Capítulo: 57

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     Kornkamon POV


" Esse é o problema da dor, ela precisa ser sentida "

Eu sentia que o mundo estava desabando sobre mim. Era como se alguma força sobrenatural me impedisse de respirar. Eu nunca me senti tão sufocada em toda a minha vida. Eu queria correr, mas meus pés pareciam que tinha criado raízes no chão. Sentia como se uma mão estivesse apertando meu coração de tanto que ele doía.

Era uma cena deplorável.

Ela chorava desesperadamente pedindo socorro, e eu ali, sem ao menos conseguir abrir a boca. Era algo abominável. Os dedos dela estavam roxos de tanto que ela apertava as grades. Era dor, ela estava sentindo muita dor. E eu....sou uma completa inútil. Nem pra abrir a boca.

Senti um toque no meu ombro e levantei minha cabeça me deparando com o olhar preocupado de Samanun.

- Olha nos meus olhos, Mon. - falou suavemente e tocou meu rosto me fazendo encarar suas íris castanhas. - Respira.....só...tenta respirar. Eu estou aqui com você. Eu prometo. - assenti meio grogue e respirei fundo uma, duas, três vezes, até que eu consegui voltar a respirar de forma calma.

Tentei assimilar como eu vim parar aqui. Eu estava sentada em um enorme sofá, em uma sala enorme, móveis coloridos e um monte de desenhos estranhos pendurados na parede.

- Eu te amo, Mon. - voltei minha atenção para o rosto sereno de Samanun, ela tinha um sorriso terno no rosto, o que me passava confiança de que tudo ficaria bem. - Eu estarei te esperando lá fora.

- Sam...- repousei minhas mãos sobre as suas, que ainda se encontrava no meu rosto. -....Fica...- pedi num fio de voz, ela me lançou um sorriso compreensivo e selou nossos lábios demoradamente.

- Você precisa desse momento, meu amor. - falou deixando um beijo na minha testa e se pôs de pé, só agora eu reparei que ela estava ajoelhada sobre o carpet também colorido. - Eu estarei te esperando. - ela disse tentando me passar confiança.

- Sam....eu...e-eu não estou...- tentei gesticular já que minha voz sumiu quando eu vi a pessoa que estava entrando na sala.

- Estarei te esperando. - apontou para a porta e sorriu para a mulher antes de deixar a sala.

Senti novamente a mesma dor ao ver os mesmos olhos vermelhos novamente, só que agora, já tinha como notar as marcas deixadas.

- Ela te acalma, né? - a voz da mulher saiu doce, ela tinha um sorriso no rosto, com marcas. Ela tinha marcas, em tudo. Voltei a sentir uma agonia descomunal, limpei meu rosto com a manga do casaco da Sam e de alguma forma, sentir o cheiro dela me acalmou, saber que ela estava me esperando do outro lado da porta, me fez respirar fundo. - Eu não sei como iniciar essa conversa. - confessou indo até a poltrona que ficava em frente ao sofá onde eu estava, sentando no mesmo. - São....dezoito anos...e...- ela se interrompeu puxando uma grande quantidade de ar para logo soltá-lo quase como um soluço.

- Me perdoa.... - falei em um sussurro tentando inutilmente secar meus olhos, era difícil conter as lágrimas, minha visão estava embaçada, mas eu ainda consegui vê-la negar com a cabeça enquanto passava as mãos no rosto.

- Nós....nós não tivemos culpa do que aconteceu.... - funguei vendo seus olhos brilhando devido as lágrimas.

- Eu tive....eu...eu fiz...eu fiz isso...- falei com dificuldade e ela respirou fundo mais uma vez. - Se eu não tivesse....

- Ele era um monstro, Mon. - falou um pouco alto. - Eu não fui a única, nem a primeira. Ele era um monstro que se dizia temente a Deus. Mas....não passava de um ser desprezível usando a fé das pessoas para praticar o mal sem levantar suspeitas. - ela soltou um soluço baixo e me fitou. - Ele foi assassinado, Mon. Meus pais o denunciaram logo que mudamos de cidade.

Senti minha respiração pesar, eu não fazia idéia.

- Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida, Mon. E eu não estou falando do ato em si. - franzi o cenho. - Eu estou falando da parte de contar para os meus pais. Eu tive mais nojo de mim do que dele, eu tive muita vergonha de me abrir para os meus pais. Eu não queria. - suspirou passando a mão no rosto. - Eu só contei quando eu não consegui mais segurar....meus pais estranharam o meu comportamento, eu não queria mais ir com eles para qualquer lugar que fosse, nem um beijo de boa noite eu aceitava do meu pai. Meu próprio pai. Tem noção de como é ter medo do próprio pai? - perguntou mais para si. - Foi....foi difícil, doeu mais contar pra eles do que....eu só fiquei menos pior quando fiquei sabendo que ele tinha morrido. Quando meus pais denunciaram ele, eles não imaginavam que não era a primeira vez. Ele já tinha feito outras vítimas, eu não fui a única. - falou me encarando atentamente. - Então....não me peça perdão, você foi tão vítima quanto eu.

- Mas eu....

- Hey....eu também amava o seu sorriso. - sorriu de lado e eu retribui.

- Como você conseguiu? - ela suspirou passando as mãos no cabelo.

- Eu ainda estou seguindo em frente depois de tudo, faça o mesmo. - prendeu os cabelos loiros em um coque frouxo. - Eu me formei em psicologia e ajudo crianças que foram vítimas de abuso, eu procuro mostrar pra elas que, mesmo parecendo impossível....ainda existe um propósito para que não nos deixemos abalar nossa vontade de viver. Sempre existe uma luz ou alguém pelo qual vale à pena tentar, pai, mãe, irmão, alguém que te ame tanto que faça com que você queira viver pra ela.

Sorri brincando com o zíper do casaco da Sam.

- Ela é o seu alguém, né? - voltei minha atenção pra mulher que tinha um sorriso simpático no rosto.

- Ela é o meu tudo. - sorri sentindo meu coração pular, uma sensação de conforto me invadiu e eu suspirei sentindo o cheiro de Samanun.

- Ela te ama muito. Vai por mim, você tem muita sorte, e ficar se culpando por algo que você não tinha muito o que fazer, não é saudável pra você, e muito menos pra ela. Eu aprendi que, quando você está mal e não quer se livrar disso, são essas pessoas que te amam quem mais sofrem. Pois é você que está em uma bolha protetiva, enquanto ela está tentando segurar-se para ter forças pra te trazer de volta. - suspirei e desviei meu olhar para a porta. - Você quer ser ajudada? - encarei Carlie de volta. - Eu tenho uma excelente psicóloga em Miami, ela é mais experiente e tenho certeza que vai te ajudar bastante, assim como ela me ajudou e ainda me ajuda.

Suspirei e sorri agradecida.

- Eu posso te dar um abraço? - perguntei e ela sorriu assentindo.

(...) 

Samanun ficava muito linda toda concentrada, enquanto dirigia. Ela não falou nada desde que saímos da casa da Carlie. E de certa forma, eu tenho que agradecê-la por isso, eu realmente precisava digerir o que aconteceu. Carlie parecia muito segura do que dizia, bem resolvida aliás. Sua esposa era muito bonita e muito simpática, formavam um belo casal.

Eu pude perceber o jeito que Samanun às olhava, ela parecia admirar a relação delas. Será que ela estava pensando na gente? Eu gostaria que sim, pois eu também pensei em nós duas futuramente, casadas.

Samanun é maravilhosa e eu tenho absoluta certeza, é ela.

Ela é o Cara -- ( MonSam )  G'pOnde histórias criam vida. Descubra agora