O Encontro No Campus

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Clara estava nervosa. O primeiro dia na Universidade de Medicina de Valéria era algo que ela esperava há anos, mas agora que finalmente estava ali, a ansiedade a consumia. A imponente fachada da UMV parecia maior e mais intimidadora pessoalmente. Clara passou a mão pelos cabelos castanhos claros, presos em um coque bagunçado, tentando acalmar seus pensamentos. Seus olhos verdes, sempre atentos, varreram o pátio enquanto ela respirava fundo. Era um novo começo, uma nova fase da vida, mas a responsabilidade pesava em seus ombros. Ser a primeira médica da família era uma honra, mas também uma enorme pressão.

O campus da universidade era vasto, com edifícios de arquitetura clássica, árvores que pareciam ter centenas de anos e uma brisa suave que balançava as folhas das copas, criando um ambiente quase idílico. Clara sabia que aqueles corredores, aparentemente tranquilos, seriam palco de muitas noites insones e provas desafiadoras. A UMV, localizada na cidade de Valparaíso, no coração de Valéria, era uma das mais renomadas na área da Medicina. Chegar ali não havia sido fácil, e Clara ainda se sentia incrédula por ter conseguido.

Conforme caminhava pelos corredores em direção à sala onde teria a primeira aula de introdução à anatomia, sentiu um leve frio na barriga. Havia passado semanas imaginando como seria o primeiro dia. Quais seriam os colegas de turma? Será que ela se entrosaria? E, acima de tudo, será que conseguiria dar conta da carga de estudos? Esses pensamentos pareciam rondar sua mente enquanto ela se aproximava da sala.

A sala de aula era ampla, com fileiras de carteiras dispostas em degraus, formando quase um auditório. Clara escolheu um lugar no fundo, um costume que ela mantinha desde os tempos de escola. Ela sempre preferira observar tudo de longe, sem ser o centro das atenções. Sentada ali, no canto, Clara abriu seu caderno novo, as páginas ainda imaculadas. Passou o dedo pelas folhas, sentindo a textura do papel enquanto aguardava o professor e os outros alunos.

Foi então que ouviu uma voz masculina e descontraída ao seu lado.

— Está guardando esse lugar para alguém ou é sorte minha? — perguntou o garoto com um sorriso largo, que transmitia uma confiança despretensiosa.

Clara levantou os olhos e viu um rapaz alto, com cabelos castanhos escuros, levemente bagunçados, e olhos castanhos brilhantes. Ele usava uma camiseta simples e jeans, algo despojado, que parecia refletir sua personalidade relaxada. A atitude confiante dele contrastava com a timidez de Clara, mas havia algo no jeito dele que a fez relaxar.

— Ah, pode se sentar — respondeu Clara, um pouco surpresa com a abordagem direta. Ela não estava acostumada com gente tão extrovertida, mas não via problema em ter companhia.

— Ótimo. — Ele jogou a mochila no chão ao lado dela e se sentou. — Meu nome é Miguel, e o seu?

— Clara — respondeu, tentando manter a conversa casual. Ela notou que a voz dele era calorosa e convidativa.

— Então, Clara... Você também está começando a se perguntar por que a gente escolheu medicina? Porque eu já estou — disse ele, sorrindo, enquanto folheava o livro didático com uma expressão fingidamente preocupada.

Clara riu de leve, mas logo voltou à sua expressão mais séria. — É o que eu sempre quis, na verdade.

— Sério? Sempre? — ele perguntou, inclinando-se para frente, interessado.

— Sim. Meus pais não têm formação acadêmica, e eu sempre quis ser a primeira da família a ir tão longe. — Clara olhou para o lado, um pouco envergonhada. Ela não era do tipo que gostava de se exibir.

Miguel ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Isso é impressionante. Quer dizer, não deve ser fácil... mas parece que você já está pronta para qualquer desafio.

Clara deu de ombros, tentando não demonstrar que aquele tipo de elogio a deixava sem jeito. — Eu tento. E você? Sempre quis ser médico também?

— Nem de longe. Eu só decidi no último ano do ensino médio. Até pensei em fazer educação física, mas acabei vindo pra medicina por... — Ele fez uma pausa dramática. — ...motivos familiares.

Clara franziu a testa, intrigada. — Como assim?

— Meu pai é ortopedista e minha mãe é médica esportiva. Eles praticamente me criaram para seguir o caminho deles, então aqui estou eu. — Ele sorriu, mas Clara notou um traço de leveza que parecia camuflar uma certa tensão. O jeito dele era despretensioso, mas havia uma sombra em seus olhos que sugeria que ele estava lidando com expectativas muito altas.

— Entendi... — respondeu, não querendo invadir a privacidade dele tão cedo. O último que queria era tornar a conversa pesada.

A conversa foi interrompida pelo professor que entrava na sala. Clara focou imediatamente na aula, anotando cada palavra. Miguel, por outro lado, parecia mais relaxado, fazendo perguntas pontuais e até piadas que arrancavam risadas discretas da turma. Enquanto o professor falava sobre a complexidade do corpo humano, Clara se pegou refletindo sobre como duas pessoas tão diferentes poderiam ter cruzado o mesmo caminho. Ela, sempre focada e meticulosa, e ele, descontraído e despreocupado. Mas, de alguma forma, a personalidade extrovertida de Miguel trouxe um conforto inesperado para aquele primeiro dia caótico.

Quando a aula terminou, Miguel olhou para Clara enquanto arrumava seus materiais.

— E aí, o que achou? — perguntou ele, enquanto colocava o caderno na mochila com uma expressão descontraída.

— Foi... intenso. Muita coisa de uma vez só — respondeu Clara, ainda assimilando a quantidade de informação que o professor despejou em apenas uma hora.

— Concordo — disse Miguel. — Acho que vou precisar de uma segunda cabeça pra me ajudar a entender tudo isso. Estava pensando... a gente podia formar um grupo de estudo, o que acha?

Clara hesitou. Ela nunca tinha sido de formar grupos de estudo, preferia estudar sozinha, mas algo no jeito casual de Miguel a fazia pensar que talvez não fosse uma má ideia.

— Pode ser — respondeu, depois de uma pausa. — A gente se encontra na biblioteca?

— Fechado. Biblioteca às cinco? — Miguel sugeriu, olhando para ela com um sorriso genuíno.

— Combinado. — Clara retribuiu o sorriso, um pouco mais confiante.

Com um aperto de mão informal, uma amizade começou a se formar naquele primeiro dia.

Ao sair da sala, Clara observou o movimento no campus. O pátio estava cheio de alunos que conversavam animadamente, formando grupos e se apresentando. Ela se sentiu um pouco deslocada, mas a presença de Miguel ao seu lado tornava tudo mais leve. Ele parecia se divertir, fazendo comentários engraçados sobre os novos colegas, e Clara não pôde deixar de rir. Ela percebeu que, mesmo em meio à ansiedade, poderia encontrar conforto na companhia dele.

— Olha, aquela ali é a Ana. Ela é uma das melhores alunas do curso. — Miguel apontou para uma garota com cabelo liso e loiro, que estava cercada por outros alunos. Clara a observou, notando a confiança que a jovem emanava.

— E aquele ali? — Clara perguntou, observando um rapaz que estava perto de Ana, com uma prancheta nas mãos.

— Ah, é o João. Ele é muito inteligente, mas também adora fazer piadas. O problema é que às vezes ele não sabe a hora de parar. — Miguel fez uma expressão divertida, e Clara riu novamente.

O dia passou rapidamente, e enquanto se despedia de Miguel, Clara sentiu uma sensação de alívio. Ela estava um passo mais perto de se sentir parte daquele novo mundo.

— Até mais, Clara. Nos vemos na biblioteca! — Miguel acenou antes de desaparecer na multidão de estudantes.

Clara observou enquanto ele se afastava, um sorriso no rosto. Aquela amizade inesperada parecia promissora, e ela se sentia grata por não ter passado aquele dia sozinha.

Naquela noite, enquanto revisava suas anotações, Clara refletiu sobre o dia. A UMV era tudo que ela havia sonhado, e apesar dos desafios que viriam, ela se sentia pronta para enfrentá-los. A amizade que estava começando a florescer com Miguel poderia ser a base para um futuro cheio de aprendizado e descobertas. Clara fechou os olhos e respirou fundo, sentindo uma onda de esperança. Era um novo começo, e ela estava disposta a abraçar tudo o que viesse.

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