Eles sabem que deveriam se manter afastados, mas a atração entre eles é inegável e implacável. Erick e Três sobreviveram ao pior nas mãos do homem que destruiu suas vidas, e agora se veem presos à filha de seu algoz. Cada passo na direção dela é um...
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Caminho a passos lentos e calmos, mas o eco aqui embaixo tornando o barulho das minhas botas mais alto que o normal enquanto eu descia as escadas de pedra. O local poderia ser facilmente uma réplica de qualquer masmorra nos tempos antigos. Parede, chão e teto eram feitos de pedra, com prisões claustrofóbicas e insalubres. A prisão subterrânea dos Fontannelle foi construída por pelo menos quatro gerações anteriores da linhagem. E agora, depois de muito tempo abandonada, estava finalmente sendo muito bem aproveitada.
Da melhor forma possível, devo admitir.
Eu ainda estava com um pé atrás com essa família. Não posso negar que ainda me causa repulsa só de ouvir esse sobrenome, e depois de tudo, devem agradecer por eu estar aqui, trabalhando com eles. Porque a maioria dos exilados não querem o menor contato. E é compreensível.
Caminho pelo longo corredor, ouvindo alguns grunhidos e xingamentos de soldados franceses traidores, que foram pegos atuando para Bernard. E por falar nele…
Paro em frente a grade de ferro reforçado, o observando. Agora sim. Era ele. Não posso dizer que estava inteiro. Já não tinha boa parte dos dedos das mãos, nem dos pés. A maioria dos dentes foram arrancados e todo o seu corpo haviam hematomas de diversos níveis de gravidade. E faziam apenas o suficiente para ainda mantê-lo respirando. Porque já que ele decidiu brincar de Jesus Cristo e voltar à vida, bem, ele agora vai pagar vivo tudo que causou, todas as pessoas que machucou.
Todos queriam ter o prazer de um momento à sós com ele.
Descontar a raiva por algumas horas. E isso sim era o melhor passatempo. As vezes só vir aqui observá-lo era uma terapia. Ver o quanto agora ele não era absolutamente nada. Que agora o jogo havia virado e ele era o nosso brinquedo. Isso sim me enchia de satisfação.
Me encosto na parede, apoiando o pé direito na mesma enquanto calmamente levo um cigarro aos lábios, o acendendo e dando uma boa tragada. Ele se mexeu, dentro de suas limitações, já que estava preso na cadeira de metal. Pulsos, tornozelos, tronco e pescoço. Era assim que ele ficava o tempo inteiro. Urinando e defecando em si mesmo, como o lixo que é. Como merece ser tratado. Atrofiando lentamente até o seu último suspiro, que certamente não estava longe, mas iríamos prolongar até podermos.
Observo ele abrir os olhos, com extrema dificuldade na pequena ação, pousando seu olhar em mim, me analisando. Nossa relação era bem antiga. Não que isso seja algo bom, obviamente.
— Número Um… — Sua voz saiu arrastada e de difícil compreensão pela falta dos dentes, mas ele já estava se adaptando e aprendendo a falar sem eles.
— Erick — corrijo, mas não que eu me importe com o que ele diga. Não é como se eu esperasse redenção e um pedido de desculpas. Bernard iria ser podre até a morte. Iria continuar sendo o lixo que é até a morte. Ele nunca se arrependeria de nada. Isso já ficou mais do que claro.
