Obsessão [FREENBECKY]

Se você ainda quiser, eu estou aqui.

[Becky's Voice]

A sala estava novamente envolta em silêncio, o brilho suave das telas iluminava nossos rostos enquanto finalizávamos a análise de mais alguns dados, por mais que eu tentasse focar no trabalho meu corpo estava exausto e não tinha como negar que o que tinha acontecido antes pairava sobre mim como uma nuvem densa, o nosso beijo, a visita do pai de Irin, esse dia tinha sido tudo menos calmo.

Eu observava Freen de relance enquanto ela se concentrava no computador, os lábios que antes haviam se entrelaçado com os meus agora estavam retraídos em uma linha fina de concentração, tinha algo nela que sempre me mantinha alerta, talvez fosse a maneira como ela carregava tanto peso nos ombros, ou a tensão em seu semblante que às vezes parecia inquebrável.

Enquanto ela digitava o som das teclas quebrava o silêncio, mas no fundo nenhuma de nós estava realmente ali de corpo e alma.

— Acho que é isso por hoje, não? - Ela perguntou finalmente quebrando o silêncio que me sufocava. — Estamos aqui há horas. – Ela finalmente parou de digitar e recostou-se na cadeira.

Eu assenti feliz por finalmente termos uma pausa, estávamos em um ponto onde os detalhes já não faziam tanto sentido.

— Sim, já deu, estamos fritando nossos cérebros - Respondi me levantando da cadeira e esticando os braços acima da cabeça. — Você está exausta, e eu também.

Freen me observou e seu olhar era quase como se estivesse hesitando em baixar a guarda. Eu sabia que ela não gostava de parecer vulnerável, mas sabia também que além de tudo que estava acontecendo o peso daquele caso estava sobrecarregando-a.

— Eu vou pra casa – Ela murmurou se espreguiçando tentando parecer casual, mas sua voz ainda carregava o cansaço. – Ela se virou para pegar a jaqueta e as chaves da moto.

— Espera aí, Freen. – Falei de repente sem nem pensar muito antes de abrir a boca.

Ela se virou surpresa com uma sobrancelha arqueada claramente esperando o que eu tinha a dizer. Eu dei alguns passos até ela.

— Eu acho que seria melhor se você parasse de andar de moto até descobrirmos o que realmente aconteceu com Mendez – Soltei de uma vez.

— Hã? – Ela me olhou com uma certa resistência.

— Não seria seguro você andar sozinha, ainda não sabemos quem ou o que está por trás disso, e pode haver alguém te observando. – Eu dei os ombros, aquilo realmente me preocupava.

Ela bufou, era típico dela resistir.

— Becky, eu sei me cuidar, sempre soube... já lidei com situações muito piores e andar de moto nunca foi um problema. – O tom de voz dela foi baixo como se realmente tivesse tentando me explicar.

Eu cruzei os braços, não desistiria tão fácil.

— Eu não estou duvidando de você, eu tenho certeza que você pode se cuidar. – Minha voz saiu mais suave, mas com firmeza suficiente para que ela soubesse que eu estava falando sério. — Só estou dizendo que agora é diferente, você não acha que os capangas dele não estão planejando uma retaliação? E se eles estiverem esperando o momento certo para agir achando que temos algo a ver com a morte do chefe deles? Não seria bom cair em uma emboscada sozinha por aí.

Ela hesitou por um segundo o que já era um sinal de que estava considerando o que eu disse, mas logo balançou a cabeça.

— Becky, você sabe que não posso me esconder, meu trabalho é estar exposta a isso, faz parte do que eu faço. – Ela vestiu sua jaqueta dando os ombros.