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Dois covardes - Henrique & Juliano ▶️ (Não revisado**)

"Nós somos dois covardes
Fingindo que tá bem, forçando uma amizade
Mostrando ser o que não somos
Dizendo que não existe amor
Quem foi que falou?
Quem falou errou
Então quem de nós dois errou?"

O sol começava a se pôr em Saquarema, tingindo o céu de tons alaranjados enquanto a seleção feminina de vôlei se preparava para uma noite relaxante após um dia intenso de treinos. S/n estava ali, com as meninas, sentindo uma mistura de ansiedade e empolgação. Elas decidiram que iriam a um bar local, um lugar descontraído onde poderiam celebrar a camaradagem e a recente convocação.

— Vamos! — gritou Gabi, puxando S/n e as outras para fora da quadra. — Preciso de uma cervejinha e um pouco de diversão!

— Sim! Preciso me distrair — respondeu Roberta, animada.Laura estava ao lado de S/n, percebendo que a amiga estava um pouco quieta.

— O que você acha, S/n? Preparada para a noite? — perguntou, tentando desviar o olhar dela do chão.

— Claro, vai ser divertido — S/n respondeu, mas sua voz estava longe.O grupo se reuniu em torno da mesa no bar, com risos e conversas animadas. Thaisa pediu uma rodada de drinks, e logo as meninas estavam brindando e celebrando a amizade. S/n observava tudo, um sorriso no rosto, mas seu coração estava pesado.

— Então, S/n, quando você vai nos apresentar a sua namorada? — Carolana perguntou, provocando risadas na mesa. Sabia que as meninas haviam comentado alguma coisa sobre isso.

—Foi bem a boca de sacola da Priscila—murmurei e deu um beliscão leve na loira ao lado que resmungou e pediu desculpas por não conseguir esconder da melhor amiga, onde não era pra existir problema se as duas não fossem bocas de sacola.

S/n ficou sem palavras por um momento, e todas as atenções se voltaram para ela.

— Ué, gente, ela ainda não tem namorada — Laura defendeu, piscando para S/n.

— É verdade, mas quem sabe, a fila está livre? — Gattaz brincou, fazendo gestos exagerados com as mãos e mandando beijos.

S/n riu, mas a tensão estava evidente. Enquanto as conversas fluíam, eu percebia que ela ainda estava absorta em seus próprios pensamentos.

— O que você está pensando? — Júlia perguntou, inclinando-se para S/n, os olhos curiosos.

— Ah, só... algumas coisas — S/n respondeu, sem saber como revelar a notícia que estava guardando.

O clima de descontração persistia, e a conversa foi se desenrolando até que a música animada começou a tocar. Com um copo em mãos, S/n finalmente decidiu que era hora de falar.

— Meninas, eu... preciso contar algo — começou, a voz um pouco trêmula.As meninas se calaram, todas com os olhares fixos nela, prontas para ouvir.

— Eu vou viajar... por uns dois meses ou mais— revelou S/n, sentindo o peso da verdade escapar de seus lábios.

Um silêncio momentâneo tomou conta do grupo. Logo, Gabi quebrou a tensão.

— O quê? Para onde você vai? — ela perguntou, surpreso.

— É uma viagem para eu me reencontrar, depois de tudo que aconteceu — S/n explicou, tentando transmitir a calma que não sentia.

— Você vai sentir falta da gente, né? — Macris comentou, com um olhar triste.

— Com certeza! E vou trazer lembranças de todos os lugares que visitar — S/n assegurou, tentando sorrir, mas a tristeza era palpável.

— Isso é uma loucura! Você não pode ir! — Roberta exclamou, e as outras começaram a protestar, mas S/n levantou as mãos.

— Esperem! Eu preciso fazer isso. Não é um adeus, só um "até logo", vocês falam como seu eu fosse morrer amanhã. S/n solta uma risada pra tentar aliviar a tensão que estava sentindo e consegue arrancar algumas pequenas risada das meninas menos dela, Júlia estava calada, observando a reação de S/n. Era visível uma sombra de ciúmes se formar em seu olhar, e isso só aumentava a tensão.

— Então, vamos fazer uma festa de despedida para você antes de ir! — Thaisa sugeriu, tentando mudar o clima.

— Ótima ideia! — concordou Nyeme, com um brilho nos olhos. — Vamos fazer algo memorável!S/n sorriu, mas seus olhos traíam a confusão e o medo do desconhecido.

— Obrigada, meninas. Eu realmente agradeço pelo apoio e amor de vocês.

As conversas logo voltaram ao normal, mas a decisão de S/n havia mudado a dinâmica da mesa. Enquanto brindávamos e celebrávamos, era possível notar que Júlia olhava para S/n de uma forma diferente, como se estivesse tentando decifrar um mistério.A noite avançou entre risadas e promessas de manter contato, mas o coração de S/n estava repleto de incertezas. E, enquanto a música tocava e os copos tilintavam, ela sabia que estava prestes a embarcar em uma jornada muito mais profunda do que qualquer viagem poderia proporcionar.

S/n POV

Depois do encontro, as ruas estavam desertas, e o ar fresco da noite parecia me trazer um pouco de tranquilidade. Mas, enquanto andava, meu coração estava um turbilhão. O que eu estava prestes a fazer me aterrorizava. A decisão de viajar por três meses estava tomada, mas, mesmo assim, uma parte de mim queria ficar. Especialmente perto de Júlia.

Quando ouvi sua voz me chamando, meu coração disparou.

—Espera!— Ela se aproximou com passos rápidos, e sua expressão era mais séria do que eu já havia visto. A preocupação nos seus olhos fez meu peito apertar.

—Você vai mesmo? Por tanto tempo?—A pergunta dela era direta, e eu sabia que tinha que ser honesta. —Sim minha princesa, preciso desse tempo pra
mim— O que eu realmente queria era dizer que precisava desse tempo para nós, mas a verdade era complicada demais para se resumir em palavras.

—Eu... nunca te agradeci por tudo, sabe?— A voz dela soou suave, e pude ver que ela estava lutando com suas emoções— Por sempre estar do meu lado, mesmo quando eu nem percebi o quanto isso te custava— A sinceridade de suas palavras me deixou sem ar.

—Eu fiz o que qualquer amiga faria minha linda— A resposta saiu amargamente de meus lábios e logo tentando desviar o foco de mim. Mas, no fundo, eu sabia que era apenas uma meia-verdade. Eu queria mais do que uma amizade, mas o medo de estragar tudo me impedia de me abrir.

Júlia soltou uma risadinha, mas havia uma tristeza ali.
—Não sei se só amigas fazem o que você fez por
mim—As palavras dela cortaram fundo. Eu queria explicar, queria que ela soubesse que era mais do que isso, mas as palavras pareciam trancadas na minha garganta.

O silêncio entre nós se aprofundou, e eu sentia que estava diante de uma encruzilhada. Poderia confessar o que estava dentro de mim, ou deixá-la partir sem saber a verdade? Meu coração acelerou, mas antes que eu pudesse tomar uma decisão, Júlia suspirou e deu um passo para trás.

—Boa sorte na sua viagem, S/n— ela disse, o sorriso dela era triste.
—Espero que encontre o que está buscando— Aquilo me atingiu como um soco no estômago. A sensação de que eu estava prestes a perder algo precioso me envolveu.

—Obrigada, Júlia— murmurei, minha voz falhando. Observei enquanto ela se afastava, e uma onda de desespero me atingiu. Era como se uma oportunidade de se conectar, de ser verdadeira, tivesse escapado por entre meus dedos. A chance de finalmente contar a verdade, de revelar o que realmente sentia, tinha desaparecido na noite.A ansiedade me consumia enquanto a via se distanciar, e a sensação de abandono começou a se instalar em meu peito. Eu estava prestes a embarcar em uma viagem para me reencontrar, mas, ao mesmo tempo, sentia que estava deixando para trás o que poderia ter sido.

Mirrors - Júlia Kudiess|S/n DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora