Entre Dragões e Serpentes

Capítulo I: O Peso da Coroa e da Maternidade

112 a.C

A manhã em Porto Real estava envolta em uma fina névoa, e os corredores da Fortaleza Vermelha estavam mais silenciosos do que o habitual. Alicent Hightower sentia o peso de seu segredo, agora confirmado. Estava grávida mais uma vez. O quarto filho de Viserys, seu rei e marido. Ela olhava para o reflexo de seu corpo ainda esguio no espelho, mas já podia sentir as mudanças acontecendo. Enquanto tocava o ventre levemente, uma mistura de emoções a envolvia. Orgulho, claro, mas também um desconforto profundo.

Viserys entrava no aposento, o sorriso largo, animado como uma criança ao receber boas novas. Ele a abraçou, de imediato. "Minha querida Alicent, mais uma bênção. O reino se alegrará com a notícia. Outro herdeiro para a Casa Targaryen!", sua voz era cheia de fervor, mas sua atenção fugaz.

Alicent sorriu de volta, mas seus olhos traíam a inquietação que sentia por dentro. "Sim, Vossa Graça... mais um filho para fortalecer nossa linhagem." Sua voz era suave, mas o peso de suas palavras a fazia sentir-se mais exausta do que jamais admitiria.

Viserys beijou sua testa, e, sem hesitar, já começou a dar ordens para que o anúncio fosse feito em breve. Alicent observava enquanto ele saía apressado, movido pela alegria de ser novamente pai. E, no entanto, ela sabia. Não importava quantos filhos ela desse ao rei, nenhum deles seria Rhaenyra. Nenhum deles seria o foco absoluto de sua atenção. Viserys amava os filhos que tinha com Alicent, claro, mas era Rhaenyra quem dominava seus pensamentos, sua primogênita, sua herdeira. A verdadeira filha Targaryen.

Pouco depois, seus filhos invadiram o quarto com suas risadas e energia vibrante. Aemond, com apenas três anos, correu para os braços de sua mãe, seus olhos azuis brilhando com curiosidade. "Mamãe, você está com um bebê na barriga?" Ele sorriu, seus olhos inocentes.

Helaena, com sete, rodopiava pelo quarto com uma borboleta de papel que ela mesma havia feito. "Eu espero que o bebê goste de coisas pequenas, como borboletas e bichinhos...", disse com uma voz suave, oscilando entre o mundo real e o sonhador.

Aegon, com oito anos, ficou mais ao fundo, mas havia um brilho em seus olhos. Ele cruzou os braços, tentando parecer mais velho do que era. "Eu serei o mais velho. Terei de proteger este novo bebê também."

Alicent olhou para seus filhos e um sorriso genuíno se formou em seus lábios, mas o desconforto ainda pairava. Ela sentia que, apesar de sua nova gravidez, o peso da falta de atenção de Viserys caía fortemente sobre eles. Aegon, Helaena e Aemond eram filhos do rei, mas estavam sempre na sombra de Rhaenyra.

No grande salão, logo após o anúncio, os murmúrios começaram a se espalhar. Havia alegria em muitos corações, mas também havia ciúmes e tensão no ar. Os olhares desconfiados dos apoiadores de Rhaenyra perfuravam a paz temporária da corte.

E então, sem que fosse convidada, Rhaenyra entrou no salão, o rosto endurecido, os olhos escurecidos por uma fúria silenciosa. Ela se aproximou de Alicent, que estava cercada pelos lordes e damas, e não hesitou em falar alto o suficiente para que todos ouvissem.

"Mais um filho, Alicent? Quantos mais pretendes dar a meu pai? Quantos mais herdeiros para disputar um trono que já tem dono?", as palavras de Rhaenyra cortavam como lâminas, cada uma mais afiada que a outra.

Alicent manteve a compostura, mas sentiu o calor subir em seu peito. "Rhaenyra, eu sou a rainha. Não há disputa aqui. Este reino prospera com mais herdeiros. Não deveria ser motivo de ressentimento, mas de celebração."

Rhaenyra deu um passo adiante, os olhos fixos nos de Alicent, o veneno de suas palavras refletindo a raiva acumulada. "Celebração? Meu pai mal consegue se lembrar de seus próprios filhos com você. Acha mesmo que este novo bebê será diferente? Quantos filhos você dá, Alicent, mas nenhum deles será eu. Nenhum deles será o herdeiro de verdade."

A sala mergulhou em um silêncio incômodo. Todos aguardavam uma resposta, mas foi Viserys quem, mais uma vez, interveio. Ele entrou no salão com um olhar grave, irritado pela tensão crescente. "Chega, Rhaenyra!", ele gritou, sua voz ecoando nas paredes. "Alicent está me dando outro filho. Isso deveria ser motivo de júbilo, não de amargura e ciúmes. Você é minha herdeira, nada mudou. Mas esses filhos também são parte de minha família. E você os respeitará."

Rhaenyra soltou uma risada seca, sem nenhum vestígio de alegria. "Família? Quando foi a última vez que deu atenção aos filhos que tem com ela? Aegon, Aemond, Helaena... você mal os conhece, pai. E agora mais um virá para ser esquecido."

Alicent fechou os olhos por um momento, o desconforto que ela vinha sentindo crescendo com cada palavra de Rhaenyra. Ela sabia que a princesa tinha um ponto. Viserys estava sempre tão absorto em manter Rhaenyra feliz e em sua posição de herdeira que deixava seus outros filhos em segundo plano, mesmo que não fosse sua intenção.

Viserys caminhou até Rhaenyra, seu olhar severo. "Eu não admitirei que esta discussão continue. A corte celebrará este nascimento. E você, Rhaenyra, como minha filha e herdeira, demonstrará respeito."

Rhaenyra, com os lábios apertados, virou-se abruptamente e saiu do salão, seu manto ondulando atrás dela como a cauda de um dragão furioso. Daemon, sempre à espreita, observava com seu sorriso enigmático, sem dizer uma palavra.

Alicent, ainda de pé no meio do salão, sentiu o peso da coroa e da maternidade sobre seus ombros. Ela daria mais um filho ao reino, mas sabia que, aos olhos de muitos, nunca importaria o suficiente. Eles eram filhos do rei, sim, mas seriam sempre "os outros", aqueles que não eram Rhaenyra. Ela olhou para Viserys, que, apesar de tudo, parecia distante, perdido em seus próprios pensamentos.

Ela suspirou silenciosamente, olhando para seus filhos que, embora animados com a ideia de um novo irmão ou irmã, não compreendiam ainda a complexidade das batalhas travadas dentro daquela família. A verdadeira luta não era contra dragões ou reinos distantes. Era dentro dos próprios muros da Fortaleza Vermelha, e os combates mais duros eram os silenciosos, aqueles travados no coração da rainha.