Obsessão [FREENBECKY]

Sala de Operações.

[Sarocha's Voice]

Estava encostada em uma parede de braços cruzados enquanto aguardava Becky sair do banheiro, ela ainda não tinha tido tempo de tirar o roupão e eu não conseguia tirar da cabeça a imagem de seus olhos me encarando como se fossem capazes de ver através de todas as minhas defesas, minha cabeça latejava com uma dor incômoda resultado do turbilhão de emoções que me consumia.

Eu nunca tinha sido tão vulnerável assim na minha vida, eu não era o tipo de pessoa que se permitia ser lida, mas com Becky... algo era diferente... e, não saber como tudo seria dali pra frente me assustava, eu sempre tive controle mesmo quando eu não tinha o poder, ou pelo menos uma ilusão dele. Escutei o barulho suave da porta do banheiro se abrindo, e automaticamente meu corpo enrijeceu como se estivesse me preparando para o próximo round.

Minhas mãos apertaram os braços enquanto eu me forçava a manter uma expressão neutra.

— Você sabe que eu e o Heng... nunca – Becky começou a falar.

— Nunca o quê, Becky? – Minha voz saiu mais dura do que eu queria o que só a fez erguer uma sobrancelha como se estivesse me provocando, testando até onde eu iria com isso.

— Vamos lá, Delegada Sarocha, você é mais inteligente que isso. – Ela provocou com um sorriso desafiador brincando em seus lábios.

— Eu estou esperando... – Caminhei até ela lentamente ainda de braços cruzados. — Você tem coragem pra falar ou vai fugir de novo? – Senti pele primeira vez o clima ficar menos tenso.

O jeito como ela sorriu em resposta ao meu comentário fez meu coração acelerar, havia um brilho em seus olhos que não conseguia ignorar, um sentimento que me fez acreditar que estávamos, pela primeira vez nos dando bem sem nenhuma outra segunda intenção. Era uma boa sensação, mas ao mesmo tempo, me deixava em alerta como se eu estivesse prestes a dar um salto em uma profundidade desconhecida.

— E quanto ao que você disse sobre a Irin e sobre o pai dela? – A pergunta escapuliu dos meus lábios e a tensão voltou a aumentar. — Você realmente vai enfrentar isso? – O sorriso de Becky se desfez.

— Eu tô cansada, Becky. – Falei com sinceridade na voz. Dei alguns passos para trás, sentando-me em uma poltrona. — São dois anos vivendo uma mentira. Eu quero ser livre, sabe.

— Liberdade... – Becky murmurou com a voz quase um sussurro, como se estivesse pensando em voz alta. — Você acha que a liberdade é uma opção para pessoas como nós?

— É uma opção que eu quero fazer valer. – Respondi com determinação apoiando os cotovelos em meus joelhos. — Não queria te assustar quando falei que por você eu queria fazer isso, mas eu também não podia mentir, você ascendeu em mim uma faísca que me deu vontade de viver minha própria vida, eu amo ser delegada é o que eu mais amo fazer, eu amo a minha mãe e quero protegê-la, mas e quanto a mim? Eu só vivo a vida que pessoas me falaram pra viver, fujo do que dar pra fugir... Se eu não colocar um ponto final agora, se eu não tomar as rédeas da minha vida de novo... daqui dez anos eu vou tá casada com alguém que nunca amei, com filhos que não terão culpa de nada, terei cachorros e gatos em uma casa bonita em um bairro nobre, seria uma vida linda se fosse ao lado de alguém escolhido por mim e que me amasse também, e esse não é o caso. – Respirei fundo passando as mãos no rosto.

O olhar de Becky se intensificou, e havia algo ali que me fez sentir que ela estava prestes a se abrir. Eu estava ansiosa por isso, mas também temerosa. E se ela se mostrasse mais vulnerável do que eu esperava?

— Eu só... – Ela começou hesitando. – Eu só não sei se tenho a força para enfrentar tudo isso.

— Essa é uma luta minha você tem suas questões, eu..., eu não estou pedindo que lute comigo. – Fui sincera esperando que as palavras fizessem sentido para ela. A tensão continuava anos seguir e percebi que Becky estava lutando contra os próprios sentimentos. Seu olhar se desviava, mas havia uma tempestade em seus olhos que me fez querer penetrar aquela barreira.