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Aquela pessoa - Henrique & Juliano ▶️ (Não revisado**)

"Todo mundo tem uma pessoa, aquela pessoa
Não precisa dia e nem hora pra chegar
Na portaria do meu coração já tem seu nome
Pode entrar"

O sábado tinha chegado com o alívio esperado. Sem a pressão da faculdade, o dia parecia perfeito para focar no que realmente importava: o treino de vôlei. S/n se sentia mais leve, mesmo com o que aconteceu na semana anterior. O pensamento de treinar a "China" com Júlia ainda deixava seu coração acelerado. No ponto de vista de outras pessoa era apenas mais uma jogada normal, mas aquilo pra S/n significava uma confiança absoluta da central em uma bola levantada por ela, ainda mais quando a China fosse bem executada pois para sair como o planejado era necessário sintonia e estar bem conectado  com o central que atacaria e a precisão da levantadora.

No ginásio, as luzes refletiam o brilho suave do piso polido. O som das bolas sendo atacadas ecoava pelo espaço até que S/n viu Júlia indo pra um local mais afastado com o técnico gesticulando alguma coisa com as mãos, logo as meninas já estavam aquecidas, e o técnico chamava a atenção de todos para uma mudança no treino.

— Júlia, S/n venham aqui — disse o técnico, se aproximando. — Vocês duas vão treinar separadas hoje. Quero que trabalhem exclusivamente nos levantamentos e ataques da China.

Vamos ver se conseguimos melhorar essa jogada, confio em vocês meninas, vamos lá, vamos lá.

S/n trocou um olhar rápido com Júlia, que sorriu de lado, confiante. Era óbvio que Júlia tinha sugerido aquilo, o que só fazia o nervosismo de S/n crescer. Elas foram para um canto da quadra, onde a tensão entre as duas parecia maior do que o normal.

A cada levantamento que S/n fazia, Júlia atacava com precisão. Era uma conexão impressionante. Mas a cada ponto bem-sucedido, S/n lutava para manter o foco no jogo e não no que sentia pela mais nova das Kudiess

.— Essa vai ser nossa jogada na próxima seletiva, eu sinto — disse Júlia, ofegante, após um último ataque perfeito.— Com certeza — respondeu S/n com as mãos no joelho pelo cansaço e tentando manter a voz estável, enquanto o coração martelava no peito. A proximidade de Júlia era sempre um desafio para ela.

O treino terminou, e o técnico parecia satisfeito. As três garotas decidiram que um jantar fora seria a melhor forma de encerrar o dia. Naquele sábado à noite, as ruas estavam movimentadas, e o ar fresco ajudava a relaxar os músculos ainda tensos do treino. Sentadas em um restaurante aconchegante, S/n, Júlia e Laura conversavam sobre o jogo, a faculdade, e os sonhos que compartilhavam.

Mas então, algo inusitado aconteceu. Enquanto S/n mexia no cardápio, uma morena alta e atraente, passando pela mesa, lançou-lhe um olhar. Sem hesitar, ela se aproximou, sorrindo de forma insinuante.

— Ei, você parece familiar. A gente já se viu antes? — perguntou a morena, os olhos fixos em S/n. S/n sentiu o sangue subir ao rosto, pegando-a de surpresa. Laura observou a cena de longe, mas não disse nada. Júlia, ao lado, parecia alheia, concentrada na escolha do jantar.

— Não, acho que não... — S/n respondeu com um sorriso educado, tentando ser o mais discreta possível.— Quem sabe a gente se esbarra de novo por aí, né? — a morena piscou e seguiu em frente, deixando S/n sem saber onde colocar as mãos.

Por um momento, S/n sentiu o olhar de Laura. Ela sabia o que estava acontecendo ali. A única morena que S/n queria de verdade estava sentada ao lado dela, distraída, sem perceber a cena.— Relaxa — disse Laura baixinho, dando um leve chute na canela de S/n por debaixo da mesa. — Eu sei o que está rolando. S/n sorriu, aliviada por Laura estar ali para desfazer qualquer mal-entendido. Ela sabia que, se Júlia percebesse o motivo real de suas recusas, a dinâmica entre elas mudaria. Laura sempre soube, mas nunca pressionou a amiga a admitir. A noite seguiu sem mais interrupções, e elas terminaram o jantar entre risadas e conversas leves.

Quando voltaram para o apartamento, decidiram que uma maratona de filmes seria a maneira ideal de encerrar o dia.Entre uma cena e outra, Júlia, que estava sentada ao lado de S/n no sofá, foi vencida pelo cansaço e acabou adormecendo com a cabeça encostada no ombro de S/n. O coração de S/n disparou, mas ela sabia que precisava manter a calma.

Com cuidado, levantou-se e a carregou até o quarto. Deitando Júlia na cama, S/n não pôde evitar sorrir. Ali, tão perto, a única coisa que conseguiu fazer foi dar um beijo suave na testa de Júlia e sussurrar um "boa noite princesa" antes de se afastar. Mas aquela proximidade só aumentava a dor de saber que seus sentimentos talvez nunca fossem correspondidos.

Quando voltou para a sala, Laura a esperava com uma expressão curiosa no rosto.— Você sabe que as chances de ela gostar de mulher são quase nulas, certo? — começou Laura, sentando-se ao lado de S/n. A mais baixa apenas assentiu, sabendo que aquela conversa seria difícil de evitar. Laura conhecia sua amiga bem demais.

— Então por que você não vai atrás de outra pessoa? — Laura perguntou, mais séria agora. — Se você sabe que não vai ficar com ela, por que continua nessa? S/n abaixou os olhos, sem uma resposta clara. Sabia que deveria seguir em frente, que deveria tentar com outra pessoa. Mas a verdade era que Júlia tinha sido "aquela pessoa" para ela por tanto tempo que a ideia de buscar alguém diferente parecia impossível.

— Não sei, Laura... — S/n murmurou, a voz falhando. — Talvez seja só medo de perder o que a gente tem. Laura a observou em silêncio por um momento, antes de dar um tapinha no ombro da amiga.— Você é teimosa, S/n. Mas eu entendo, só não quero ver você se machucar, você é minha amiga e irmã de outra mãe, odeio te ver sofrendo, elas deixaram o silêncio se instalar por alguns segundos, enquanto o filme seguia na tela. A amizade entre elas era forte, mas Laura sabia que, por mais que tentasse proteger S/n, havia coisas que precisavam seguir seu próprio curso.

Mirrors - Júlia Kudiess|S/n DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora