Quase Terminando

161 18 0
                                    

Gerard não ia começar a falar, ele gostava do silêncio e Frank sabia disso.
-E então? - Frank tentou. - Você me deixou na merda ontem.
-Desculpa - Gerard abaixou a cabeça.
-O que acontecendo? Qual a sua intenção, Gerard? Você quer me afastar, é isso?
-Não - Gerar não levantou a cabeça, mas aumentou o tom. Ele continuou encarando o chão, procurado as palavras certas para se explicar.
-O que é então?
-Eu não to fazendo isso de propósito. Eu juro. Eu só não consigo evitar às vezes.
-Evitar o que?
-Me esconder... Eu tendo a sempre afastar as pessoas de mim, e geralmente são as que eu mais quero por perto.
Gerard olhou mais uma vez para o namorado, que já tinha os olhos molhados.
-É difícil de entender, principalmente depois de antes de ontem, quando você teve todo aquele ciúme de Bert e me deixou com ciúmes de você.
-Meu Deus! Eu não tenho nada com Bert, Frank! Nada disso que você imagina, pelo menos. A gente nem combina como casal, eu nunca nem transei com ele. Eu e ele somos amigos, ou éramos! Eu só me importo de mais com ele, porque ele é o único amigo que eu tenho e não queria me afastar dele, mas quando me afastei... ele não voltou. E eu fiquei louco, morrendo de medo.
-Medo de quê?
-Medo de ficar sozinho pra sempre.
-Mas e eu, Gerard? Eu não conto? Eu to aqui. Eu tava aqui o tempo todo! Mesmo com raiva, eu tentei te entender. Ontem paguei o maior mico querendo te agradar e você não percebe isso! O que falta? O que mais eu preciso fazer?
-Não sei - Gerard se entregou ao choro.
-Você quer acabar, dar um tempo, continuar... - vinte minutos atrás Frank estava com medo de que tudo acabasse. Naquele momento, porém, ele estava quase certo de que seria melhor dar um tempo naquele namoro estranho.
-O que você quer? - Gerard suavizou sua expressão de dor e enxugou as lágrimas, apesar de elas não pararem de brotar.
-Você mudou, eu acho. diferente.
-Não to diferente, você que finalmente vendo a merda de pessoa que eu sou.
Gerard olhou com muita seriedade para Frank e endireitou a postura. Frank voltou a sentir medo, mas o medo agora era de outra coisa: era de ser um idiota e fazer a coisa errada.
-A gente pode entrar, pessoal? - Ray gritou da porta.
-Desculpa, pessoal, mas a gente tem que ensaiar - Mikey também apareceu atrás de Ray. - O show já é depois de amanhã.
-Claro! Vamo lá! - Gerard seguiu para o microfone jogado no chão e o pegou.
Frank sentiu raiva e vontade de gritar, mas somente se levantou para ensaiar.
O ensaio seguiu com uma tensão insuportável no ar e quando acabou, ninguém além de Bob e Ray falava numa breve reunião sobre a produção do primeiro álbum deles.
Na hora de ir embora, Frank levantou-se da cadeira e foi embora, Ray foi logo atrás dele. Mikey se despediu de Bob, sem nem olhar para ele, apenas com uma palavra, porque não conseguia deixar de encarar o irmão, que por sua vez, não tirava os olhos do tapete no chão.
-O que aconteceu? - Mikey perguntou. - Vocês terminaram?
-Não... Mas acho que logo logo ele vai achar alguém melhor do que eu pra amar.
-Você quer isso?
-Quero que ele seja feliz, porque eu o amo muito.
-Ele não pode ser feliz com você? - Mikey estava apenas tentando colocar juízo na cabeça do irmão. - E você, não quer ser feliz?
-Não sei se consigo, eu sempre estrago tudo.
-Você mesmo prestes a estragar tudo, agora. Mas ainda dá tempo de concertar. Uma coisa que eu não entendo, nem ele deve entendendo, Gerard, é que se você ama Frank, se ele te ama, qual é o empecilho? O que é que tá errado? Você merece ser feliz, Ge. Acredita em mim.

Mais um dia de ensaio tenso, Frank chegou, mal cumprimentou os colegas, tocou, e foi embora. Gerard não reagia, também só cantava, nem gritava direito quando a música pedia, e logo que acabava, seguia para casa.
-Amanhã é nossa apresentação - disse Bob, antes de ir embora, para Mikey e Ray. - E Rickly em pessoa vai lá! A gente tem que arrebentar, caralho!
-Eu sei - Mikey concordou preocupado.
-Então dá um jeito no teu irmão! Nem parece que ele é o mais velho.
Mikey concordou com a cabeça antes de ir pra casa.

-Você não vai jantar? - Mikey bateu na porta e entrou no quarto do irmão.
Gerard estava chorando, na cama, desenhando e escrevendo nos braços algumas palavras e nomes como "Frank" e "saudade".
-Eu me odeio tanto! Por que eu sou assim? - Gerard olhou nos olhos do irmão.
-Assim como? - o irmão se sentou na cama.
-Desgraçado!
-Você não é desgraçado. É genial, especial, sensível, só não é muito legal, mas é... amável. Por isso todo mundo te ama.
-Às vezes eu sei, tenho certeza sobre o que eu devo fazer. Mas às vezes não faço a mínima ideia.
-Que tal você ligar pra ele?
-Não.
-Então vai lá! A gente pede o carro do papai e vai.
Gerard pensou bem, planejou em sua mente todos os detalhes do encontro. Pensou em como chegaria, o que diria, como o abraçaria e como o beijaria ainda na entrada da casa, como uma outra vez. Porém seu telefone tocou antes mesmo de ele decidir ir.
Era Bert, seu amigo.
-Me desculpa - Bert falou, assim que Gerard atendeu.
-Pelo o que exatamente? - Gerard não conteve sua raiva.
Mikey pensou em ficar um pouco e esperar por uma resposta do irmão, mas teve a impressão de que aquela conversa seria tensa e ele não queria estar ali para ouvi-la, muito menos se ela durasse mais do que sua paciência suportaria. Então, ele saiu do quarto do irmão e fechou a porta.
-Não basta eu pedindo desculpas, ainda tenho que listar as coisas erradas que fiz? - Bert parecia sonolento, mas não bêbado. Gerard presumiu que se tratava de uma ressaca.
-Claro! Se você pedindo desculpas, eu quero saber se sendo sincero. Se de fato se arrepende...
-Sincero? - ele interrompeu. - Não confia em mim, sou seu melhor amigo.
-Ah! Você se lembrou disso agora? Eu não parecia seu melhor amigo duas noites atrás. Parecia um idiota correndo atrás de alguém mais idiota ainda.
-Não precisa me xingar, eu já tenho feito isso sempre que me vejo sóbrio.
-Só to cansado de ser sempre o que se importa de mais. Porque no fim, sou sempre eu que me fodo.
-Me desculpa então, por ser o idiota mais idiota de todos. Sei que você é meu amigo de verdade. Não quero te perder também.
-Briguei com Frank por causa de você - Gerard não queria ter comentado sobre aquilo, pelo menos não naquele instante. Porém seus pensamentos acabaram escapando por sua boca, sem passar por um filtro do bom senso antes.
-E como vocês estão?
-Quase terminando - Gerard quase chorou.
-O que foi que aconteceu?
-Ele tem ciúme de você.
-Não acredito! - ele quase riu.
Gerard e Bert passaram quase uma hora se falando no telefone. Não passaram mais tempo, porque Gerard ainda não estava com cabeça para bater papo e nunca sabia o que dizer. Apesar de que ainda falou bastante sobre o que estava sentindo ultimamente. Bert também falou de suas aflições. Por fim, ambos perceberam que estavam sofrendo pelo mesmo sentimento: o medo.
Gerard estava com medo de transformar sua vida de vez. Ele estava literalmente com medo de ser feliz, o que para ele seria uma mudança drástica, já que por tanto tempo esteve infeliz e já havia se acostumado a isso, aceitado seu estado que jurava ser permanente e eterno. Agora estava realizando sonhos com seus amigos, expressando-se nas músicas e as compartilhando com as pessoas, além de que estar namorando com alguém que o amava de verdade, do jeito que ele era.
Bert também estava com medo, mas era de nunca conseguir superar Quinn, um homem que ele considerava incrível e ao mesmo tempo terrível. Era alguém que lhe fazia mais do que feliz e tremendamente triste, ao mesmo tempo.
Antes de dormir, Gerard desenhou algumas figuras abstratas, alguns rabiscos que se pareciam com uma lua, outro com um escorpião, um que poderia ser um homem alto com a cabeça pequena e sem rosto. Por fim, ele desenhou Frank e em baixo escreveu: "fica comigo".

Aw, SugarOnde histórias criam vida. Descubra agora