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Scarlett estava na cozinha, sentada no balcão, rindo enquanto o pai, Johnny, andava de um lado para o outro, visivelmente frustrado. Ele tinha acabado de voltar de uma tentativa falha de reunir Robby e Miguel para conversar, mais uma vez.

— Sabe, pai, eu não sei se deveria rir, mas é hilário como você insiste em fazer o Robby e o Miguel se entenderem. — Scarlett riu, balançando a cabeça. — Não é como se eles fossem ficar de mãos dadas e cantando Kumbaya de repente.

Johnny parou no meio da sala, com um olhar exasperado. — Eu sei, eu sei... Mas eu estou tentando aqui! — Ele suspirou profundamente, esfregando as mãos no rosto. — Esses garotos precisam parar de agir como se fossem inimigos mortais. Já passou da hora de resolverem essa briga ridícula.

— Pai, eles brigam desde sempre. — Scarlett comentou, ainda com um sorriso nos lábios. — Quer dizer, as coisas entre eles sempre foram complicadas, mas você, de repente, parece ainda mais focado nisso nas últimas duas semanas. — Ela o olhou com curiosidade, levantando uma sobrancelha. — O que tá pegando? Por que tanta urgência em fazer esses dois virarem melhores amigos agora?

Johnny hesitou por um segundo, seu olhar desviando ligeiramente antes de ele voltar a encarar a filha. Ele abriu a boca para falar, mas nada saiu. Scarlett notou o nervosismo repentino do pai, algo raro de se ver nele. Um silêncio momentâneo se instalou, e Scarlett começou a juntar as peças.

Ela estreitou os olhos, uma ideia repentina surgindo em sua mente, algo que fazia todo o sentido agora. Um sorriso divertido se formou em seus lábios.

— Espera aí... — Scarlett começou, cruzando os braços e encarando Johnny com um olhar afiado. — Não me diga que você está todo empenhado nisso porque... a Carmen está grávida?

Johnny, que já estava visivelmente desconfortável, congelou completamente. Ele olhou para Scarlett, piscando algumas vezes como se estivesse tentando processar a pergunta. O choque no rosto dele era inconfundível.

— O quê?! — Ele finalmente conseguiu responder, a voz um pouco mais alta do que pretendia. — Como... como você sabe disso?!

Scarlett explodiu em uma risada alta, vendo a reação do pai. — Ah, eu sabia! — Ela deu um leve tapa no balcão, ainda rindo. — Faz todo o sentido agora! Você está tentando que eles se deem bem porque, bem... Nós vão ser uma família, não é?

Johnny esfregou a nuca, sem jeito. Ele parecia ter sido pego completamente de surpresa. — Olha, eu ia te contar, só... eu nem sabia como falar sobre isso. — Ele suspirou, vendo que não tinha mais como esconder. — Sim, Scari-boo. Carmen está grávida. E eu... nós achamos que seria bom se o Miguel e o Robby finalmente se entendessem, sabe? — Johnny olhou para a filha com uma mistura de preocupação e esperança nos olhos. — Eu só queria que todo mundo pudesse se dar bem. Eu quero que seja diferente do que foi comigo e o meu pai. Eu não quero que esses garotos cresçam cheios de ódio um pelo outro.

Scarlett parou de rir aos poucos, processando tudo o que o pai havia dito. Ela cruzou os braços e olhou para ele com uma expressão mais séria agora, mas ainda com um leve sorriso nos lábios.

— Pai, isso é incrível. — Ela disse, genuinamente feliz por ele. — E faz todo o sentido que você queira que o Robby e o Miguel se entendam. Mas, me escuta... — Scarlett se inclinou um pouco mais para frente, olhando diretamente nos olhos do pai. — Talvez você esteja tentando controlar demais essa situação.

Johnny franziu a testa, confuso. — O que você quer dizer?

Scarlett suspirou, escolhendo bem suas palavras. — Olha, eu entendo que você quer que tudo seja perfeito e que todos se deem bem, especialmente agora que vocês estão formando uma família e todos nós iremos ter que conviver juntos. Mas o Miguel e o Robby têm muito mais para resolver entre si do que só uma conversa vai dar conta.

Johnny ficou em silêncio, ouvindo atentamente o que a filha dizia.

— Você sabe como eles são. — Scarlett continuou. — Eles começaram a resolver as coisas com os punhos, pai. Tudo entre eles começou assim, com uma luta. Talvez a única maneira de realmente terminarem essa história seja... bem, do jeito que começou. Com uma luta.

Johnny pareceu chocado com a ideia, mas Scarlett já podia ver que ele estava considerando. Ela sabia que seu pai entendia mais do que ninguém o quanto resolver uma briga na base da luta podia, às vezes, ser a melhor maneira de tirar toda a raiva que estava reprimida.

— Você quer dizer... que eu devo deixá-los lutar? — Johnny perguntou, ainda um pouco hesitante.

— Exatamente. — Scarlett respondeu com convicção. — Eles precisam tirar tudo pra fora. Toda essa frustração, toda essa raiva que um tem do outro. E a única maneira que eles sabem fazer isso, pelo visto, é lutando. Depois disso, talvez, só talvez, eles consigam finalmente conversar e resolver as coisas de verdade. Mas você precisa deixar eles fazerem isso do jeito deles.

Johnny ficou parado, refletindo sobre o que Scarlett havia dito. Ela podia ver o conflito nos olhos dele. Parte dele queria continuar tentando apaziguar a situação da maneira "certa", conversando e fazendo as pazes. Mas outra parte dele sabia que Scarlett estava certa. Talvez essa fosse a única maneira de resolver tudo.

— Então... eu devo só deixá-los lutar? — Johnny repetiu, ainda absorvendo a ideia.

— Sim. — Scarlett assentiu. — E, depois que eles terminarem, você pode intervir e ajudá-los a entender que isso não precisa ser o futuro deles. Que eles podem ser melhores do que isso. Mas, primeiro, eles têm que esgotar essa raiva.

Johnny finalmente relaxou um pouco, soltando um suspiro pesado.

— Certo... talvez você tenha razão. — Ele admitiu, embora ainda parecesse um pouco desconfortável com a ideia. — Eu só... quero que todos nós sejamos uma família de verdade, sabe? Um grupo que realmente se dá bem.

Scarlett sorriu, aproximando-se e dando um abraço no pai.

— Nós seremos, pai. — Ela disse com carinho. — Mas primeiro, esses dois cabeças-duras precisam tirar isso do peito. Depois, quem sabe, tudo se ajeita. E, se não der certo, aí você pode tentar de novo com suas "táticas de união".

Johnny riu baixinho, abraçando Scarlett de volta.

— Obrigado, filha. — Ele disse, finalmente parecendo aliviado. — Vamos ver se essa ideia maluca funciona.

— Vai funcionar. — Scarlett garantiu, confiante. — Confia em mim.

Eles ficaram em silêncio por alguns momentos, apenas aproveitando o momento de cumplicidade entre pai e filha. Scarlett sabia que essa seria uma nova fase na vida de Johnny, e ela estava feliz por ele, mas também sabia que o caminho para a paz entre Miguel e Robby ainda seria cheio de obstáculos.

Mas, se alguém podia ajudar a guiar esses dois idiotas para uma resolução, era Johnny Lawrence. Mesmo que fosse com alguns socos envolvidos no caminho.

Sangue de Cobra, Alma de GuerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora