A Garagem

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Em um estado pequeno apelidado de New-J por Frank, ele e seus poucos amigos moravam desde sempre e viviam sem muitas expectativas, mas ele ainda sonhava com uma vida mais próspera, em um lugar mais promissor.

Ele havia terminado o ensino médio havia menos de um ano, já seu melhor amigo, Ray havia saído dois anos antes. Porém ambos não haviam ingressado em universidade alguma. Ray dizia que esse não era seu futuro: estudar, se formar, trabalhar em um escritório, casar, ter filhos, morrer querendo ser rico, mas ainda recebendo ordens de alguém verdadeiramente rico. Frank tentou ir para a faculdade, mas ele não negava sua falta de empenho nos estudos.

Ray tinha uma banda, que ele e um grande amigo do colégio formaram pouco antes de assumirem para os pais que não iriam fazer coisa alguma a não ser viver da música até não mais poderem e morrerem.

O amigo de Ray se chamava Mikey e tocava baixo na banda. Ele era um garoto magricelo, de cabelos loiros penteados de forma estranha e que usava óculos quadrados e munhequeiras nos dois pulsos. Ray era o cara de cabelos cacheados e muito volumosos e que tocava guitarra. Quem comandava a bateria era outro garoto loiro, mas este ainda tinha olhos azuis e uma cara fechada, de poucos amigos ou de quem guarda um segredo sério. Todos o chamavam de Bob. Já o vocalista da banda era o irmão mais velho - que aprecia mais novo - de Mikey, um garoto pálido, de cabelos pretos e escorridos, que aos olhos de alguns colegas de Ray, tinha talentos para ser um nerd fracassado, não um rockeiro e líder de uma banda. Seu nome era Gerard.
Foi quando os membros da banda perceberam que Gerard não conseguiria cantar e tocar a guitarra de base ao mesmo tempo, que Ray chamou Frank para se juntar ao grupo e este nem se quer pensou duas vezes antes de aceitar o convite.

A banda ensaiava na garagem da casa dos irmãos Gerard e Mikey Way, ambos haviam crescido com a avó viúva que perdera o marido quando Gerard ainda tinha quatro anos. Os pais dos irmãos também moravam na mesma casa, mas Mikey sempre disse a qualquer um que perguntasse que sua avó o havia criado e ensinado tudo.

Um mês foi o suficiente para Frank se sentir entre verdadeiros amigos e começar a ajudar nas composições. Mais do que rápido ele se tornou muito próximo de Gerard, que se mostrava ser sensível e também genial. O que foi mais difícil para Frank foi explicar aos pais que também gastaria todo seu tempo com uma banda de rock de garagem.

-Isso não tem cabimento! - gritou o pai de Frank ao receber a notícia. O filho estava sentado no sofá, aparentemente tranquilo, mas na verdade estava bem nervoso e com medo de ceder às ordens grosseiras do pai.

-Anthony! - interviu a mãe. - Fale baixo. Nada vai se resolver assim, na gritaria.

-É isso que você quer? - continuou o pai, ignorando as falas da esposa. - Virar um Zé Ninguém?

-Muito pelo contrário - Frank começou. - Eu quero ser alguém, não quero me ver daqui a uns vinte anos sendo o que o senhor é.

-"O que eu sou"?! Eu tenho uma família e um ótimo emprego que garante a comida que você come, as roupas que você rasga antes de vestir. Mas o que você vai ser? Quem vai te sustentar? Vai ficar dependendo de mim pra sempre? Eu não vou sustentar filho nenhum pelo resto da vida. Eu lhe criei pra um dia ser alguém... - Anthony já estava falando mais baixo, com menos raiva.

-Eu vou ser alguém, Pai. O senhor só precisa acreditar em mim.

O pai parou e encarou o filho por alguns segundos. Depois se virou e saiu da sala com uma mão na cintura e a outra na cabeça. Frank olhou para a mãe e não conseguiu identificar sua expressão e associá-la a uma emoção. Porém ele gostou daquela conversa. Falou o que queria falar e não terminou aquela discussão com ódio, mas com esperança de que um dia tudo ficaria bem.

Aw, SugarOnde histórias criam vida. Descubra agora