Pesadelos

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Frank acordou suado, com os olhos inchados, em um colchão no chão do quarto de Ray. Ele havia chorado a madrugada inteira, logo depois que Ray caíra facilmente no sono.
Frank sentiu uma vontade enorme de falar com Gerard, passara a noite inteira pensando e falando dele e de como tinha medo de estar sendo idiota, mas acabou não ligando para o namorado por ainda estar com raiva. No fundo ele sabia que podia confiar no namorado, mas o ciúmes que sentia lhe deixava quase cego à realidade e o que Quinn gritou no velório o ajudou a esquecer a razão. Entretanto pela manhã, ele se sentiu sozinho e não via mais sentido na sua raiva.
Ele pegou o telefone e ligou para Gerard, mas ninguém atendeu na primeira tentativa. Já na segunda, alguém atendeu, Bert.
-Alô? - Frank estranhou a voz. Ele estava nervoso, preparando seu pedido de desculpas e ainda se deparou com essa situação.
-Oi, Frank - Bert falou com uma voz cansada.
-Cadê Gerard?
-Ele no banho. Quer falar com ele, né? - Bert estava deitado na cama, mas se levantou, lentamente, para ir até o banheiro de sua casa. - Vou levar o telefone pra ele.
-Não!! - Frank quase gritou. Não queria que Frank entrasse no banheiro e encontrasse o seu namorado pelado.
-Por que não? - Bert conseguiu rir, parado no corredor.
Frank assumiu aquela risadinha como um deboche e se perguntou se Bert não estava provocando-o.
-O que acontecendo? - Frank pensou alto.
-Como assim - Bert não entendeu.
-Diz que eu liguei - e Frank desligou.
Frank se sentiu mal mais uma vez. Sentiu uma dor no peito, como um peso sobre ele.
-O que foi? - Ray se aproximou para saber.
-Que ódio! Gerard tinha que dormir lá de novo? - Frank não conseguiu evitar a explosão. Mas não gritou ou se exaltou, apenas desabafou. - Você acha que ele teria uma recaída com Bert?
-Acho que não, Frankie. Você tem que parar de ter ciúmes deles dois, não vai te levar a lugar nenhum. Nenhum lugar bom, pelo menos.
-Você mesmo tava com ciúmes de mim com Gerard, e isso não te levaria a nenhum lugar bom.
-É, porque... - Ray se sentiu constrangido em admitir e nem conseguiu continuar.
-Não vou te trocar por ninguém, Ray - Frank quis deixar claro e abraçou o amigo. - Eu te amo e você é meu melhor amigo desde que me chamou pra entrar na banda.
Os dois gargalharam e Ray empurrou o outro.
-Seu frango! - Ray xingou.
-Sério. Eu tinha medo que você não me considerasse tanto, mas eu meio que acabei com minhas duvidas quando você me fez o convite. Você é um amigão, Ray, não te trocaria por ninguém.
-Gerard ama você - Frank foi surpreendido pela fala do amigo. - Ele não te trocaria por ninguém. Ele seria um idiota completo se fizesse isso.
-Você apaixonado por mim, Ray?
-To! Me dá um beijo - Ray brincou.

Gerard estava pintando de preto as unhas do melhor amigo, em cima da cama. Ambos ainda estavam na casa de Bert, tentando fugir dos problemas recentes e repentinos.
-Queria deixar de gostar dele - confessou Bert que não parava de pensar em Quinn.
-Eu já to com saudade de Frank e queria não tá - Gerard comentou por sua vez. - No começo achava o ciúmes dele algo engraçado, agora tenho medo de que...
-De que ele fique como Quinn? Um doido idiota? - Bert interrompeu. - Não se preocupe. Isso não vai acontecer.
-Como você sabe?
-Vocês são amigos, além de namorados. Há uma cumplicidade entre vocês que Quinn nunca teria comigo. Às eu me sentia uma propriedade dele. Uma coisa. Um buraco pra ele enfiar o pau dele - uma pausa. - Vocês dois só precisam conversar.
-Ele não vai vir atrás de mim. Ele é orgulhoso - Gerard baixou a cabeça, em função da dúvida entre ficar com raiva ou triste.
-Mas ele já ligou... - Bert ressaltou.
-É, mas não falou comigo e não ligou de novo.
-Não é você que sendo orgulhoso de mais, Ge? - Bert teve a impressão de estar lidando com uma criança mimada e estranhou, pois seu amigo nunca havia agido assim antes, apesar de ser, de fato, mimado. - Talvez você teja complicando uma coisa simples.
Gerard parou, olhou para a janela do quarto e suspirou.
-Você vai ficar bem? - Gerard se levantou.
Bert assentiu com a cabeça e quase sorriu e o amigo lhe deu um beijo na testa.
-Te ligo mais tarde - e saiu do quarto gritando: - eu te amo muito!
-Eu também te amo! - Bert também gritou para que o outro ouvisse lá da escada.
Gerard saiu da casa do amigo e pegou um ônibus que o levou até a casa de Frank. Ainda nervoso e sem saber ao certo o que diria a Frank para resolver essa primeira briga do casal, Gerard simplesmente bateu na porta. Depois tocou a campainha. E quase bateu na porta novamente, mas a mãe do namorado atendeu.
-Oi! - Gerard sorriu nervoso, segurando as próprias mãos. - Frank aí?
-Não! - ela parecia triste ou com raiva, ou preocupada, ou tudo junto. - Pensei que ele tivesse com você.
-Ahm, ele deve com Ray, eu acho - Gerard deu dois passos para trás, começando seu caminho de retirada.
-Gerard! - a mãe de Frank chamou. - Pede pra ele ligar pra mim, eu fico preocupada com ele, não quero que ele saia de casa assim.
-Ele saiu de casa? - Gerard voltou os dois passos que havia dado para trás.
-Ele não te contou? Você é mesmo o namorado dele?
-É que a gente brigou ontem. Eu vim aqui... pedir desculpas.
-Quem é?! - o pai de Frank gritou de dentro da casa e parecia irritado.
-Acho melhor você ir - a mãe disse. - Não me deixe aflita! Peça para ele ligar!
Gerard já corria para longe, mas acenou concordando. O pai de Frank veio à porta.
-Quem é aquele? - ele avistava o garoto virando a esquina.
-É o amigo de Frank - foi a resposta da mãe.
-Amigo? Você me escondendo coisas, não ?
-Ele é o namorado do meu filho! Pronto? Satisfeito? O que mais você quer, Antony? Porque eu quero meu filho de volta! Independente de quem ele namora ou o que ele faz pra alcançar os sonhos.
O pai de Frank permaneceu parado por um tempo, em silêncio, encarando a esposa.
-Você sabe que eu nunca expulsaria nosso filho de casa. Independentemente de ele ser... homossexual ou... normal.
Na cabeça daquele homem, ser gay provavelmente era uma doença, já a mãe de Frank não esperava cura alguma, somente a volta do filho.

No caminho para a casa de Ray, Gerard recebeu um telefonema de Bert.
-Oi! tudo bem? - ele já atendeu preocupado.
-sim. É só que Frank veio aqui, procurando você - foi a resposta de Bert do outro lado da linha.
-Como é que é? - Gerard não conseguiu acreditar de imediato.
-Isso mesmo.
-Ele ainda aí?
-Não, acabou de sair.
-Pra onde ele foi?
-Eu não sei. Falei que você tinha ido atrás dele, e ele saiu.
-Ah, meu Deus! - Gerard já estava de pé no ônibus, inquieto, tentando decidir o que fazer.
-Acho que ele bêbado - Bert quis comentar.
-Eu vou descer aqui, e tentar voltar pra aí, tá? Tchau.
Gerard desligou o telefonema e deu parada no ônibus. Desceu na entrada do bairro da casa de Bert e teve que andar, quase correr, mais de cinquenta metros até a rua da casa do amigo.
Cansado, suado e esbaforido, Gerard procurava algum sinal do namorado pelas ruas quase vazias às 20h.
Eles estava indo em direção à casa de Bert e já estava pensando em ligar para Frank quando finalmente o avistou na parada de ônibus, prestes a subir em um que provavelmente o levaria para a casa de Ray.
-Frank! - Gerard gritou.
O outro ouviu e desistiu do ônibus. Gerard não conseguia mais correr, e só deu três passos em direção a Frank esperando o outro se aproximar.
-Desculpa, Ge - Frank disse, quando chegou perto do outro. - Me desculpa!!
-Tudo bem, eu quero que você me desculpe também.
Gerard pegou na mão de Frank e o namorado riu, gargalhou e deu um passo à frente.
-Você bêbado? - Gerard também sorriu.
-Não! - ele se jogou em cima do namorado e lhe deu um beijo.
Gerard pôde sentir o gosto de álcool no beijo, mas não se incomodou. Queria muito beijar o namorado e matar a saudade, a tristeza e a raiva.
-Você precisa tomar banho - Gerard disse depois que sentiu também o cheiro forte de cigarro.
-Eu preciso te comer! Quero te comer! Quero morder sua...
-Frank, vamo pra casa - Gerard interrompeu o namorado.
-Eu saí de casa.
-É, eu sei. To falando da minha casa.
No ônibus mais uma vez, agora indo para casa, Gerard telefonou para Bert e lhe deixou ciente sobre o desfecho da noite. Também mandou uma mensagem para Ray. Depois teve que lidar com a empolgação do namorado que tentava lhe agarrar no fundo do ônibus.
-Frank! Se comporta! - dizia Gerard rindo e controlando a mão boba do outro que buscava achar pontos estratégicos para se enfiar.
Ao chegarem em casa, Gerard tomou um banho com o namorado, mas eles não transaram naquela noite. Frank estava bêbado e Gerard, cansado. Então simplesmente dormiram logo.

Aw, SugarOnde histórias criam vida. Descubra agora