Capítulo: 42

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    Kornkamon POV


Bem-vindos ao meu funeral. Não, não é exagero. Eu simplesmente agi por impulso, por ciúmes, por medo de afundar ainda mais Samanun no meio da minha confusão familiar, minha heterossexualidade frágil. Eu cresci sobre os conceitos de uma família perfeita, pai, mãe, irmãos, uma família tradicional. Nada me abalava, minha primeira paixonite e última por uma garota, foi aos sete anos de idade, quando eu presenciei a cena de uma mulher que amava outra, ser espancada. O que passava na minha cabeça naquela época? pecado precisa ser pago, essa era uma das coisas que os meus pais me ensinaram, sempre que eu cometia algum erro.

Ser lésbica é nojento.

Sim, de tanto que eu ouvi isso dos meus pais, eu meio que levei isso pra vida, até que eu conheci a Sam. Errada duas vezes, segundo o que os meus pais sempre pregaram. Lésbica, intersexual. Seria pecado ao quadrado? talvez. Eu não sei nomear o que eu sinto por ela, ou não quero saber nomear. Seria tipo, eu sou gay. Mas....do que adianta ter medo agora? eu estou nesse exato momento, diante os olhos apavorados e incrédulos da minha amada e querida mamãe.

Eu sou gay. Simplesmente saiu. No momento em que eu percebi o interesse da minha irmã no " Samuel " e no momento em que eu percebi que se ela acreditasse que existe algo entre eu e Samuel, as coisas ficariam ainda mais complicadas pra mim.

- Que....que brincadeira é essa filha? - a voz falha da minha mãe cortou toda a linha dos meus pensamentos. Ela alternava seu olhar entre eu e Samanun.

- Eu...e-eu queria que fosse brincadeira. - balbuciei dando um passo para trás. Dona Kátia soltou um riso nervoso, meu irmão Joe, estava estático, nem se moveu.

- Eu....eu acho melhor você dizer que isso é apenas uma brincadeira Kornkamon. Eu não criei filha minha pra ficar se esfregando em outra mulher. - seu tom era de repúdio, nojo.

Parecia que tudo acontecia em câmera lenta, só pra me torturar ainda mais, sair do armário? eu realmente sou gay? Ou é só com Samanun?

- Mãe....e-e-eu...eu não sei o que....eu queria muito estar brincando, eu...só Deus sabe....

- Não fale de Deus quando você está destinada a queimar no inferno! - preferiu cada palavra sem se quer demonstrar nem um sentimento, a não ser, nojo. Senti o ar faltar e eu busquei pela mão de Samanun, eu precisava dela. - O que você me diz do beijo que eu presenciei entre você e o pastor Samuel ? isso não é uma prova de que você só está passando por uma fase ruim? será que o fato do seu relacionamento com o Nop ter chegado ao fim não tenha te afetado? Kornkamon, você ainda pode....- ela passou a mão no rosto. - Pastor....

- Samuel também é gay mãe! - falo bufando e ela arregala os olhos.

- O quê? Um membro da igreja? - seu tom agora, era de espanto. Respirei fundo e busquei a mão de Samuel, sem sucesso. - Isso é verdade pastor?

- Não. - a voz de Samanun me pegou de surpresa. Virei meu rosto na sua direção, ela me olhou com indiferença, fria. - Eu não sou gay. - repetiu encarando minha mãe.

- Samanun...o quê...- tentei me aproximar dela, mas ela desviou e foi até a minha mãe.

- Como você consegue ser tão suja ao ponto de inventar isso de um pastor Kornkamon, você bebeu?

Eu não faço idéia do que está acontecendo, eu só....nunca me senti tão desamparada em toda a minha vida. O palermo do meu irmão apenas parado, sem abrir a boca, eu nem sei onde está o meu pai, Jennie deve estar me odiando, e a pessoa que eu esperava estar segurando minha mão, estava me dando as costas, no momento que eu mais precisava dela.

- Por quê você está fazendo isso comigo? V-você prometeu. - sim, Samanun estava me virando as costas, logo ela, a causadora disso tudo.

Ela desviou os olhos dos meus e encarou o chão.

- O culto começa em cinco minutos, eu preciso ir. - sua voz forçadamente grossa chamou a atenção da dona Kátia. - Vamos? Vai ser bom vocês acompanharem o que eu tenho a dizer.

- Sim, claro. - dona Kátia falou apressadamente e me olhou uma última vez antes de acompanhar Samanun.

Cadê a garota que disse que ficaria ao meu lado?

- Lésbica? - meu irmão riu negando e se afastou.

Flashback On

- Esse almoço está uma delícia dona Kátia. - Sam sorriu me fazendo sorrir junto.

- Obrigada Samuel, eu preparei juntamente com a minha filha, né Mon?

Minha mãe falou com um sorriso de orelha a orelha, claramente me jogando pra cima " dele " eu nem cheguei perto da cozinha. Apenas acenei sem graça e voltei a comer a lasanha, prato preferido de Samanun.

- Eu queria muito que a Jennie estivesse com nosco. - minha mãe suspirou e " Samuel " prestativamente, acariciou a mão da minha mãe sobre a mesa.

- Paciência e compreensão são a chave para ter um relacionamento saudável Kátia. Sua filha só está....confusa.

- O que a sua igreja prega sobre....mulheres com....mulheres? - nojo e indiferença na voz de dona Kátia.

Samanun suspirou e me fitou intensamente.

- Independente de religião, o amor estará sempre acima de tudo. Só existe um Deus, Kátia, e ele prega o amor ao próximo. - sorriu de canto e eu me derreti toda.

- Deus criou Adão e Eva, Pastor. Desculpa discordar, mas o amor entre pessoas do mesmo sexo, é o maior pecado do ser humano.

- Julgar o amor, esse é o maior pecado dona Kátia.

Engoli a seco, não diferente do meu pai, Joe fez uma careta e se entupiu de comida. Ficou um silêncio incômodo na mesa, até que Samanun se pronunciou.

- E você Kornkamon, o que acha sobre amar outra mulher escondido?

- Absurdo, quer dizer.....é pecado né?

Samanun sorriu torto e me ignorou.

Flashback Off

Respiro fundo e com toda a coragem que me resta, caminhei em direção à igreja com um único pensamento, decepção.

Ela é o Cara -- ( MonSam )  G'pOnde histórias criam vida. Descubra agora