Capítulo: 49

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   Samanun POV


Sabe como é se sentir uma completa inútil? Não importa o que a outra pessoa diga ou faça, você não consegue se sentir útil em nada, mesmo você não tendo culpa do que aconteceu à dezoito anos atrás. Mon tinha apenas sete anos quando foi submetida a um ato de crueldade tão.....nojento e asqueroso.

Como um servo de Deus é capaz de cometer tal ato? E isso independe da idade, do sexo e principalmente, de religião. Se você é pastor, Padre, ou seja lá qual for sua crença ou seu representante, você mais do que ninguém tem que pregar o amor ao próximo, respeito. São leis essenciais, porque pode existir milhares de religiões, porém, todas elas, se diganam à um único Deus.

Então como explicar ou tentar colocar na cabeça de uma criança de apenas sete anos de idade, que um Padre, um Padre, não pode e nem tem o direito de fazer o que foi feito?

Abuso.

Contra uma garota de oito anos de idade. Oito anos de idade, não tinha como se defender, quão isso é revoltante?

Uma igreja. Um Padre. Eu nunca ouvi um relato tão doloroso em toda a minha vida.

Mon estava mais calma agora, ela teve um surto durante a noite. Eu entendo ela. Sua mente tentou se defender da melhor forma possível, ela tinha um bloqueio, ela criou um bloqueio para tentar anular a dor de ver alguém sofrer tal agressão e não poder fazer nada. Até porque era um Padre, e se ele estava fazendo aquilo, era porque era o certo, foi Deus quem mandou.

É, foi isso que ele colocou na cabeça daquela garotinha que presenciou uma cena tão suja. Deus.

Até onde um ser humano é capaz de ir? Usar Deus para justificar um crime nojento como o estupro? Usar Deus para matar milhares de pessoas?

Infelizmente.

O mundo está perdido. As pessoas dizem. Será que é o mundo mesmo? será que não são as pessoas? quando irão parar de culpar o mundo e perceber que são as pessoas que estão transformando ele em um lugar inabitável?

Eu simplesmente me sinto uma inútil, tudo isso aconteceu com alguém que eu amo, se eu ao menos tivesse conhecido ela antes. Mas sabe o que mais me deixa revoltada? O fato dos pais dela nunca terem reparado no comportamento da filha. Ela tinha sete anos. Sete anos. Obviamente ela teve uma drástica mudança no comportamento. Eu teria, presenciar uma cena de estupro e ainda ser tocada....sinto um aperto no meu peito, ele tentou contra ela também, felizmente não passou de toques.

Respirei fundo e limpei algumas lágrimas que rolavam no meu rosto, ouvir da boca dela tudo o que aconteceu, me deixou totalmente desarmada. Eu não sabia que ela havia sofrido tanto, ela demostrava ser uma mulher tão forte, e foi isso que me encantou nela, e ela é forte, porque passar por tudo isso calada, não é nada fácil. Ela cresceu com um trauma que ela não lembrava totalmente, por isso o medo de descobrir que gosta de pessoas do mesmo sexo, à tormenta até hoje.

"Eu não posso gostar de meninas."

- Eu te entendo meu amor. - sussurro acariciando seu rosto sereno enquanto dormia. Ela parecia mais calma, sua respiração estava tranquila, seu braço direito estava segurando firmimente a minha cintura, como se eu pudesse fugir a qualquer momento.

Eu nunca irei fugir, se eu não desisti de você antes, imagina agora.

Me inclino deixando um beijo casto na sua testa e à abracei apertado escutando um murmuro vindo dela. Sorrio fechando meus olhos.

- Eu te amo.


Kornkamon POV


Flashback On

Carlie tinha sumido, o Padre também. Meus pais conversavam animados com outro casal. Ontem foi o meu aniversário de sete anos e eu queria ver a menina do sorriso bonito, seria o meu presente atrasado. Olhei para meu pai e ele sorria, estava distraído, assim como minha mamãe.

Era a minha chance, a igreja ainda estava fechada, o que eu achei estranho, já tinha um monte de gente do lado de fora, inclusive os pais da Carlie.

- Oi. - a mulher loira me olhou sorrindo, era a mãe da Carlie.

- Oi querida, você viu a minha filha? Ela falou que ia falar com você.

Estranhei, eu quase não falava com ela, a gente só sorria uma pra outra. Será que ela sabe que ontem foi o meu aniversário e quer me dá parabéns atrasado?

- Não vi, eu vou atrás dela. - a mulher sorriu e eu sai correndo antes que os meus pais dessem conta da minha ausência.

A igreja era enorme, a porta principal estava fechada, mas eu sabia que tinha outra entrada, toda igreja tem, eu acho. Dei a volta na igreja e cheguei em frente a porta dos fundos. Estava apenas encostada. Dei uma olhada ao redor e não tinha ninguém olhando. Respirei fundo e abrir a porta tentando fazer o mínimo de barulho possível. Estava um pouco escuro.

Fechei a porta devagar e entrei logo, estava ansiosa pra ver ela.

Vasculhei todo o lugar, mas nada dela. Já estava desistindo quando ouvi alguém costado. Fiquei curiosa, então eu segui a direção do choro. Estava com medo, afinal, estava um pouco escuro. Mas eu sou muito curiosa.

O choro estava um pouco mais alto a medida em que eu me aproximava, até que eu cheguei perto do confessionário, onde a gente se confessa quando faz coisas ruins.

Quando eu vi.....Carlie estava chorando muito, seu rosto estava prensado contra a grade. Ela me viu.

- O que é o certo?

Escutei a voz do.....Padre?

- Meu....m-meu....c-corpo é....é de um....homem. - ela chorou ainda mais e eu funguei, ela chorava e eu chorei junto, eu só queria....eu não....

- Está vendo?

Flashback Off

- Sam?

- Eu tô aqui meu amor. - senti o abraço apertado da minha Sam e comecei a chorar. - Fica calma tá? Prometo nunca sair do seu lado.

- Eu também te amo, Sam.










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Agora deu pra entender o que aconteceu né amores, passado difícil da Mon, passado que deixou marcas. 

Ela é o Cara -- ( MonSam )  G'pOnde histórias criam vida. Descubra agora