Momento de paz.

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Sara sentiu o coração apertar ao encarar a realidade de sua revelação. Sabia que isso poderia criar uma distância entre eles, mas precisava ser honesta desde o começo.

— Eu sei que meu pai tem uma visão muito diferente da sua — disse ela, com um olhar sério. — E isso pode complicar as coisas entre nós. Mas, Wilbert, eu não sou como ele. Nunca concordei com a maneira que ele lida com essas situações, e é por isso que me afastei da política e da imagem pública dele.


Wilbert a olhou nos olhos, sua expressão suavizando. Ele apertou a mão dela, fazendo com que um calor reconfortante se espalhasse por seu corpo.


— Eu entendo, princesa — ele disse, com um tom de sinceridade que fez o coração de Sara bater mais forte. — E eu confio em você. Sei que você não é igual a ele. Só estou tentando entender como vamos lidar com isso. O governador é praticamente o inimigo número um aqui no morro.


Sara suspirou, sabendo que Wilbert estava certo. A imagem de seu pai como o grande defensor da lei e da ordem tornava essa situação ainda mais complicada. Ela olhou para o jornal, com a foto do pai estampada em destaque, e sentiu um nó na garganta.


— Eu odeio tudo isso — disse ela, frustrada. — Odeio essa vida de fachada, de rótulos. Odeio ser associada a alguém que eu mal reconheço como meu pai.


Wilbert a puxou suavemente para si, envolvendo-a com seus braços firmes. O toque dele a fez sentir-se segura, como se, naquele momento, todas as incertezas do mundo pudessem ser enfrentadas juntas.


— Ei, não precisa se sentir assim — ele disse, acariciando seus cabelos com um carinho que a fazia se sentir protegida. — Você é sua própria pessoa, Sara. E é isso que importa pra mim.


Por um instante, Sara se permitiu relaxar nos braços de Wilbert. Ele a fazia sentir-se tão viva, tão presente, e o peso de tudo o que ela estava carregando parecia diminuir um pouco ao estar com ele.


— Eu só não quero que isso complique mais as coisas entre nós — disse ela, com a voz um pouco abafada contra o peito dele.


Wilbert a afastou ligeiramente, apenas o suficiente para olhar em seus olhos. Ele tinha uma determinação que a fazia sentir-se esperançosa.


— Vamos enfrentar o que vier, juntos — disse ele, com firmeza. — Eu te prometi que não vou te decepcionar, e vou manter essa promessa. Se a gente quiser fazer isso funcionar, a gente faz.


Sara sorriu, sentindo uma onda de alívio. Talvez não fosse fácil, mas com Wilbert ao seu lado, ela acreditava que poderiam superar qualquer obstáculo.


— Eu acredito em você — ela disse, com convicção.


Wilbert sorriu de volta, inclinando-se para beijá-la novamente, desta vez de forma mais profunda e intensa. O beijo era cheio de promessas não ditas, de uma conexão que ia além das palavras, uma troca que parecia selar um pacto silencioso entre eles.


Após alguns segundos, eles se separaram, ambos sorrindo, o mundo exterior parecendo distante.


— E agora, o que você vai fazer? — perguntou Wilbert, voltando ao tom leve, tentando quebrar o clima tenso que se instaurava entre eles.


— Bom... — começou Sara, pensativa. — Acho que primeiro, vou comer esse pão que você preparou. Não vou deixar que uma notícia do jornal estrague o café da manhã.


Wilbert riu, aliviado por ver que ela estava mais tranquila.


— Sabia que você ia voltar pro pão — ele disse, com um brilho divertido nos olhos. — Só toma cuidado, que eu sei que minha cozinha é irresistível.


— Ah, é? — brincou Sara. — Vamos ver se sua cozinha consegue competir com o caos da minha vida.


Os dois riram, e por um momento, o peso do mundo externo desapareceu. Wilbert, ainda rindo, puxou Sara mais perto, e ambos se acomodaram no sofá, aproveitando a calmaria daquela manhã.


Mas, enquanto eles comiam, uma vibração interrompeu a leveza do momento. O telefone de Sara pulsou sobre a mesa, e ela olhou para a tela, vendo o nome de Pedro.



— Deixa tocar — disse Sara com uma voz manhosa, não querendo falar com ninguém agora, nem Pedro nem seu pai.


Wilbert arqueou uma sobrancelha, desafiador.

— Se quiser, a gente atende, manda todo mundo se fuder e continua assim, o tempo que você quiser.


Sara sorriu, sentindo um alívio. A ideia de ignorar o mundo lá fora parecia cada vez mais atraente. A conexão com Wilbert era tão intensa que, por um momento, o resto parecia irrelevante.


— Você tem razão. Vamos focar no que importa — respondeu ela, segurando a mão dele e olhando nos olhos dele. — A vida pode esperar.


Wilbert sorriu, e os dois se perderam na tranquilidade do momento, cientes de que, embora os desafios estivessem à espreita, naquele instante eles tinham um ao outro, e isso era o suficiente.

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