Eu não fazia ideia de quanto tempo já estávamos dentro daquele carro. A viagem era um borrão interminável de paisagens mortas e curvas sinuosas, como se o mundo lá fora estivesse fugindo de nós. Os grandes chifres que enfeitavam a frente do Suburban pareciam a única coisa viva no horizonte desolado, uma lembrança cruel das terras áridas de onde provavelmente viemos.
As montanhas, antes distantes, agora se erguiam com uma imponência ameaçadora. No carro, o alívio e a felicidade pareciam contaminados pelo próprio ar, uma falsa sensação de segurança que eu sabia que não duraria. Sentada junto à janela, meus olhos percorriam as sombras das cidades fantasmas que passávamos. Era como se o deserto estivesse nos engolindo lentamente, deixando apenas memórias quebradas de um mundo que uma vez conhecemos.
A estrada à nossa frente se estreitava a cada quilômetro, e com isso a ansiedade dentro de mim crescia. Não era só medo do desconhecido que nos esperava nas montanhas, mas uma sensação sombria de que algo estava errado, muito errado. O vento frio que entrava pela janela carregava um cheiro que me fez estremecer – um cheiro de morte misturado com a desesperança que parecia se enraizar em mim.
O motor roncava num ritmo constante, quase hipnótico, mas meus pensamentos eram turbulentos, caóticos. Esperança e desespero lutavam por espaço na minha mente, como se eu fosse apenas uma observadora impotente do meu próprio destino. Lembranças do meu desmaio mais cedo voltaram com força, um lembrete cruel de quão vulneráveis éramos. E de como o fim podia estar mais perto do que imaginávamos.
O Suburban sacolejava pela estrada irregular, os chifres lançando sombras distorcidas na estrada à nossa frente. Jorge estava ao volante, os olhos fixos no caminho, enquanto Noah e os outros discutiam em sussurros os planos para quando chegássemos. As vozes deles, por mais tranquilas que fossem, não conseguiam acalmar o turbilhão de emoções dentro de mim.
As montanhas já estavam tão próximas que quase podíamos tocá-las, gigantes silenciosos, guardiões de segredos que talvez estivéssemos melhor sem descobrir. A estrada começou a se curvar, e com isso veio a certeza de que o fim estava perto – para bem ou para mal. Fechei os olhos, tentando acalmar a tempestade dentro de mim, mas a quietude me parecia insuportável. Cada célula do meu corpo estava em alerta.
De repente, o carro freou bruscamente, jogando todos nós para frente. Meus olhos se abriram imediatamente, e uma sensação de alerta tomou conta de mim. Jorge já estava fora do carro, e os outros o seguiam logo atrás.
Eu saí, meus pés afundando na poeira densa enquanto o vento frio soprava ao redor. O problema era óbvio: uma fila de carros abandonados bloqueava a estrada que nos levaria até o túnel. Era o fim do caminho para o Suburban.
— Droga — murmurei baixinho, sentindo a frustração de Jorge ecoar dentro de mim.
— Parece que vamos ter que continuar a pé — ele anunciou, sua voz carregada de uma raiva contida.