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UNS MESES DEPOIS

Era raro termos um dia só para nós três. Eu, Robby e Miguel éramos quase sempre interrompidos por algo ou alguém — drama escolar, treinos de karatê, o caos de ser adolescente com problemas em dobro. Mas hoje era diferente. Papai, por algum milagre, decidiu nos dar um descanso da rotina de Karate. Então, era o dia perfeito para passarmos juntos, sem preocupações, sem treinos... só diversão.

Robby me encontrou primeiro no quintal de casa, onde eu já estava aproveitando o sol da manhã, deitada em uma espreguiçadeira com um suco de laranja na mão e óculos de sol no rosto.

— Já tá aproveitando, hein? — ele comentou com aquele sorriso de canto típico, se sentando ao meu lado.

— E claro! Alguém aqui precisa aproveitar o dia desde cedo — respondi, rindo. — Tá pronto pro dia mais épico de todos?

— Ah, com certeza. — Ele inclinou-se para trás, olhando para o céu azul. — Só espero que o Miguel não se atrase.

— Atrasar? Eu? — A voz de Miguel surgiu do portão, e quando olhei, lá estava ele, todo animado com um sorriso de quem já estava pronto para a diversão. — Tô mais do que pronto. E então, o que a gente vai fazer?

Robby e eu trocamos um olhar cúmplice, e eu respondi:

— A gente tem o dia todo. Então, que tal começarmos com uma batalha épica de video game?

Logo, estávamos todos sentados no sofá da sala, cada um com um controle na mão. O objetivo era simples: quem perdesse mais vidas no jogo, teria que pagar o almoço. Claro, isso significava que eu teria que focar o máximo possível, já que os dois tinham uma vantagem absurda em jogos de luta. Mas eu não me deixaria vencer tão facilmente.

— Scar, você vai querer desistir agora ou só quando estiver com zero vidas? — provocou Miguel, concentrado no jogo.

— Isso é o que a gente vai ver — retruquei, determinada a derrubá-los no próximo round.

E, para minha surpresa, consegui! Na verdade, a coisa toda virou uma competição ainda maior entre Robby e Miguel, enquanto eu, sorrateiramente, ia ganhando pontos. Eles estavam tão ocupados tentando se superar que nem perceberam quando eu passei na frente deles.

— O quê?! — gritou Robby, olhando para a tela quando o jogo declarou a minha vitória.

— Essa é a minha garota! — brinquei, jogando o controle no sofá e me levantando com um sorriso vitorioso.

Miguel e Robby me olharam incrédulos, e depois começaram a rir.

— Ok, você ganhou essa — Miguel admitiu, jogando as mãos para o alto.

— Mas só dessa vez — completou Robby, já se levantando.

Depois de terminarmos o campeonato de games, decidimos ir almoçar num lugar que adorávamos, uma lanchonete que servia os melhores hambúrgueres da cidade. Miguel acabou sendo o responsável pelo almoço — culpa da competição de video game —, mas ele aceitou a derrota com um sorriso.

Sentados na mesa da lanchonete, pedimos três hambúrgueres gigantes com fritas e milkshakes. Era o tipo de refeição que ninguém recusaria, especialmente depois de passar a manhã jogando como se o mundo dependesse disso.

— Sabe o que é engraçado? — disse Robby, mastigando uma batata frita. — Como a gente pode estar aqui, tranquilos, depois de tudo que rolou entre nós.

— Pois é. — Miguel concordou, pegando o milkshake. — Nunca imaginei que a gente estaria assim, de boa.

Eu sorri, observando os dois. A verdade é que foi um caminho longo até ali. Tantas brigas, ressentimentos e, claro, a nossa própria história complicada... mas, no fim das contas, estávamos juntos, rindo e aproveitando a companhia um do outro.

— A vida é cheia de surpresas — comentei, tentando soar profunda, mas logo rindo de mim mesma.— Miguelito

— Isso é verdade. — Robby riu, balançando a cabeça.

Com os estômagos cheios e o sol ainda brilhando lá fora, decidimos continuar nosso dia no parque. Era o tipo de lugar que sempre trazia boas memórias. Robby sugeriu que fôssemos ao parque de skate, e, como sempre, fiquei animada com a ideia. Eu sabia andar muito bem de skate, com várias manobras no repertório, enquanto Miguel... bem, ele não tinha exatamente o mesmo talento.

— Vamos nessa, Miguel, tá na hora de te ensinar a andar de skate de verdade — provoquei, pegando o meu com um sorriso confiante.

Robby riu enquanto olhava para Miguel, que tentava manter a calma, mesmo sabendo que o skate não era seu ponto forte.

— Boa sorte, cara — Robby brincou, enquanto pegava o skate dele. — Ela vai te dar uma aula e tanto.

Miguel me olhou um pouco desconfiado, mas logo cedeu ao sorriso.

— Tá, mas pega leve comigo, ok? Não quero acabar no hospital.

— Vou pegar leve, prometo. Mas você vai aprender umas manobras hoje, sim — garanti, já subindo no skate e mostrando alguns movimentos simples para começar.

Enquanto eu deslizava pelo parque fazendo algumas curvas e pequenas manobras, Miguel tentava me seguir, com Robby rindo ao lado, se equilibrando com facilidade.

— Relaxa, Miguel, é só prática — disse Robby, depois de ver Miguel quase perder o equilíbrio. Eu me aproximei, ajudando-o a subir de novo no skate.

— Tá vendo? O segredo é se soltar e confiar no movimento. Nada de ficar tenso. Agora vem, tenta me acompanhar — desafiei, me afastando novamente, deslizando com facilidade pelo parque.

Miguel suspirou, mas aceitou o desafio. Ele se ajeitou no skate e começou a me seguir, meio desajeitado no início, mas logo pegando o ritmo.

O fim da tarde chegou e decidimos voltar para casa, onde terminamos o dia assistindo a um filme juntos. Estávamos jogados no sofá, cercados de pipoca e cobertores, enquanto um filme de ação rodava na TV. Não que estivéssemos prestando muita atenção, claro. O cansaço do dia começava a bater, e logo eu estava encostada em Robby, com Miguel do outro lado, os três completamente exaustos, mas satisfeitos.

— Esse foi um dos melhores dias em muito tempo — comentei, quase cochilando.

— Foi mesmo — disse Miguel, bocejando.

— Precisamos fazer isso mais vezes — concordou Robby.

E, com aquela sensação de paz, fechei os olhos, sorrindo. Não importava o que o futuro trouxesse, momentos como esses eram o que importava de verdade.

Sangue de Cobra, Alma de GuerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora