Um Tempo

193 20 3
                                    

Mais uma vez Frank acordou pela manhã e se viu no quarto do namorado, cada vez mais escuro e mais cheio de desenhos. Havia caixas e pastas e cadernos para organizar os desenhos e as letras de música que Gerard criava, mas nem sempre a bagunça conseguia ser controlada.
Naquela manhã, porém, algo estava estranho naquele quarto. Frank precisou se mexer e sentar-se na cama para perceber que havia acordado sozinho.
Na noite anterior, Gerard havia voltado para casa muito triste e parte daquele sentimento ruim que deixaram seus olhos molhados naquela noite, era culpa do namorado. Ainda assim, ele deixou Frank dormir com ele, como haviam combinado antes. Porém o clima não foi dos melhores, eles mal conversaram durante a noite e adormeceram logo, sem nem se despedirem com um beijo.
Frank parou para refletir. Por um instante pensou se não seria melhor dar um tempo no namoro, mas não conseguia imaginar como seria a vida dele fingindo que não queria estar com Gerard o tempo todo. Depois pensou em onde estaria o namorado porque já estava com saudade. Frank não estava triste, mal se lembrava da raiva que sentira na noite anterior, ao ver seu namorado declarar um amor pelo amigo.
Por fim, Frank resolveu procurar o namorado e fazer algo legal.
Ao sair do quarto, Frank foi até o quarto de Mikey. Bateu e entrou ao ouvir a permissão vindo de dentro.
-Sabe onde seu irmão? - Frank perguntou, fechando a porta atrás de si.
-Não - Mikey estava tentando entender o que estava acontecendo, mas também temia ouvir alguma coisa que não queria, como que uma descrição detalhada do sexo do irmão com o cunhado. - Vocês estão bem?
-Não sei. Queria fazer uma surpresa pra ele, mas não sei bem o que.
Houve um silêncio. Até que Frank parecia ter finalmente pensado em algo bom a se fazer.
-Vai procurar ele! - ele pediu a Mikey. - Eu vou voltar pra o quarto.
-O que você vai fazer?
Frank não respondeu, somente deixou escapar um sorriso antes de sair do quarto de Mikey e voltar ao de Gerard.
Mais uma vez no quarto do namorado, Frank se despiu e deitou de bruços na cama. Ao entrar, a primeira coisa que Gerard veria seria o traseiro pálido do namorado. Entretanto, para surpresa de Frank, não foi seu namorado que entrou no quarto para ver tal cena, mas seu cunhado.
-Ah, meu Deus! - Mikey tentou não gritar, tapou os olhos com a mão e saiu.
Frank se desesperou e se cobriu com os lençóis. Do lado de fora do quarto, com a porta entreaberta, Mikey deu o recado que havia ido dar.
-Gerard não aqui. Ele saiu pra comprar cigarros.
-Cigarros? - Frank estranhou e quase se esquecendo da vergonha que deixara suas bochechas vermelhas. - Ge não fuma!
-Eu sei, mas foi o que minha avó disse.
Frank suspirou decepcionado, sentindo sua empolgação entre as pernas diminuir de tamanho.
-Você quer descer pra tomar café? Acho que ele volta logo - Mikey perguntou ainda atrás da porta.
Frank estava começando a ficar triste, decepcionado.
-Não - ele resolveu-se. - Vou pra casa.
Frank se vestiu e saiu da casa dos Way sem se despedir de qualquer um. No caminho de casa, voltou a pensar em dar um tempo no namoro.
-Ele gosta de Bert! Tipo, daquele jeito - Frank tentava explicar o que pensava para Ray no telefone, deitado no chão do seu quarto.
-Nada a ver, Frank! - Ray respondia.
-Como não? Ray, você não viu o que eu vi. Ontem, Gerard tava chorando porque Bert não tinha ligado pra ele nos últimos dois dias! E ele disse na minha cara que o amava.
Ray seguiu em silêncio.
-E hoje ele simplesmente sumiu, me deixou lá, sozinho na cama. Ainda paguei o maior mico tentado fazer uma surpresa pra ele.
-Como assim? - Ray tentou não rir.
-Nada! - Frank desconversou.
E o silêncio voltou.
-Você ligou pra ele hoje? - Ray quebrou o silêncio.
-Não - Frank não falou com orgulho, mas triste. - Ele não queria falar comigo.
-Uhmm. E o que você vai fazer?
-Não sei.
-Nosso show no Otto's já é nesse fim de semana, vocês precisam se resolver ou pelo menos ser profissionais.
-Quando vai ter ensaio?
-Amanhã!

A noite chegou e Frank não conseguia parar de pensar na situação que seu namoro se encontrava. Por alguns minutos ele se sentia culpado por alguma coisa que nem ele sabia o que de fato era, ainda assim sentia que havia feito algo errado ou deixado de fazer algo certo. Poucos minutos depois ele estava se sentindo traído, tinha quase certeza de que seu namorado amava mesmo outro, mas não conseguia admitir isso a si mesmo, muito menos para ele. Entre a raiva, a tristeza, a saudade, a preocupação, o ciúme e o medo, Frank estava prestes a enlouquecer, mas conseguiu colocar tudo para fora através da guitarra e do pedaço de papel sobre a mesa de cabeceira.
Ele não telefonou para Ray, muito menos para Gerard naquela noite, poupou algumas palavras e escolheu bem outras para criar uma música que ele mesmo acharia terrível um ano depois. Entretanto, na manhã seguinte ele mostrou sua nova criação para Ray - ou parte dela - já na garagem, enquanto ainda estavam a sós.
O amigo gostou do resultado, mas achou a letra "um tanto confusa".
-O que você quis dizer com "eu te trouxe minhas balas e você me trouxe seu amor"? - Ray quis saber.
-Ahm... Eu acho - Frank não tinha certeza se conseguiria explicar, ainda mais achando que o amigo havia odiado aquilo.
-Eu gostei. Na verdade é coisa mais legal nessa música - Ray estava sendo sincero.
Bob entrou na garagem.
-Quem quer ser produzido por RICKLY!? - ele gritou.
-Não!? - Ray não consegui considerar aquilo como verdade, a princípio, mas não conteve sua animação. - Você não falando sério!
-Claro que to, porra!! Eu enviei há algumas semanas nossas demos pra ele, pra o Elders, e umas sete gravadoras. Nessa madrugada recebi um e-mail de Rickly dizendo que gostou muito das nossas letras fortes e da pegada underground. Eu fiquei: Oh, meu Deus! Quase morrendo. Ele pediu pra manter contato e que a gente PRECISAVA se encontrar.
Mikey e Gerard entraram na garagem nesse momento. Frank tentou se empolgar com a novidade, mas não conseguia expressar nada em seu rosto pálido. Somente seus olhos fixos nos do namorado eram capazes de transmitir emoção. E uma só: medo.
-Respondi o e-mail na mesma hora... - Bob não parava de falar, e Gerard e Frank não desviavam o olhar um do outro.
Gerard parou de frente, mas do outro lado da garagem, encostado na parede. Frank ainda estava sentado com sua guitarra no colo, ainda sentindo medo. Já o namorado transmitia somente tristeza, ou talvez um pouco de raiva.
Mikey percebeu e desviou a atenção de Bob para os dois. Ray também observou Gerard, esperando alguma ação. Até Bob resolveu parar de gritar e pular, para entender.
-O que acontecendo?
Frank ansiou pela resposta também, uma boa resposta vindo de Gerard.
-Acho melhor a gente dá uma licença pra os dois conversarem - Mikey deu dois passos em direção à saída.
-Como é que é? - Bob não havia entendido, muito menos acreditado que sua grande boa notícia seria ignorada a esse nível.
-Dez minutinhos - Ray empurrou Bob para sair com eles. - Você pode continuar a falar lá fora.
-Vamo lá pra casa - Mikey saiu por último e fechou a porta.

Aw, SugarOnde histórias criam vida. Descubra agora