7.

33 4 2
                                    

O fim de semana chegou mais rápido do que eu esperava. Desde o convite de Daddy, eu não conseguia pensar em outra coisa além da festa na casa do Borges. Por mais que eu saiba que essa festa faria eu desobedecer meus pais eu também sabia que precisava viver aquele momento.

Como convencer meus pais, extremamente religiosos, uma festa com famosos do rap definitivamente não estava no radar deles.

Sentada na cama, olhando para o teto, eu sabia que precisava de um plano perfeito para conseguir sair de casa sem eles desconfiarem. Inventar uma desculpa sólida era a única chance de participar daquela noite sem que ficassem no meu pé.

— Deus, o que eu faço? — murmurei, suspirando.

O convite de Daddy ainda ecoava na minha cabeça e não conseguia esquecer suas últimas palavras: "Se você não aparecer, eu vou te buscar." Essa frase me deixou dividida entre o medo e a emoção.

Quando decidi mandar uma mensagem para Mari, pedindo socorro.

Liz : Amiga, preciso de ajuda URGENTE com uma desculpa pra amanhã. Não vou conseguir pensar em nada sozinha.

Mari : Relaxa, amiga! Deixa comigo. A gente vai bolar a desculpa perfeita, seus pais nem vão suspeitar de nada.

Liz : Eu estou nervosa. Eles sempre sabem quando estou escondendo algo.

Mari : Vai dar tudo certo. Vou aí agora.

Em menos de meia hora, Mari apareceu na porta de casa com aquele olhar decidido e confiante.

— Tô começando a achar que vou ter que desistir dessa festa... — disse balançando a cabeça, derrotada.

— De jeito nenhum! A gente só precisa ser criativa. Seus pais estão definindo você, né?

Fiz uma fez uma careta sem entender, e entramos em casa indo direto pro quarto.

— Eles definem, mas, sei lá, é difícil. Qualquer coisa que fuja da igreja ou de algo relacionado a Deus, eles já ficaram desconfiados — disse, mordendo os lábios.

Mari ficou pensativa por alguns segundos, depois seus olhos brilharam com uma ideia.

— Já sei! E se você disser que vai a uma vigília da igreja? As vigílias são longas, começam tarde e terminam só de manhã. E eles não terão coragem de te impedir de ir pra uma coisa dessas. — Mari sugeriu, com um brilho de triunfo nos olhos.

Arregalei os olhos. A ideia era ousada, mas ao mesmo tempo fazia todo sentido.

— Isso é... brilhante! — disse, começando a me animar com o plano. — Mas espera aí, onde vai ter uma vigilância? Meus pais vão querer saber qual igreja tá organizando.

— Simples, você inventa uma igreja de outra comunidade. Acha uma no Google, diz que eu sou do grupo de jovens, te convidei e que seria ótimo pra sua fé — Mari respondeu com um sorriso esperto.

— Ai, amiga, você é um gênio! — Quase saltei da cama. — Eu vou falar que é uma vigília de outra congregação aqui perto. Meus pais sempre falam que devo me enturmar mais com outros jovens de fé. Eles não vão desconfiar!

— Exatamente! Você ainda vai estar ganhando pontos com eles — Mari falou, rindo.

No entanto, continuava ainda um pouco nervosa.

— Tá, e se eles quiserem falar com essa você ou com seus pais? Meus pais são imprevisíveis quando se trata de manter o controle dessas coisas.

— Hum... aí você pode dizer que eu sou nova na igreja e que meus pais são mais reservados, não curte muito falar com pessoas que não conhecem. Jogue um pouco de "conservadorismo religioso" no meio, seus pais vão entender — Mari piscou. — E, claro, se houver alguma coisa errada, me avise que eu te cubro de alguma forma.

— Mari, eu não sei o que faria sem você! — Disse e abracei.

— Bom, agora que isso está resolvido, a gente tem que planejar como você vai sair de casa e ir pra festa sem seus pais perceberem. Se a vigília começar tarde, isso vai te dar tempo, mas é bom não arriscar. — Mari declarou-se, já cheia de energia para o próximo passo.

Senti minha confiança renovada. Passamos hora ajustando os detalhes do plano. O esquema seria simples: Eu sairia de casa usando uma roupa comportada, com a desculpa da vigília. No caminho, vou para casa de Mari para trocar a saia longa e a blusa recatada por algo mais adequado para uma festa na casa de Borges.

— E não se esqueça de tirar a maquiagem antes de voltar para casa! — Mari lembrou, rindo. — Não vai querer deixar rastros de rímel ou batom.

– Sim, claro. E vou arranjar uma desculpa pra chegar mais tarde também. Algo como "a vigília se estendeu mais do que eu esperava." — completei, imaginando os detalhes.

Mari já tinha ido embora e meus pais chegaram, durante o jantar, esperei o momento certo. Meus pais estavam falando sobre as atividades da igreja para o fim de semana, e vi a oportunidade.

— Pai, mãe... então, a Mari é de um grupo de jovens, e ela me chamou para uma vigília em sua igreja, amanhã à noite. Eu achei que seria uma boa ideia, sabe? Uma chance de conhecer novas pessoas e fortalecer minha fé — disse, tentando ser casual

Eles se entreolharam, minha mãe franziu um pouco a testa, como se estivesse ponderando.

— Que igreja é essa, filha? — Disse meu pai, curioso.

— É uma igreja da comunidade da Nova Esperança, a Mari disse que vai ser uma vigília abençoada, e ela me chamou. Achei que seria uma ótima oportunidade — expliquei.

Minha mãe franziu o cenho, ainda desconfiada.

— Mas por quanto tempo? Não poderia ser em nossa igreja? — ela disse, como eu já esperava.

— Ah, mãe, sabe como é... às vezes é bom sair um pouco do mesmo lugar, ouvir outras histórias e outras experiências. E como a Mari vai comigo, a gente vai voltar juntas, sem perigo, e a senhora sabe como são vigílias começam tarde e vai até de manhã — Insisti, torcendo para que a desculpa fosse convincente.

Houve mais um momento de silêncio, até que finalmente meu pai deu um suspiro.

— Tudo bem, Liz. Mas volta cedo, você entendeu? E não deixe de vigiar, porque o inimigo está em todo lugar — ele disse com a voz séria, mas com um olhar de confiança

— Pode deixar, pai! — respondi, aliviada.

Quando finalmente subi para o quarto senti o peso da culpa, mas também a empolgação que só cresceu.

Heaven | NGC DaddyOnde histórias criam vida. Descubra agora