Liberdade negada.

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Após a briga explosiva com o pai, Sara finalmente deixou que todas as emoções a dominassem. Trancada em seu quarto, ela desabou. As lágrimas caíam intensas, liberando o peso que carregava no peito: o controle sufocante do pai, o medo pelo que ele poderia fazer com Wilbert, e a culpa que começava a surgir pelas suas próprias decisões.


Com as mãos trêmulas, pegou o celular e discou o número de Wilbert, tentando não soar tão desesperada. Quando ele atendeu, o tom de preocupação na voz dele foi como um alívio imediato, mas ao mesmo tempo fez as lágrimas aumentarem.


— Wilbert... — ela começou, a voz trêmula e embargada. — Meu pai... ele descobriu sobre a gente.


Do outro lado, ele ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras.


— Como assim ele descobriu? — Wilbert perguntou, confuso e com um tom de alerta.


— Ele tem fotos nossas... e, ele achou o ouro branco que guardei na gaveta. Ele invadiu o meu quarto, Wilbert! Vasculhou todas as minhas coisas. Ele... ele colocou o Morelo pra me vigiar, pra seguir cada passo meu — ela disse, as palavras saindo em soluços.


— Calma, Sara, respira. Eu vou te tirar daí. — A voz de Wilbert assumiu um tom firme, determinado. — Não vou deixar ele fazer isso com você.


— Não, Wilbert, por favor — ela interrompeu, a urgência misturada com o medo de envolver ainda mais o namorado. — Se você vier aqui, ele pode fazer algo contra você... ele já tá com raiva o suficiente.


Houve um silêncio do outro lado da linha. Wilbert claramente lutava contra a vontade de ir até ela, mas, percebendo o risco, finalmente cedeu.


— Tudo bem... então faz o seguinte, me encontra no Dendê. Vou esperar você na entrada. — Ele baixou a voz, tentando acalmá-la. — Nós vamos resolver isso juntos, tá bom? Eu tô aqui.


— Tá bom... eu tô indo — ela sussurrou, respirando fundo antes de desligar.


Determinada a sair, Sara pegou uma mochila e começou a colocar documentos, roupas e o essencial. Cada peça que jogava na mochila aumentava sua sensação de alívio, o alívio de finalmente ter algum controle sobre a própria vida. Mas, ao se aproximar da porta e tentar girar a maçaneta, um choque a paralisou: a porta estava trancada por fora.


Ela tentou de novo, girando com força. Nada. Desesperada, começou a bater.


— Pai! Pai, me deixa sair! Destranca a porta agora! — a voz dela era um misto de raiva e desespero, ecoando pelo corredor.


Do outro lado, a voz fria do senador Fontes respondeu, carregada de desprezo.


— Pode bater o quanto quiser, Sara. Não vai sair desse quarto — ele disse, a voz baixa e implacável.


Sara bateu ainda mais forte, o coração pulsando de raiva.


— Você tá louco? Isso é cárcere privado! — ela gritou, o tom desafiador. — Me deixa sair!

A resposta veio seca, ríspida.

— Eu já falei, Sara. Você não vai sair daqui! — ele repetiu, sua voz carregada de uma convicção quase ameaçadora.


Ela respirou fundo, o olhar agora cheio de revolta.



— Ótimo! — Ela pegou o celular de novo e o levantou, na tentativa de ligar para a polícia. — Se é assim, eu ligo para a polícia. Vamos ver o que eles dizem sobre um pai trancando a filha em casa contra a vontade dela.



Houve um breve silêncio antes de ele rir, um som frio e irônico.



— Liga, Sara. Faz isso. — Ele riu, cada palavra dele carregada de sarcasmo. — Eu aproveito pra denunciar seu namoradinho traficante também. Vamos ver quem a polícia vai querer ouvir, a palavra de um senador ou a de uma menina rebelde que anda por aí com traficante.



Ela parou, o sangue fervendo com a ameaça explícita. Ele sabia que tinha poder, que poderia manipular a situação para ficar a seu favor, e essa confiança cínica a deixou sem palavras por um momento.



— Você é um... um hipócrita! — ela finalmente gritou, incapaz de conter o desprezo. — Você quer me proteger ou só quer me controlar? Eu sou maior de idade, você não pode me tratar assim!


Fontes se aproximou mais da porta, a sombra dele se projetando na fresta sob a porta, como uma ameaça invisível.



— Isso não é sobre controle, é sobre te salvar de você mesma — ele disse, cada palavra carregada de um julgamento cruel. — Enquanto você continuar insistindo nesse comportamento, Sara, eu vou fazer o que for necessário. E se eu tiver que trancar você aqui até entender o que é melhor, é exatamente isso que vou fazer.



Sara sentiu um arrepio de impotência misturado com raiva tomar conta dela, mas se forçou a manter a postura firme.


— Eu não vou desistir, pai. E você não vai me impedir de ser feliz. Eu vou sair daqui, e nem você nem seu poder vão me impedir disso.


A resposta foi um silêncio gélido, seguido pelo som de passos se afastando do outro lado da porta. Ela estava sozinha, mas a determinação dela era maior do que nunca. Enquanto sentia as lágrimas ainda molhando seu rosto, a única coisa em que conseguia pensar era em como encontraria um jeito de se libertar.

Impuros - Nossa Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora