Wednesday ficou em silêncio, o olhar perdido em seu caderno de desenho, embora seu pensamento estivesse longe das linhas que havia traçado. Com um gesto discreto, ela olhou para a capa do caderno, onde a imagem de Arceus parecia observá-la, impassível e majestoso.
"Se você realmente é um Deus, pode me ajudar?", ela pensou, sem ousar pronunciar as palavras em voz alta. A ideia de pedir ajuda a uma entidade de poder tão imenso parecia quase ridícula, mas naquele momento, ela não via outra saída.
Desviando o olhar rapidamente, Wednesday espiou Enid de canto de olho. A garota estava concentrada em seus próprios materiais, os cabelos loiros caindo em ondas suaves ao redor do rosto. Havia algo de fascinante na maneira despreocupada como Enid interagia com o mundo, como se sua presença iluminasse tudo ao seu redor.
Wednesday se questionou como poderia ser tão azarada e sortuda ao mesmo tempo. Aqui estava ela, sentada ao lado da garota que tanto admirava, e ainda assim, sentia-se como se estivesse presa em uma armadilha. Por um lado, era um sonho se tornando realidade; por outro, era uma fonte de angústia. Como poderia a vida ser tão cruel e generosa ao mesmo tempo?
A sensação de vulnerabilidade crescia dentro dela, mas, por enquanto, Wednesday apenas observou Enid, permitindo-se sentir a confusão que a envolvia.
Após alguns minutos em silêncio, Wednesday decidiu que talvez fosse hora de quebrar a barreira invisível que se formara entre ela e Enid. Sem saber muito bem como começar, ela olhou para a garota ao seu lado e tentou disfarçar a ansiedade.
— Você sempre se atrasa? — perguntou, a voz saindo mais seca do que pretendia.
Enid, surpreendida, virou-se rapidamente para Wednesday, um sorriso nervoso no rosto.
— Ah, não! Na verdade, é só o meu primeiro dia, e... bem, eu perdi a noção do tempo. Eu realmente queria começar com o pé direito — ela respondeu, os olhos brilhando com uma mistura de empolgação e desconforto.
Wednesday franziu a testa, observando Enid mais de perto. O que a pegou de surpresa foi que, enquanto falava, Enid parecia a estar a analisando, como se estivesse tentando entender algo que ainda não fazia sentido. Essa expressão a deixou desconfortável.
— O que foi? — Wednesday perguntou, inclinando-se levemente para a frente, tentando esconder a insegurança que crescia dentro dela.
— É só que... você parece tão diferente do que eu esperava — Enid respondeu, a confusão se transformando em um sorriso meio nervoso. — Eu não sabia que você gostava de Pokémon.
As palavras a atingiram como uma flecha. Wednesday se sentiu um pouco para baixo. Embora gostasse de manter a imagem de mistério, a ideia de que sua paixão por Pokémon fosse algo que não se encaixava com o que as pessoas esperavam dela era desalentadora.
— É... um hobby — disse, tentando manter a voz neutra.
Enid olhou para ela com curiosidade, os olhos grandes e brilhantes. Wednesday sentiu seu coração acelerar. Por um breve momento, ficou pensando que talvez, apenas talvez, essa interação não fosse tão terrível assim. Mas a leve estranheza no olhar de Enid ainda a incomodava, deixando um eco de incerteza em sua mente.
Wednesday observou a expressão de Enid enquanto tentava entender seu olhar curioso. O impulso de continuar a conversa a levou a fazer uma pergunta que, embora simples, poderia abrir a porta para algo mais profundo.
— Qual é o seu Pokémon favorito? — perguntou, a voz quase desinteressada, mas com um toque de genuína curiosidade.
Enid hesitou por um momento, como se estivesse pensando cuidadosamente antes de responder.
— Eu gosto muito do Charizard. Ele é tão legal! — disse Enid, os olhos brilhando com entusiasmo. — E, bem, ele é de fogo e também é... fofo, de um jeito todo seu.
Wednesday não pôde deixar de franzir a testa. Charizard era popular, claro, mas era um Pokémon básico, sem a complexidade que ela apreciava.
— Acredito que o Charizard seja um bom Pokémon, mas tem mais do que apenas a aparência. Por exemplo, meu favorito é Meowscarada. Ela tem um design incrível e é muito poderosa. Além disso, com seus ataques como Flor de Vento e Sombra Espinhosa, pode causar danos significativos em batalha. E ainda tem essa habilidade incrível que a faz esconder-se em uma forma de camuflagem — explicou Wednesday, sua voz começando a ganhar entusiasmo à medida que falava.
Enid a olhou com um sorriso largo, mas a confusão ainda pairava em seu rosto.
— Uau, você realmente sabe muito sobre isso! — respondeu Enid, um pouco sem jeito, como se estivesse tentando acompanhar a paixão de Wednesday, mas não tivesse a mesma base de conhecimento. — Eu só gosto do Charizard porque... bem, ele é legal e eu sempre achei ele fofinho.
A revelação deixou Wednesday pensativa. O que era tão natural para ela — a obsessão por detalhes, a imersão nas batalhas e na lore — não era uma experiência compartilhada por todos. Ela se deu conta de que nem todos eram como ela, fãs fervorosos que devoravam cada informação e cada novo jogo.
“Nem todos precisam entender as complexidades de Pokémon para apreciá-los”, pensou, enquanto observava Enid. Essa interação era, de fato, um lembrete de que existia uma diversidade de experiências e interesses, e que, às vezes, as conexões mais profundas podiam surgir da mais simples troca de palavras.
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The Geek
Hayran KurguJá imaginou gostar de alguém que nem sabe da sua existência? De alguém que, por mais que você deseje, jamais olharia para você? É assim que Wednesday se sente em relação a Enid, uma atleta popular em sua escola, sempre rodeada por admiradores e aten...