Amando

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Por cinco dias, em três semanas, os meninos da banda foram ao estúdio gravar todo material que eles achavam importante e bom o suficiente para merecerem uma aposta alta.

Entre os dias de estúdio, eles se reuniam na garagem para praticar, escrever e compor mais, planejar e simplesmente desfrutarem do entusiasmo conjunto.

Frank e Gerard também estavam aproveitando cada momento em que podiam estar juntos e a sós. Houve uma noite que eles transaram na garagem, sobre um tapete nada limpo no centro do cômodo bagunçado, entre a bateria, a cadeira velha e outro banco desconfortável.

Frank estava feliz e seu namorado também. Tudo parecia ir tão bem, que ninguém se lembraria de ter medo de que algo ruim estragasse tudo. Ninguém, a não ser talvez Gerard que parecia sempre esperar esse algo ruim chegar, certo de que ele sempre chega, cedo ou tarde.
Na semana em que Bob chegou dizendo que eles tocariam no bar pela primeira vez no fim de semana seguinte, Bert chegou na casa de Gerard chorando com um olho roxo e a boca inchada.
-Pelo amor de Deus! O que aconteceu? - perguntou Gerard desesperado quando atendeu a porta de casa e deu de cara com o amigo naquela situação.
Bert deu um passo para dentro e se jogou nos braços do outro.
-Por favor, me diz que não foi Quinn que fez isso.
-Foi o pai dele - Bert gemeu com o rosto escondido no peito de Gerard.
-Filho da puta!
No quarto, Bert conseguiu contar ao amigo que Quinn resolvera assumir para o pai que estava namorando com ele e que "nada que o pai fizesse iria impedir aquilo". Entretanto obviamente o pai de Quinn tentara impedir aquilo que para ele era muito nojento, mas nada muito difícil de solucionar. A intensão daquele homem ignorante e bruto, que não conseguia passar um dia se quer sem beber no mínimo dois copos grandes de álcool, era bater no filho e naquele outro garoto até que eles deixassem de sentir aquele desejo um pelo outro.
-Quinn conseguiu revidar um ou dois murros e depois me puxou pelo braço pra fora de casa. Ele me abraçou e mandou eu ir embora.
-E ele ficou lá? - Gerard estava tentando entender.
-Eu não queria deixar ele lá ou simplesmente ir embora. Mas ele disse que era a coisa certa a fazer naquele momento e que tudo ficaria bem.
Bert se calou e ninguém mais falou coisa alguma por uns longos minutos. Bert olhava para o nada, se lembrando da cena e seu amigo mantinha o silêncio, porque tentava imaginar a mesma cena.
-É incrível, Ge! - Bert quebrou o silêncio finalmente, segurando a mão do amigo.
-O quê? - Gerard olhou nos olhos inchados do outro.
-O amor. Você simplesmente sabe o que é o amor, quando você simplesmente se vê assim.
-Assim? Machucado?
-Assim... Amando.
Bert levou as mãos até o rosto de Gerard, tirou alguns fios de cabelo de seu olho e então segurou seu rosto, sempre olhando em seus olhos.
-Ele me olhou assim, me tocando assim e disse que tudo ficaria bem. Como eu duvidaria disso?
A porta do quarto se abriu e Frank estava do outro lado prestes a entrar, mas de fato se assustou com a cena que viu. Ele não viu Gerard e seu melhor amigo conversando sobre uma briga ou sobre um futuro difícil.
Ele viu seu namorado na cama com outro cara que estava prestes a beija-lo.
Então Frank não entrou no quarto. Também não fez um escândalo ou iniciou uma discussão, muito menos uma briga violenta como a que Bert já havia se metido no começo daquele dia. Ele somente deu a volta, desceu as escadas correndo e se foi.
-Merda! - Gerard se levantou da cama rapidamente e na mesma velocidade abandonou o amigo, desceu as escadas e também saiu da casa.
Ele parou de correr antes mesmo do décimo passo fora de casa, porque não via Frank. Ele não teria corrido tão rápido para tão longe, mas já não estava ali ao redor e Gerard não conseguia mais vê-lo. Certamente Frank não teria desaparecido. Entretanto Gerard não iria conseguir alcançá-lo se nem ao menos sabia para que lado seguir correndo.
De volta ao seu quarto, Bert ainda estava lá, sentado na cama.
-A culpa é minha?
-Não - Gerard estava um pouco ofegante. - A culpa não é de ninguém.
-Há sempre alguém a ser culpado ou sempre alguém a quem se deve agradecer - as palavras saíram da boca sabia de Bert que sempre admirou o amigo por ter esse dom.
-Então vamos culpar o filho da puta que te fez isso - ele apontou com o queixo para o olho roxo do amigo.
Naquela tarde, Gerard passou o tempo preocupado com o que Frank estaria pensando, mas não abandonou o amigo e o ajudou com algumas palavras e um saco de gelo no olho e também na maçã do rosto.
Já no comecinho da noite ele foi de ônibus até a casa de Bert o acompanhando e não se demorou lá, pois planejava ir a outro lugar. Esse outro lugar não era muito longe de onde o amigo morava, mas não foi andando. Pegou outro ônibus e desceu na rua da casa de Frank, andou pouco até lá e tocou a campainha. Quem lhe atendeu foi a mãe de Frank.
-Oi... - ela não se lembrava do nome de Gerard, então só aguardou.
-Oi, tudo bem? Frank aí? - Gerard não conseguiu ser mais simpático do que isso, afinal estava preocupado com sua atual situação com o namorado.
-Está sim... - a mãe estava prestes a convidar Gerard para entrar, então escancarou a porta de vez, mas Frank já estava se aproximando da porta e a impediu.
-Tudo bem, mãe. Eu falo com ele aqui - ele disse friamente, olhando para o jovem rapaz na calçada de sua casa.
Frank estava vestindo um calção folgado que não alcançava seus joelhos e uma camiseta sem mangas e costumizada. Roupas que deixaram Gerard tão fascinado e excitado que ele quase se esqueceu do que havia ido fazer ali.
-O que foi aquilo? - Gerard falou quando se recompôs e depois que a mãe de Frank havia saído de perto, é claro.
-Eu que deveria fazer essa pergunta, não? Que merda foi aquela?
-Qual merda? O que você viu? O que você achou daquilo?
-Você sabe muito bem o que aquilo parecia!
-Sei o que parecia, mas parecia e você sabe muito bem que só parecia - Gerard já estava irritado o suficiente para aumentar o tom de voz sem se preocupar com quem poderia ouvir aquela conversa. - Ele é meu amigo, Frank.
-É, mas você já fez "coisinhas" com seu amigo! Nada te impediu disso.
-Isso faz séculos! E agora tem você pra impedir isso. Você é meu namorado, caralho!
-Ah, é mesmo? Não pareceu. Parecia...
-Frank! - Gerard deu um passo à frente, interrompendo o outro. - Sei o que parecia, mas você sabe que ele é só meu amigo agora, sabe que eu tenho você e não quero mais ninguém. Bert tá passando por sérios problemas com Quinn e eu só tava ajudando ele.
-Grande ajuda!
-Cala a boca! Porque você foi embora daquele jeito? Você tem que acreditar em mim e eu sei que você quer acreditar, mas o seu orgulho te impede.
-Eu não quero ser o idiota, Gerard!
-Então deixa eu ser o idiota - Gerard deu outro passo à frente e ficou tão próximo a Frank que não poderia dar outro passo à diante sem beija-lo. Olhando nos olhos do outro ele continuou - eu te amo, Frank Iero, e você precisa acreditar em mim. Precisa acreditar que eu não consigo pensar em
mais ninguém além de você. Porque eu te amo.
Frank não conseguiria ignorar aquilo por orgulho. Também não conseguiu se conter, mesmo estando na frente de sua casa, e puxou o namorado para ainda mais perto e lhe deu um beijo. Um beijo como aquele beijo que eles davam quando estavam pelados sobre a cama e não havia ninguém para olhar os dois se amando.
Acontece que dessa vez havia alguém para olhar, pois eles não estavam pelados na cama, num quarto fechado. De dentro de casa, a mãe de Frank assistia à cena boquiaberta sem saber como reagir.

Aw, SugarOnde histórias criam vida. Descubra agora