada em casa.



Quando sara olha para o lado ela percebe que a sacada do quarto de hóspedes, que fica ao lado do seu quarto está aberta. Ela poderia andar pelo para peito da sacada do seu quarto até a sacada do quarto de hóspedes e fugir de casa. Só teria um único problema, sara tem medo de altura.



Depois de inúmeras tentativas frustradas de abrir a porta, Sara sentiu o desespero crescendo. Ela forçava a maçaneta, jogava o peso contra a madeira, mas nada parecia surtir efeito. A chave que costumava ficar em seu quarto também havia desaparecido, provavelmente obra do próprio pai, que fizera questão de cercá-la por todos os lados. Seu coração pulsava com um misto de raiva e frustração; ela precisava de uma solução e, ao mesmo tempo, sabia que chamar Wilbert para vir até sua casa era arriscado demais. Não podia colocar a segurança dele em jogo.



Enquanto tentava recuperar o fôlego, sentada próximo à porta da sacada, o som de um motor a fez erguer a cabeça de repente. Ela reconheceu o som do carro do pai sendo ligado, e logo se levantou, espiando pela sacada. Com os olhos atentos, viu o carro dele deixando a garagem e desaparecendo pelo portão da frente. Ele realmente a deixara trancada e sozinha.



O ar fresco da noite a atingiu, e ela inspirou fundo, sentindo a adrenalina acelerar ainda mais. Ao virar para o lado, sua atenção se fixou na sacada do quarto de hóspedes, logo ao lado do seu. A porta do quarto estava aberta, a sacada desocupada. Uma ideia audaciosa surgiu: ela poderia caminhar pelo parapeito da sua sacada até a do quarto de hóspedes e sair de casa por lá.



Porém, havia um único obstáculo entre ela e a liberdade: o pavor de alturas. Olhando para o estreito parapeito e para a altura que a separava do chão, ela sentiu o estômago se revirar. Suas mãos tremiam só de imaginar atravessar aquele pequeno espaço. Um passo em falso, e poderia acabar se machucando gravemente.



Sara respirou fundo, tentando acalmar o próprio medo. "Não posso deixar que ele me controle, não mais. Se eu ficar aqui, ele vai me prender para sempre." As palavras ecoavam em sua mente, cada vez mais intensas. Aquela era sua chance de escapar, e ela precisava superar o pavor que sentia. Voltou até o quarto e pegou a mochila que estava em cima da cama.



Com as mãos ainda trêmulas, ela foi até a borda da sacada e colocou um pé no parapeito. O vento gelado da noite pareceu aumentar o frio em sua espinha, e ela fechou os olhos por um segundo, tentando encontrar a coragem necessária para prosseguir. Apoiando-se com firmeza na parede, deu o primeiro passo.




O parapeito estreito sob seus pés parecia instável, cada movimento fazia seu coração martelar no peito, mas ela seguiu, passo a passo, tentando manter o equilíbrio. "Eu consigo… só mais um pouco", pensava, os olhos fixos na sacada à frente, lutando contra a vertigem que ameaçava dominá-la.




Quando finalmente alcançou a sacada do quarto de hóspedes, um alívio intenso a preencheu. Ela rapidamente saltou para o outro lado, com as pernas ainda bambas pela adrenalina. Sem perder tempo, entrou no quarto e desceu silenciosamente até o andar de baixo, tentando evitar qualquer ruído que pudesse alertar alguém.



Chegando ao térreo, apertou a alça da mochila com firmeza. Ao passar pela porta da frente, o ar da liberdade finalmente encheu seus pulmões. Ela estava livre, ao menos por agora. Sem olhar para trás, Sara se apressou para encontrar Wilbert no Dendê, determinada a deixar tudo aquilo para trás.







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Sara caminhava pelas ruas com o coração acelerado e passos apressados, a cada esquina lançando olhares rápidos por cima do ombro, com medo de ver o carro do pai surgir a qualquer momento. Cada ruela parecia um labirinto de tensão até que, finalmente, ela alcançou a entrada do Dendê. Ali, Wilbert já a esperava, a expressão tensa suavizando ao vê-la.



Sem hesitar, ele se aproximou e a envolveu num abraço firme, como se pudesse protegê-la do mundo inteiro. Sara sentiu as lágrimas virem com força, deixando que o medo e o alívio escorressem livremente. Wilbert a apertou mais, acariciando seu cabelo e sussurrando baixinho.



— Tá tudo bem. — Sua voz saía num tom reconfortante, mas Sara notou o tremor na voz dele. — Vai ficar tudo bem, amor. Eu tô com você.



Ela se afastou um pouco para olhar nos olhos dele, enxugando o rosto com pressa, como se quisesse recuperar alguma força. Wilbert segurou seu rosto entre as mãos e a observou com cuidado.


— A gente precisa resolver isso, Wilbert. Meu pai não vai parar até nos separar — Ela olhou ao redor, ainda desconfiada, baixando a voz. — Precisamos contar ao Evandro, agora.



Wilbert assentiu, percebendo a seriedade na voz de Sara. Ele segurou sua mão, guiando-a morro acima até chegarem na contenção, onde Evandro costumava estar a essa hora, discutindo assuntos do tráfico e garantindo a segurança do território. Quando chegaram, avistaram Evandro em uma conversa com alguns homens, mas ele logo notou a presença deles e dispensou os demais, caminhando até o casal.



— Qual foi Wilbert? — perguntou Evandro, os olhos passando de Wilbert para Sara, avaliando a tensão no rosto de ambos.



Sara respirou fundo, sentindo a mão de Wilbert apertar a sua. Ela sabia que precisava ser direta, mas a revelação não seria fácil.


— O Morelo e o senador Fontes sabem do carregamento. — Diz Sara olhando para Evandro. — Eles sabem que vocês vão descarregar a carga e sabem que você vai pro Bolívia.

Impuros - Nossa Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora