Capítulo 22

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Esse capitulo é pov da Sam , vão entender porque ela é assim, talvez sentir dó dela kkkk

— À nossa amizade... e à nossa última noite.
— Às promessas, que serão cumpridas — respondeu com desdém. Ela sabia. Tinha ciência de que mentíamos uma para a outra.
Ainda assim, não era eu, a Mulher que de nada entendia, que iniciaria uma conversa complicada e sem soluções. Foda-se. Que a complexidade de nossa relação fosse dissolvida na manhã seguinte, depois de eu me fartar dela, depois que ela se fartasse de mim. Antes disso, não pensaria em mais nada. PELE COM PELE
Mon foi se lavar enquanto eu esquentava o baião de dois e deixava tudo preparado para a gente. Escolhi a mesa de centro porque era mais confortável comermos sobre o tapete da minha mãe – apesar de tudo, queria manter o clima leve. Ainda estava me sentindo esquisita por tê-la visto chorar uma ausência que nem existiu. A vizinha não fazia ideia do quanto prezava pelo seu bem-estar e me importava com tudo que tivesse a ver com ela.
Quando ressurgiu, cheirosa e enrolada em seu robe de seda, sentou-se do outro lado, distante o suficiente para me fazer entender que era melhor lhe dar certo espaço. Comemos em silêncio, em um clima difícil de suportar. Eu estava sendo bombardeada por uma quantidade absurda de pensamentos adversos. O que se sobressaía tinha a ver com aquela noite. Como eu poderia abrir mão, para sempre, de ver aquela mulher entregue, como aconteceu minutos atrás?
A curiosidade me fez questionar em voz alta:
— Costuma gozar daquele jeito?
Mon continuou sem me olhar, mas fez uma careta na direção do prato.
— Foi a primeira vez. Não achava que fosse possível.
Soltei um riso nervoso. Não sabia se era bom ou ruim aquela ter sido sua primeira ejaculação. Eu estava tomado por uma sensação louca que misturava honra e desespero.
— Claro que é. Só não é tão comum — expliquei.
— Você sabe mais sobre o assunto do que eu.
Fiquei em silêncio. Não sabia se aquela frase era verdade, eu não era nenhuma expert no assunto. Só tinha conhecimento de que podia acontecer, como já ocorrera algumas poucas vezes em minha presença. Nenhuma delas, no entanto, havia me deixado tão absurdamente ensandecida.
Ela tinha voltado a comer, mas parou para tomar um gole de vinho. — Não paro de pensar nisso... — confessei. — Ver você daquele jeito... foi sensacional.
Mon fez mais uma careta, parecendo chateada com o meu comentário. Não soube o que falei de errado, por isso voltei a ficar em silêncio. Ela também não disse nada, deixando o clima mais pesado, esquisito.
— Mon? — Ela se sobressaltou. Parecia absorta em algum pensamento que não lhe fazia nada bem. — No que está pensando?
— Estava me perguntando como seria viver sem amar ninguém. Deve ser difícil.
Ela ainda não me olhava, mas fiquei estarrecida com o seu comentário. Claro que ela estava falando de mim, e claro que seus pensamentos se mantinham no que eu dissera sobre não se apaixonar. A vizinha estava confusa, e eu fiquei ainda mais.
— É mais difícil do que imagina — soltei de um jeito frio.
É mais fácil não amar do que amar, Mon, acredite.
Ela bateu o talher sobre o tampo da mesinha, em um rompante que me assustou. Abri os olhos em sua direção.
— É mentira! — urrou, finalmente me encarando. Continuei chocado, mudo, sem conseguir reagir, apenas empunhando a minha taça de vinho. — Você mente para todo mundo e para si mesmo! Não é fácil coisa nenhuma. Você é um frustrada, Calvin. Perdeu todos que amou e agora acha que não pode amar mais ninguém.
Enquanto a observava, minha visão foi embaçando e sentia o meu corpo fervendo gradativamente. Não soube direito qual foi o sentimento que me invadiu. Estava muito próximo à raiva, mas não era apenas isso. Não era tão simples. Havia frustração, medo, tristeza, culpa... tudo junto e misturado. Mal conseguia respirar ao rebater:
— Eu faço as minhas escolhas, Mon.
— Péssimas escolhas.
— Respeito as suas! Que tal respeitas as minhas? — soltei em um tom mais elevado de voz, chegado próximo ao que ela usava comigo.
Eu sabia que o que Mon dizia era coerente. A completa incoerência estava dentro de mim, não dela, mas só eu sentia e tentava encontrar sentido dentro do turbilhão que era a minha vida emocional. Sentia-me perdida a maior parte do tempo, e piorava com aquela mulher me colocando contra a parede. Minha primeira reação sempre era me defender. Sempre.
Mesmo que, no fundo, eu não tivesse tanta defesa assim.
— Estou treinando — ela disse, um pouco mais calma, talvez porque viu que eu estava a ponto de implodir. — Se serei sua amiga, então meu dever é te alertar. Você não vai a lugar algum perdido desse jeito, Calvin. Ninguém chega aonde quer sozinho.
— Pensei que estivesse comigo! — desabafei de uma vez, sem pensar muito. Continha a vontade de abrir o berreiro feito uma criança mimada. Ainda assim, um caroço enorme se instalara na minha garganta, bloqueando a passagem de ar. — Eu não estou mais sozinha, estou? Tenho você.
— É diferente... Você fica me repelindo. Como quer que eu realmente esteja contigo?
Repelindo?
Mon não fazia ideia de quem eu era quando repelia alguém. Eu não a estava repelindo de jeito nenhum, por mais que devesse. Se meu modo afastamento estivesse ligado, nem ali estaria. Ela nunca mais veria nem a minha sombra. O que eu fazia com ela era o exato oposto ao que sempre fiz com todos ao meu redor.
— Repelindo? — repeti a palavra que ecoava na minha mente. — Por quê? Porque eu falei para não se apaixonar por mim? — Mon trancou a boca e ficou me olhando de um jeito enervante, muito sério. — Só estou tentando te proteger de mim. Não entende?
— Sinceramente? Não.
Tudo bem, vizinha, eu também não estou entendendo porra nenhuma! Fiquei em silencio. Passamos tanto tempo mudos que ela completou:
— Vejo fuga, não proteção. Eu sei me proteger, Mas você só sabe fugir.
Larguei a taça sobre a mesa e me afastei daquela situação, provando que, sim, eu era ótima em fugir. Soltei um rosnado carregado de irritação e me deitei no tapete, escondendo o rosto para que ela não percebesse que eu tinha marejado feito uma garotinha. Ela não podia me entender. Ninguém me entendia.
De repente, senti a sua aproximação. Não importava o que Mon tivesse a dizer, eu a queria perto de mim e foi por isso que a puxei. Ficamos deitados, agarrados como uma só carne, sobre o tecido felpudo, aconchegante. O meu coração destroçado insistia em bater depressa.
— Às vezes acho que tudo vai passar, menos a minha vontade de estar em você o tempo todo... — murmurei, e a beijei devagar, em uma lentidão bem-vinda. Já a queria mais uma vez e não estava pronto para o inevitável adeus. — Não sou eu que quero fugir disso — alfinetei. Ela soltou um suspiro profundo e me encarou com impaciência. Eu não estava tentando manipular para que continuasse transando comigo, só precisei desabafar aquele sentimento desconexo. O que meu coração sentia estava acima do lógico. Soltei um riso, desistindo de insistir no assunto. — Vou aprendendo contigo... Irei me esforçar. Obrigado.
Não sabia exatamente o que quis dizer com aquilo, mas não havia dúvidas de que Mon me ensinava mais a cada dia, e que talvez, com paciência, eu chegasse a ser alguém melhor. Ela sorriu para mim, e foi um sorriso tão lindo que o tempo pareceu ter paralisado.
— Gosto quando sorri, Mon. Eu me sinto bem. Seus olhos estão brilhantes, o que está pensando?
— Em nada importante.
— Às vezes eu queria ter o poder de ler tudo o que se passa na sua cabeça — falei, encontrando seu olhar indecifrável cada segundo mais misterioso.
— Eu também. — Afagou o meu rosto em uma carícia gostosa. — E a parede? — questionei, sentando-me. Ela se sentou ao meu
lado. Eu queria deixar o assunto difícil morrer, porque nunca conseguia lidar com nada que me fizesse pensar demais nas minhas ações e, sobretudo, nos meus sentimentos.
— O que tem ela?
— De onde surgiu a ideia? Adorei! Estou pensando em fazer o mesmo com a minha...
— Começou na noite em que vovó faleceu. — Seu rosto foi tomando gravidade, de forma que consegui enxergar a sua dor como se estivesse ali, a um passo, palpável. — Acho que é uma terapia. Escrevo as frases mais significativas para mim. Clarice tem me ajudado muito.
Abri um sorriso ameno. Era maravilhoso que Mon também encontrasse nas palavras de Clarice um conforto, um alento. Eu não estava sozinha no mundo.
— Ela me ajudou a vida inteira — confessei.
— Imagino... Sobrevivi a muitas noites ruins. Na verdade, esta é a primeira noite agradável que passo depois que ela se foi. — Seus olhos marejaram imediatamente, mas percebi que se controlava para não deixar as lágrimas caírem. — No fim, tudo é graças a você . Obrigada.
Eu a puxei para o meu colo. Mon afundou o rosto no vão entre meu ombro e pescoço, e lá se deixou ficar por algum tempo. Inalava o meu cheiro enquanto eu respirava o mesmo ar que o dela. Podia sentir meu coração retumbando no peito de forma intensa. Não achava que ela deveria me agradecer por nada. Muito pelo contrário, eu que era grata por tê-la conhecido.
— Você me ajudou muito também — soltei com sinceridade. — Vamos deixar tudo na caixinha da amizade, sem agradecimentos. Como dizem, amigos são para essas coisas.
Ela assentiu, porém continuou calada e não parecia que se moveria nem tão cedo. Deixei que ficasse embalada sobre o meu corpo, mas depois de um tempo não consegui conter uma risada.
— O que foi? — ergueu a cabeça, confusa.
— Meu pau está ficando duro!
Pudera, aquela mulher era uma delícia e não usava nada por debaixo do robe de seda. Conseguia sentir suas curvas e a quentura em seu centro. O resultado não poderia ser diferente, o tesão tomou conta de novo dos meus sentidos.
— Credo, controle-se! — ralhou, mas riu junto comigo. Como se não bastasse, começou a rebolar com malícia, atiçando-me. — Amigos não são para essas coisas...
— Ainda bem que não somos amigos nesta noite.
Mon prendeu os lábios, com uma cara bem safada.
— E o que somos?
— Amigos com sexo e vinho.
— Amigos com sexo, vinho e Clarice Lispector — completou, ainda se movimentando deliciosamente sobre mim. Eu estava pirando de verdade.
— Pronto, estamos definidos. Agora, preciso de um banho! — falei, pois não queria dar a segunda rodada sem tomar uma ducha antes. Meu pau ainda estava meio melado, embora o sêmen tivesse secado junto com o suor.
Mon se levantou e recolheu os pratos, levando-os para a cozinha e os deixando sobre a pia. Esperei-a na frente do banheiro, com os braços cruzados na frente do corpo. Ela veio sem entender o que eu queria, menos ainda o motivo de eu não ter entrado para o banho, a tirar pela careta confusa que me ofereceu.
— Amigos com sexo, vinho, Clarice Lispector e banho relaxante — redefini, sorrindo, pois me sentia incapaz de deixá-la sozinha para me lavar. Eu a queria o tempo inteiro, se desperdícios.

A safada Mora ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora