Capitulo XV: O Legado do Sangue e Fogo

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A luz dourada da manhã filtrava-se pelas janelas dos aposentos de Dhaelyra, dando um brilho suave ao quarto onde as duas irmãs Targaryen se encontravam. Helaena, de apenas cinco anos, sentada ao lado da caçula, passava o tempo bordando com delicadeza o vestido de Dhaelyra, acrescentando pequenos dragões prateados em meio a uma trama de flores, enquanto observava a irmã brincar com seus dragõezinhos de madeira.

Dhaelyra, era uma criança encantadora e cheia de vida. Seus olhos brilhavam com uma curiosidade afiada enquanto segurava um dos pequenos dragões, dado a ela por Aegon e Aemond. Os brinquedos, esculpidos com habilidade, já mostravam sinais de desgaste pelos frequentes apertos e balbucios da bebê. Cada vez que Helaena olhava para ela, um sorriso brotava em seu rosto. Dhaelyra era um raio de luz na vida de Helaena, e, em sua inocência infantil, Helaena parecia sentir algo especial na pequena.

O leve ranger da porta trouxe uma nova presença ao quarto: Alicent. Ela entrou devagar, os olhos pousando primeiro em Dhaelyra, depois em Helaena. Alicent notara que Helaena se soltava mais com a pequena irmã, o que a fazia sentir um orgulho sereno por essa cumplicidade entre suas filhas. Dhaelyra, ao ver a mãe, soltou um gritinho alegre, estendendo as mãozinhas trêmulas e sorrindo, a expressão radiante. Alicent, encantada, sorriu e se aproximou, pegando Dhaelyra nos braços.

"Como está minha pequena Lyra hoje?", sussurrou Alicent, acariciando os cabelos prateados da filha.

Helaena olhava para a mãe com curiosidade, notando algo diferente em seu semblante. Nos últimos meses, Alicent parecia imersa em pensamentos, como se fosse tomada por um mistério que ainda não havia desvendado. De fato, algo perturbador pairava sobre a mente da rainha. Desde a descoberta da gravidez de Dhaelyra, Alicent fora invadida por uma série de sonhos e visões inquietantes que não conseguia ignorar.

Os sonhos começaram de forma sutil, com imagens de dragões em chamas, mas logo se intensificaram, mostrando cenas de Alicent enfrentando o que parecia ser um dragão monstruoso e selvagem. Em uma dessas visões, ela sentiu o calor das escamas de um dragão colossal e, para sua surpresa, não sentiu medo — ao contrário, havia algo que a conectava a ele. Cada visão parecia mais vívida que a anterior, e Alicent começou a investigar o que essas imagens significavam, vasculhando antigos tomos e documentos da biblioteca da Fortaleza Vermelha em busca de respostas.

Ela encontrou menções a uma antiga profecia, há muito tempo perdida entre os Targaryen, que falava de uma criança nascida com a benção e o sangue dos dragões mais ferozes, uma criança que, desde o ventre, compartilharia o sangue com a mãe, estabelecendo uma ligação única e capaz de transferir uma fração do poder dracônico para ela. Alicent, assustada com o que lia, não sabia se essa conexão era verdadeira, mas cada instinto dentro dela lhe dizia que Dhaelyra era especial, diferente dos outros filhos.

"Você acha que Lyra tem algo de diferente, mãe?" Helaena perguntou, sua voz calma e curiosa.

Alicent olhou para a filha e hesitou. Como explicar a Helaena o que ela mesma ainda tentava entender? Dhaelyra, mesmo em seus primeiros meses de vida, parecia emanar uma força incomum, algo que intrigava não apenas Alicent, mas todos que a cercavam. "Talvez," respondeu Alicent, com um meio sorriso. "Às vezes, os deuses nos abençoam com uma criança que é... única."

Enquanto segurava Dhaelyra, Alicent refletia sobre um dos textos mais recentes que havia encontrado. O livro falava sobre as gestantes que carregavam filhos com um poder latente, uma força herdada de antepassados que viveram em épocas remotas e domaram dragões em suas primeiras gerações. Segundo o texto, esses filhos traziam consigo uma espécie de energia primordial que podia influenciar o mundo ao seu redor — e, em alguns casos, essa força passava brevemente para a mãe.

Um arrepio percorreu a espinha de Alicent ao recordar de outro detalhe que lera na mesma página: tais crianças teriam a habilidade de domar até os dragões mais incontroláveis, incluindo o lendário "dragão canibal", uma fera temida por seu temperamento selvagem. Alicent começou a questionar o porquê de essa ligação ter surgido somente na quarta gestação. A cada vez que pensava nisso, uma inquietude tomava conta dela. O que havia de tão especial em Dhaelyra? Por que essa conexão fora estabelecida apenas agora?

Perdida em seus pensamentos, Alicent olhou novamente para Dhaelyra, que se aconchegava em seus braços, balbuciando palavras incompreensíveis e sorrindo. Uma faísca de compreensão surgiu em sua mente: talvez, desde o ventre, Dhaelyra tivesse um destino especial, algo que escapava à compreensão comum. A ligação dela com os dragões parecia ser mais profunda que a de qualquer Targaryen antes dela.

Em outra noite antes do nascimento, havia sonhado que ela própria, Alicent, se aproximava de um dragão imenso de escamas negras e olhos incandescentes. Ao contrário de qualquer experiência anterior, o dragão não a rejeitava; em vez disso, parecia aceitá-la, como se reconhecesse algo familiar nela. Era como se, por carregar o sangue de Dhaelyra durante a gravidez, ela tivesse herdado, ainda que por breves momentos, uma fração do poder de sua filha. A sensação era ao mesmo tempo assustadora e fascinante, e Alicent agora se perguntava se ela, por causa de Dhaelyra, possuía a habilidade de interagir com dragões outrora indomáveis.

Ao sair dos devaneios, Alicent viu que Helaena continuava bordando calmamente, de vez em quando lançando olhares carinhosos para a irmã. Helaena também parecia perceber algo especial em Dhaelyra, uma compreensão que só os inocentes possuem. Em um impulso, Alicent abraçou as duas filhas, como se aquele momento pudesse protegê-las do destino que, certamente, viria as encontrar.

Ela sabia que um dia teria que revelar esse mistério para Dhaelyra, contar-lhe sobre as visões e as profecias que lera, mas enquanto isso, deixaria que sua filha crescesse, descobrindo aos poucos sua força.

"Um dia, Lyra," sussurrou Alicent, quase para si mesma, "você saberá a grandeza que carrega e os mistérios que trouxe ao mundo."

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