O almoço.

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Sara sentiu o coração disparar assim que seus olhos encontraram os de Wilbert. Encostado casualmente na parede do bar, ele a observava com um olhar enigmático, como se enxergasse além da superfície, penetrando em segredos que ela preferia esconder. Sem hesitar, caminhou até ele, enquanto Pedro e Camila, ainda confusos, se afastavam em silêncio.

— Não pensei que te veria por aqui tão cedo — disse Wilbert, a voz grave e rouca, carregada de um interesse palpável. — Mas confesso que estou feliz em te ver.

Sara tentou conter o nervosismo que crescia em seu peito e esboçou um sorriso tímido.

— Eu... bem, precisava sair um pouco da rotina. — sabe como é.

Wilbert inclinou a cabeça levemente, como se compreendesse o que ela quis dizer, mesmo que houvesse mais por trás de suas palavras do que o simples óbvio. Ele deu uma rápida olhada ao redor e, de forma descontraída, apontou para o bar ao lado.

— Tô no meu horário de almoço. Já almoçou, princesa? — perguntou ele, verificando o relógio de ouro no pulso.

Sara riu suavemente, sentindo uma leveza que há muito não experimentava. Algo em Wilbert a fazia baixar a guarda, como se por alguns momentos ela pudesse esquecer os pesos que carregava.

— Está me convidando para um encontro, Wilbert? — brincou ela, sem perder o sorriso. — Não, ainda não almocei.

— Sim, estou. — A resposta foi direta e desarmante. — Então, vamos?

Ela assentiu, e juntos caminharam até uma das mesas simples do bar. O lugar tinha mesas de plástico e cadeiras desgastadas, mas o aroma de comida caseira que emanava da cozinha era reconfortante, evocando uma sensação de familiaridade.

Enquanto se acomodava, Sara percebeu a presença de homens armados ao redor, algo que não havia notado na primeira vez. Diferente da boca de fumo, agora havia mais homens. Eles estavam espalhados pelo bar, com armas visíveis, fuzis pendurados relaxadamente no pescoço.  Wilbert também estava, Ele tinha um fuzil pendurado no pescoço , assim como ou outros homens. Ela hesitou, o nervosismo voltando, mas Wilbert logo a tranquilizou.

— Fica tranquila, princesa. — A voz dele era firme, mas suave. — Eles não vão fazer nada com você. Estão só fazendo o trabalho deles.

Ainda um pouco apreensiva, Sara se sentou na cadeira de frente para Wilbert, tentando disfarçar o desconforto que sentia. Ele parecia perceber, mas decidiu manter o tom leve.

— Sei que não é uma refeição chique como uma lagosta, mas te garanto que a comida daqui é boa de verdade. — Ele sorriu, mostrando confiança na simplicidade do lugar.

— Para ser honesta, nunca fui muito fã de lagosta — disse Sara, agora mais relaxada, com um sorriso sincero.

Wilbert continuou a olhá-la com aquela intensidade característica, como se visse além das palavras. Ele assobio em direção a cozinha do bar, quando a mulher olhando para ele, Wilbert fez o pedido do prato do dia para ambos, enquanto o clima de tranquilidade começava a se instaurar entre eles.

— Você realmente não parece o tipo de pessoa que frequentaria esse lugar — comentou ele. — Mas, ao mesmo tempo, tenho a sensação de que você não é quem imaginei na primeira vez que nos encontramos.

Sara mordeu o lábio, refletindo. Ele estava certo. Até ela mesma já não sabia quem era.

— Talvez eu também não saiba mais quem eu sou — admitiu, desviando o olhar para o copo à sua frente. — As coisas mudaram rápido demais, e eu estou tentando acompanhar.

Wilbert permaneceu em silêncio por um instante, observando-a, antes de perguntar em um tom mais suave.

— E o que te trouxe aqui, de verdade? — Sou todo ouvidos.

Sara suspirou, sentindo uma necessidade inexplicável de se abrir.

— Digamos que as coisas em casa não estão bem. — Ela fez uma pausa, olhando para o movimento do bar. — E meu pai... é um egocêntrico. Ele só se importa consigo mesmo.

Wilbert captou o desconforto dela e decidiu mudar de assunto.

— Não vamos falar sobre ele, então. — Ele sorriu levemente. — Me conta sobre você . As pessoas que estavam com você, Amigos? Ou Aquela era sua amiga e seu namorado?

Pergunta Wilbert já rondando o território, querendo saber se sara era solteira ou não. Ele esperava que fosse.

— Não, são só amigos. — Sara riu, relaxando mais um pouco. — Na verdade, Pedro é meu amigo de infância. Já a Camila... bem, acho que ela só anda comigo porque que ando com o Pedro.

— Se for assim, quem perde é ela — disse Wilbert, com um sorriso confiante. — Tenho certeza de que você é uma pessoa incrível.

— Obrigada — respondeu Sara, surpresa pela gentileza. — Eu faço medicina, mas não recomendo. Está sendo um pesadelo.

Wilbert arqueou uma sobrancelha, intrigado.

— Não gosta de medicina? Então por que não faz outra coisa?

— Não é tão simples. Meu pai escolheu meu curso. Se eu desistir, ele provavelmente me deserdaria.

Wilbert balançou a cabeça, parecendo entender a complexidade da situação, e logo um homem trouxe os pratos. Wilbert serviu Sara com um sorriso.

— Não é lagosta, mas a moqueca de peixe daqui é famosa. —  Vai por mim.

— Parece ótimo — disse Sara, pegando o garfo. Ao dar a primeira garfada, o sabor reconfortante e os temperos frescos a surpreenderam.

— Isso está delicioso — admitiu, impressionada. — Mas agora me conta sobre você. Também quero te conhecer melhor.

Wilbert sorriu, surpreso e animado pelo interesse dela.

Impuros - Nossa Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora