Caso encerrado, parceria também.

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[Becky's Narrative]


Eu não consegui pregar os olhos na noite anterior por mais que eu forcasse a garrafa de whisky, e os pensamentos em Freen não haviam me deixado em paz nem por um segundo sequer. Cada vez que tentava fechar os olhos era como se o olhar dela estivesse gravado na minha mente aquele olhar de tristeza e confusão que vi quando estávamos paradas na sala da casa dela. Olhei para o relógio pendurado na parede do quarto do hotel uma, duas, três, quatro, vezes... as horas mudavam, minha posição mudava, mas o que eu estava sentindo parecia que estava longe de mudar também, o som abafado da chuva batendo contra a janela apenas intensificava a melancolia que eu tentava esconder atrás de uma garrafa vazia.

Levantei com um suspiro pesado ignorando a leve tontura que veio junto, meu quarto estava um caos algo tão fora do comum para mim, as roupas amassadas estavam jogadas sobre a poltrona a mala ainda aberta no chão e o lençol meio caído da cama, a bagunça refletia a confusão que tomava conta de mim. Olhei para o espelho do quarto meus olhos vermelhos denunciavam a falta de sono e o desgaste emocional.

Caminhei até a janela e observei a chuva engrossar as gotas escorriam pelo vidro como se estivessem competindo com as lágrimas que insistiam em escapar dos meus olhos, senti uma descendo pela minha bochecha quente e amarga e por mais que eu tentasse lutar contra outra logo veio em seguida.

— Eu tinha que me apaixonar logo por ela – Murmurei para mim mesma assumindo isso pela primeira vez de forma clara algo que eu já sabia há muito tempo, mas evitava admitir. Levantei a cabeça e encarei meu reflexo no vidro da janela. — Eu não vou me enfiar em um buraco, essa não sou eu. — Falei em voz alta, limpando mais uma lágrima que insistia em cair, um leve sorriso surgiu em meus lábios como se de alguma forma estivesse me convencendo a seguir em frente.

Caminhei até o banheiro deixando a água quente do chuveiro escorrer por mim, era um alívio quase terapêutico uma forma de me lembrar que o mundo não pararia por causa dos meus problemas, a vida continuava e eu também. Deixei que a água levasse o máximo de tensão e cansaço que pudesse carregar, respirando fundo como se aquilo fosse suficiente para me purificar.

Terminei o banho sequei o cabelo e vesti minha roupa padrão, meu amado jeans preto, camiseta escura e minha fiel jaqueta de couro preta por cima. O cabelo preso num rabo de cavalo desleixado completava o visual de quem estava tentando se recompor, mas ainda carregava a bagagem de uma noite mal dormida. Calcei meu coturno aquele que me dava a sensação de firmeza.

— Nada mal, Armstrong, nada mal – Falei para mim mesma enquanto me observava no espelho. Peguei minha pistola que repousava na gaveta e a examinei rapidamente, peguei a chave do carro e por último peguei os óculos escuros. Eles eram meu disfarce pra esconder minha expressão de morta-viva que insistia em permanecer em meu rosto. — Agora vamos trabalhar, a menos que a delegada Sarocha me dispense, eu ainda presto serviços pra delegacia de Bangkok. Fui direto para o elevador clicando no botão do térreo e fui em direção ao estacionamento. O dia ainda estava nublado e a chuva continuava a cair, mas ao menos o clima frio não me incomodava. Entrei no carro e liguei o motor o som do motor rugindo como se estivesse ansioso para sair.

A chuva caía em um ritmo constante as gotas escorrendo pelo vidro do carro como se o mundo estivesse refletindo meu estado de espírito, o céu nublado parecia me dar uma sensação de conforto, talvez por matar um pouco da saudade que eu sentia da Inglaterra, enquanto dirigia pelas ruas molhadas de Bangkok, a cidade estava viva ao meu redor o trânsito denso e os pedestres apressados compunham uma cena frenética, nada acalmava essa cidade. Parei o carro antes do meu destino final meu corpo estava prestes a ter uma síncope, nem só de whisky e lagrimas se vive uma grande mulher. A primeira parada foi na cafeteria. Ao entrar, fui imediatamente envolvida pelo aroma reconfortante do café fresco e dos doces.

Obsessão [FREENBECKY]Onde histórias criam vida. Descubra agora