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Antídoto - Matheus e Kauan▶️ (Não revisado**)

26/02/2019

"Como que eu faço pra tirar da cabeça
Se deu xeque-mate no meu coração?"

O sol de fevereiro invadia o quarto de S/n Dias sem permissão, atravessando a cortina entreaberta e iluminando o cômodo de um jeito impiedoso. A dor de cabeça que pulsava em suas têmporas era o lembrete claro da festa de aniversário de 18 anos de Laura Kudiess na noite passada. A comemoração tinha sido intensa, repleta de risadas, música alta e bebida, mas agora, no dia seguinte, tudo parecia pesar demais.

- Eu disse que não devia ter misturado... - murmurou S/n, sentando-se na cama e tentando afastar a sensação de náusea. Laura, ainda jogada no colchão ao lado, gemeu algo que parecia um acordo silencioso.

- Foi seu aniversário, tinha que ser memorável - S/n continuou, tentando sorrir, mas a dor de cabeça não colaborava.Laura se mexeu, abrindo os olhos devagar.

- Se isso é ser memorável, prefiro esquecer... E temos aula hoje, lembra? Primeiro semestre fofa - disse ela com a voz rouca, olhando o relógio no criado-mudo.

S/n suspirou, já antecipando o dia longo que as aguardava. Elas dividiam o apartamento com Júlia, a irmã mais nova de Laura, e essa era uma das razões para a inquietação constante de S/n. Desde pequena, seu coração batia mais forte perto de Júlia Kudiess. O problema era que Júlia, além de ser mais nova, parecia inalcançável. S/n, com seus 18 anos recém-completados, nunca tivera coragem de se aproximar de verdade. Elas eram próximas, claro, mas aquela linha invisível do "algo mais" parecia impossível de ser atravessada.


Enquanto Laura se arrastava até o banheiro, S/n passou os dedos pelo cabelo castanho longo e recém lavados procurando forças pra terminar de definir eles, ainda sentindo o peso da noite anterior. Não demorou muito até que Laura voltasse, jogando uma camiseta para ela.

- Veste isso e vamos. Se chegarmos atrasadas de novo, a professora nos mata. - Laura sorriu, parecendo um pouco mais disposta, apesar das olheiras.No caminho para a faculdade, elas tentaram ignorar o peso da ressaca. S/n, sempre ansiosa, não conseguia deixar de pensar em Júlia. E, como se lesse seus pensamentos, Laura quebrou o silêncio.

- E aí, S/n... Vai fazer alguma coisa sobre a Júlia, ou vai continuar se escondendo? - perguntou Laura, com uma sobrancelha arqueada e um sorriso provocativo.

S/n corou, desviando o olhar.- Ela é mais nova que eu... E é sua irmã. Não faz sentido, Laura. Além disso, se eu ficar enrolando, vou acabar perdendo a chance. - Verdade, né? Se você não agir logo, ela pode acabar com outra pessoa - Laura brincou, mas a ideia apertou o peito de S/n.

Chegando na faculdade, a conversa mudou para tópicos mais leves. A rotina de aulas, os planos para o futuro e, inevitavelmente, o esporte que ambas amavam: o vôlei. Elas jogavam desde pequenas, mas recentemente começaram a se interessar pelas seleções de base.

- Imagina só, se a gente for aceita... - Laura sonhou em voz alta, enquanto passavam pela entrada do campus. - Viver de vôlei, jogar profissionalmente... Seria incrível!- E se formos para times diferentes? - S/n perguntou, pensando nas possibilidades, mas também sentindo uma ponta de incerteza. Ela sempre contara com a presença de Laura e, de alguma forma, Júlia também.- Ah, isso a gente resolve depois. O importante é estar juntas - Laura disse com um sorriso, o otimismo renovado.

-Quebra de Tempo-

Mais tarde, ao voltarem para o apartamento, encontraram Júlia na sala, largada no sofá, com as pernas esticadas sobre a mesa de centro. Ela usava o uniforme do treino e mexia distraída no celular, os cabelos presos em um coque meio desfeito. Ao ver as duas, ela levantou o olhar e sorriu de lado.- E aí, como foi o primeiro dia? - perguntou Júlia, sem tirar os olhos do celular.- Uma tortura - respondeu Laura, jogando-se ao lado da irmã. - Eu ainda estou de ressaca...S/n se sentou mais devagar, tentando não chamar muita atenção para si. Mas a presença de Júlia sempre parecia fazer o ar ao seu redor vibrar de um jeito diferente.- S/n, vamos treinar hoje? - Júlia perguntou de repente, levantando os olhos e encarando-a diretamente. - Estou afim de atacar uma China. Quero ver se você consegue levantar uma boa para mim.

S/n sentiu o coração acelerar. A "China", um dos ataques mais rápidos e técnicos no vôlei, era uma jogada que exigia sintonia absoluta entre a levantadora e a atacante. E o fato de Júlia sugerir isso... Bem, significava muito.

- Claro, por que não? - S/n respondeu, tentando soar casual, embora por dentro estivesse em pânico.Laura riu, percebendo o nervosismo da amiga.- Boa sorte, S/n. A Júlia está ficando melhor nisso do que eu, então capricha na levantada ou vai ouvir reclamação!- Ei, não precisa exagerar - Júlia riu, levantando-se do sofá e esticando os braços. - Mas falando sério, se conseguirmos treinar isso direitinho, vai ser uma arma para a gente, caso a seleção nos chame.

O clima ficou mais leve, com as três garotas rindo e discutindo sobre estratégias de jogo e as oportunidades de serem aceitas na base de um time profissional. Para S/n, entretanto, o peso de uma única jogada parecia muito maior. Se conseguisse mostrar o que sabia fazer na quadra, quem sabe também conseguisse finalmente abrir caminho para algo mais com Júlia.

Mirrors - Júlia Kudiess|S/n DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora