CAPITULO IV: O Nascimento

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113 d.C

As nuvens negras envolviam a Fortaleza Vermelha como um manto sombrio. A tempestade, furiosa e indomável, chicoteava as muralhas do castelo, trazendo consigo presságios que os mais supersticiosos já temiam. No alto da torre, o quarto de Alicent Hightower estava abafado, o ar pesado com a ansiedade e o cansaço do trabalho de parto. A rainha, ofegante, com os cabelos colados à testa, parecia exaurida. Seus olhos, habitualmente vibrantes, agora se mostravam opacos, perdendo o brilho diante da dor lancinante. Viserys, com sua postura titubeante, mantinha-se ao lado dela, um misto de preocupação e esperança nos olhos.

 Viserys, com sua postura titubeante, mantinha-se ao lado dela, um misto de preocupação e esperança nos olhos

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"Alicent, minha rainha..." murmurou Viserys, a voz suave e ansiosa. "Não desista. Está quase lá."

Alicent, apesar da exaustão, apertou as mãos no lençol, sentindo que suas forças se esvaiam a cada segundo. A seu lado, Aegon, jovem e inexperiente, segurava a mão da mãe, o rosto marcado pelo temor de perder aquela que tanto amava. Aemond, ainda uma criança, permanecia quieto ao lado de Helaena, que, com olhos piedosos, tentava acalmar o irmão mais novo. Otto Hightower, rígido como uma pedra, observava o progresso com o olhar fixo e severo, como se sua própria honra dependesse daquele momento. Daemon, no fundo da sala, nada dizia, mas sua presença trazia uma tensão quase palpável, o brilho de escárnio em seus olhos, como se já aguardasse um desfecho infeliz.

Mas faltava alguém. Rhaenyra. Ela havia se recusado a presenciar o nascimento de mais um filho de Alicent. "Que outro nascimento infeliz é esse?", havia murmurado, enquanto se afastava, ignorando os apelos do pai.

Então, quando a última esperança parecia se desvanecer, e o silêncio tomava conta do quarto, algo imenso abalou o castelo. Um rugido. Mas não um rugido qualquer. Era um som ancestral, profundo, como se a própria terra tremesse com sua fúria. Canibal, o dragão que todos acreditavam estar perdido ou morto há anos, rugia novamente. E com aquele rugido, algo dentro de Alicent despertou. Seus olhos, que antes pareciam vazios, de repente brilharam com um tom púrpura. Roxos como os Targaryen de antigamente, os olhos de uma linhagem marcada pelo sangue do dragão.

"Alyssa... Alyssa..." sussurrou Alicent, enquanto apertava a mão de Aegon, que a olhava assustado. "Ela está vindo."

E então, com um grito final, Dhaelyra Alyssa Targaryen veio ao mundo. Pequena, mas robusta, com fios prateados de cabelo que brilhavam à luz das velas, e olhos que, desde o nascimento, eram como ametistas – tão roxos quanto o céu antes de uma tempestade. Alicent suspirou, e seus olhos, que haviam se tornado tão estranhamente violetas, voltaram ao verde natural de sua linhagem Hightower.

"Os deuses estão conosco," sussurrou Otto, num tom reverente.

Mas foi então que outro rugido sacudiu o castelo, e as muralhas da Fortaleza Vermelha tremeram. Canibal ainda rugia, furioso, lá fora, sua imensa silhueta visível contra a tempestade. O dragão, indomável e selvagem, não estava ali por acaso.

"O que é isso?" exclamou Aegon, seus olhos arregalados de medo.

"É Canibal," disse Daemon, sua voz cheia de desdém. "O dragão que ninguém jamais domou. Ele não veio para saudar essa criança. Ele veio para devorar."

Antes que qualquer um pudesse impedir, Alicent, ainda sangrando e exausta, ergueu-se com uma força inexplicável. Seus olhos, brilhando com algo quase sobrenatural, atravessaram a sala. Ignorando os apelos de Viserys e Otto, que lhe pediam para permanecer deitada, ela caminhou até a janela, onde o rugido de Canibal ecoava mais uma vez, como um trovão distante.

"Mãe, por favor," implorou Aegon, segurando seu braço, mas Alicent o afastou com suavidade.

Com os olhos fixos no imenso dragão, Alicent começou a murmurar palavras em valiriano, uma língua que ela não falava com frequência, mas que naquele momento parecia tão natural quanto respirar. "Jorepagon, ñuha zaldrīzes. Nūmāzma." (Se acalme, meu dragão. Não há ameaça.) Suas palavras, carregadas pelo vento, chegaram até a criatura, e Canibal, que antes se debatia com fúria, acalmou-se. Sua cabeça colossal inclinou-se levemente, e suas narinas soltaram uma fumaça espessa, como se estivesse finalmente em paz.

"Incrível," murmurou Helaena, fascinada, enquanto Daemon estreitava os olhos, sua expressão endurecida pela raiva.

Alicent levantou a mão, e, para espanto de todos, pousou-a suavemente sobre a escama negra do dragão. O contato durou apenas um momento, mas foi o suficiente. Canibal, o dragão indomável, rugiu uma última vez, mas desta vez, não com fúria, e sim com algo que soava quase como um lamento.

"Como...?" murmurou Viserys, sua voz trêmula com descrença.

"Os deuses..." começou Otto, mas parou, sem conseguir continuar.

Daemon deu um passo à frente, seus olhos chamejando de raiva e incredulidade.

"Não são os deuses, velho tolo," rosnou ele, seu olhar voltado para Alicent, "É a maldita bruxa verde."

A rainha, ainda ofegante, voltou-se lentamente para ele, seus olhos verdes agora sombrios como a tempestade lá fora.

"Ou talvez," ela sussurrou, sua voz carregada de um poder que ninguém havia percebido até aquele momento, "seja apenas o sangue do dragão correndo em minhas veias."

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