Entre Dragões e Serpentes

CAPITULO VII: A FILHA DO DRAGÃO

O vento uivava ao redor da fortaleza, as gotas de chuva batendo nas pedras como uma melodia distante, enquanto Alicent permanecia imóvel, a mão ainda estendida para Canibal. O dragão gigantesco, tão selvagem e indomável, inclinava-se diante dela como uma fera dócil, os olhos em brasa fixos nos de Dhaelyra, que o observava com uma serenidade perturbadora para uma recém-nascida.

O silêncio que se seguiu foi esmagador. Otto, ainda no quarto, parecia petrificado, incapaz de processar a cena diante de si. Seus lábios se mexiam, mas nenhuma palavra saía. Ele, que sempre estivera no controle de cada situação, agora se via diante de algo completamente além de seu entendimento. Alicent, sua filha, uma Hightower, estava parada diante do dragão mais temido de Westeros, e não apenas viva, mas com um controle que ele jamais imaginara ser possível.

— "Isso... isso é impossível," murmurou Otto, mais para si mesmo do que para qualquer outro.

Helaena, que até então permanecera quieta, deu um passo à frente, seus olhos grandes e inocentes brilhando com uma curiosidade infantil. A menina sussurrou algo baixinho, para si mesma, palavras desconexas, mas que pareciam ter um peso profético.

— "O dragão mais antigo... a filha mais nova... ligados pelo fogo e pelo sangue," disse ela, quase como uma canção.

Aemond, que assistia de longe, apertou os punhos com força, a admiração em seus olhos crescendo a cada segundo. Ele idolatrava dragões, mas nunca havia visto nada como aquilo. Alicent, sua mãe, era agora uma figura de poder, não apenas uma rainha frágil e protetora. E Dhaelyra, a irmã mais nova, parecia ser a chave para tudo.

— "Mãe," Aemond sussurrou, incapaz de conter a ansiedade. "Ele... ele vai levá-la?"

Viserys, parado ao lado do filho, parecia dividido entre o medo e a fascinação. Ele sabia que Canibal não era um dragão comum, e o que estava acontecendo ali era algo que nem mesmo ele, um Targaryen de sangue puro, jamais entenderia completamente. Ele respirou fundo, segurando o ombro de Aemond.

— "Não," respondeu Viserys, sua voz mais confiante do que ele se sentia. "Canibal não levará Dhaelyra. Ela é... ela é dele, mas ele não a levará agora."

Otto, recuperando parte de sua compostura, finalmente encontrou sua voz.

— "Nós precisamos parar isso, Viserys!" exclamou ele, seu tom desesperado. "A rainha está arriscando a própria vida! Canibal pode devorar ambas a qualquer momento!"

Mas antes que Viserys pudesse responder, Alicent finalmente se virou, ainda segurando Dhaelyra contra o peito. Seus olhos estavam diferentes, como se ela tivesse visto algo além do mortal naquele momento de conexão com o dragão.

— "Ele não fará mal a ela," disse Alicent, sua voz firme, mas serena. "Canibal a reconheceu. Ele sabe quem ela é... e quem ela será."

Otto, atônito, deu um passo à frente.

— "Mas quem ela será? O que isso significa, Alicent?"

— "Significa que ela não é apenas nossa filha," respondeu Alicent, seus olhos vagando da janela para a filha em seus braços. "Dhaelyra é mais do que isso. Ela carrega um poder que nenhum de nós pode compreender agora, mas o dragão sabe. Ele sentiu seu cheiro, o cheiro de seu sangue... e a aceitou."

Viserys deu um passo à frente, sua testa franzida, lutando para encontrar uma lógica em tudo aquilo.

— "Alicent, você está dizendo que Dhaelyra... nasceu ligada ao Canibal? Como é possível? Mesmo Rhaenyra, a primeira filha, não tem uma conexão assim com nenhum dragão."

Alicent olhou para Viserys, seus olhos brilhando com uma intensidade recém-descoberta.

— "Não é algo que podemos explicar com nossa razão, Viserys. O sangue de dragão sempre foi misterioso, imprevisível. Dhaelyra é diferente de todos nós. Ela nasceu em meio à fúria da tempestade, ao rugido de Canibal, e seu sangue chamou por ele. Eu... eu também senti. Quando ela nasceu, algo dentro de mim se acendeu. Eu pude falar com ele, como se sempre soubesse como fazê-lo."

Otto balançava a cabeça, incrédulo.

— "Isso não é possível," ele insistiu, sua voz tremendo. "Ela é apenas uma criança... uma recém-nascida. Como pode um dragão tão feroz ser acalmado por uma criança?"

Alicent sorriu levemente, olhando para Dhaelyra, que permanecia tranquila em seus braços, como se o caos ao redor dela fosse insignificante.

— "Não é apenas ela," disse Alicent suavemente. "O sangue Targaryen em mim, e o dela, juntos... é o que ele sentiu. Ele nos reconheceu. E agora, ele está ligado a ela."

Viserys parecia finalmente aceitar o que estava sendo dito, embora uma parte dele ainda relutasse em entender completamente.

— "E agora?" perguntou ele, olhando para o enorme dragão ainda pairando nas proximidades, sua presença como uma sombra gigantesca sobre a fortaleza. "O que acontece agora, Alicent?"

A rainha olhou para o dragão uma última vez, antes de se virar para o marido.

— "Agora, nós esperamos. Dhaelyra ainda é uma criança, mas o que aconteceu hoje prova que o destino dela é grande. Canibal estará lá, observando, protegendo... e talvez esperando o dia em que ela esteja pronta para reivindicá-lo como seu."

Viserys assentiu lentamente, seus olhos vagando entre Alicent, Dhaelyra e o dragão. Otto, ainda visivelmente abalado, não conseguiu encontrar palavras para expressar sua perplexidade, mas sabia que algo imenso havia começado naquele momento.

Daemon, que permanecera em silêncio na sala ao lado, observava tudo com uma expressão indescritível. Seu ódio por Alicent era notório, mas agora, ele via algo novo nela, algo que o deixava inquieto. O vínculo entre a rainha e o dragão não era natural – era um aviso. Ele sabia que a história de sua família estava mudando de uma maneira que ele não conseguia controlar.

— "Isso não acaba aqui," ele murmurou para si mesmo, com um sorriso cínico. "A filha da cobra verde... pode acabar sendo a mais perigosa de todas."

E enquanto o trovão reverberava ao longe e Canibal finalmente se afastava, voando para longe da fortaleza, todos sabiam que aquela noite mudaria os rumos da história dos Targaryen.

Dhaelyra Alyssa Targaryen, nascida em meio à fúria da tempestade e ao chamado de um dragão indomável, era agora mais do que uma princesa. Ela era um presságio do que estava por vir – a filha do dragão que, um dia, mudaria tudo.