Aw, Sugar

Eu Quero

Quando Gerard finalmente desceu até a garagem da banda, todos já estavam lá. Frank já estava comentando e mostrando uma música nova que estava começando a compor, mas que na verdade não tinha letra alguma somente uma introdução na guitarra e um solo longo que Ray achou genial. Ele também tinha uma sugestão de título para a música e até mesmo um tema para seu conteúdo.

-Parece loucura, mas veio tudo de uma vez só numa noite - ele tentava explicar. Entretanto não era preciso muitas explicações, todos ali entendiam perfeitamente o que Frank estava sentindo e o que ele havia sentido na noite anterior.

Gerard começou a dar ideias para complementar tudo, Bob não estava sentado em seu banquinho atrás da bateria, estava ao lado de Frank gravando no celular o que este reproduzia na guitarra, mas ainda assim batucava com os pés, ajudando a criar um ritmo.

Já passava das três da tarde quando eles resolveram fazer uma pausa para o almoço. Ray ainda tentou convencer Mikey que não era certo eles sempre comerem lá na casa dos Way, mas os argumentos de Mikey foram mais convincentes e todos comeram  lá mais uma vez. Depois do almoço rápido todos voltaram para a garagem, mas não voltaram à música, o assunto da vez era o futuro da banda.

Gerard estava sentado no canto, um pouco longe do restante dos membros da banda, como se estivesse mesmo sendo encurralado pelos outros.

Frank queria encará-lo com seriedade enquanto Ray e Bob falavam sobre alguns festivais de bandas locais que eles poderia estar inscritos. Porém Frank se lembrava da cena que havia visto mais cedo e só conseguia olhar para Gerard com ternura em seu olhar.

Gerard não conseguia encarar Ray nos olhos, muito menos Bob, enquanto eles quase gritavam com ele. Logo, este procurava fixar os olhos em outro lugar. Olhava para o chão, para os lados, para as mãos, para a bateria, por fim olhou para Frank e não conseguiu mais desviar o olhar. Frank também o olhava, ainda mantinha o olhar de ternura que deixou Gerard vermelho.

Enquanto os meninos discutiam e não paravam de falar sobre tudo que eles sonhavam, Gerard e Frank pararam de prestar atenção em qualquer coisa além deles dois. Frank já começava a mudar sua expressão, Gerard poderia jurar que ele estava começando a ter pensamentos "sujos" graças ao leve sorriso no canto da boca que Frank não conseguiu esconder. Gerard continuava vermelho e o sorriso que ele não conseguiu segurar foi reflexo de sua timidez. Porém ninguém queria desviar o olhar. A conexão foi quebrada apenas quando Mikey chutou o irmão e quase gritou:

-Gerard!

-O que é? - ele olhou para o irmão e para Ray e Bob também.

-A gente é ou não é uma banda? - perguntou Ray, com calma.

-Somos sim - Gerard voltou à discussão e suspirou. - Com certeza somos uma banda.

-E qual é o sentido dela? Qual é o propósito? - foi a vez de Bob, não tão calmo.

-Eu não sei... - Gerard tentou responder, mas não pôde. Abaixou a cabeça para pensar um pouco mais.

-Sabe quando você quer gritar o que sente? - começou Frank. Gerard logo voltou o olhar para ele, assim como todos. - Algumas pessoas tem o dom de gritar isso com palavras escritas num papel, outras gritam em cores numa tela. A gente tem a oportunidade de gritar todas as nossas ideias e todos os nossos sentimentos num microfone. Mas de que adianta gritar se não tem ninguém pra ouvir?

-E o que garante que alguém vai querer ouvir? - foi o que Gerard questionou.

Bob bufou impaciente.

-Nada - Frank disse. - Mas a gente nunca vai saber se não...

-Tentar! - completou Ray. - Isso mesmo! Porra, Ge! Eu sei que você tem medo, e a gente também tem, a questão é que a gente não pode deixar isso nos impedir, caralho. Vai tá todo mundo junto nessa.

-É o que eu espero - disse Bob. - Por isso essa conversa. Se fosse outra turma, a gente ia tá procurando outra pessoa pra cantar, não insistindo pra você ficar e fazer parte.

-Vamo, Gerard - pediu por fim Mikey.

Houve um silêncio tenso que durou pouco mais de cinco segundos, mas que pareceu durar no mínimo cinco minutos. Gerard respirou fundo e os outros se preparavam para o que estava por vir. Ray até se arrepiou quando ouviu o que o vocalista da banda disse.

-Eu quero! - foi o que Gerard disse, com segurança em cada sílaba que proferiu. E ainda repetiu para ratificar, mas dessa vez olhando nos olhos de Frank: - Eu quero!

Os meninos celebraram e Bob voltou a falar de um festival de bandas novas que estava para acontecer na capital. Bob sugeriu que eles se inscrevessem para participar, mas teriam que ter um bom material para apresentar aos produtores e um ótimo repertório para o público caso conseguissem um horário em um dos palcos do festival.

A noite chegou logo e empolgação não faltou para que a conversa e a troca de ideias seguissem até as dez da noite sem intervalos para lanche ou janta.

Na despedida, Gerard fez questão de abraçar Frank e este fez questão de fazer o abraço durar. Quando a porta da garagem foi fechada e Gerard e Mikey começaram a se dirigir à porta de casa e os outros três rapazes passaram a seguir seus próprios caminhos, Frank resolveu subitamente, voltar e arriscar algo.

-Eu esqueci minha guitarra aí.

Gerard parou e olhou para ele com um sorriso estranho. Ray e Bob também voltaram um pouco para entender o motivo do outro ter voltado para falar com Gerard e Mikey.

-Quer que eu pegue? - Gerard queria ter certeza do que estava acontecendo. Se estava apenas imaginando coisas ou aquilo era mesmo uma desculpa pra terminar a noite de outra forma.

-Quero - respondeu Frank um pouco nervoso.

-Não, Frank - sugeriu Ray. - Tá tarde. Vai que a gente seja assaltado e te levam a guitarra.

Frank ficou na dúvida. E Gerard também. Todos os cinco se entreolharam em silêncio fazendo a situação ficar estranha, causando uma agonia ou desconforto em Gerard.

-Vai que eu fique inspirado e precise dela?! - Frank achou uma saída.

-Até aparece! - começou Bob. - Sua cara de sono diz que você não vai fazer nada quando chegar em casa além de comer e dormir. Nem tomar banho vai.

O fato de Gerard não se mexer ou tentar forçar a situação para ajudar Frank, fez com que este desistisse de todo o seu plano de ficar sozinho com o outro na garagem por dois minutos que com certeza seriam bem aproveitados.

-Tá bom.

E finalmente todos se foram. Frank nem se quer olhou para trás. Gerard ainda o observou ir embora por um tempo e em seguida entrou irritado consigo mesmo.