Laços de Dever

17 - O Cárcere de Luxo

Duas semanas haviam se passado desde o casamento e o caos que o cercou à todos. Pedri e Gavi agora viviam juntos na imponente mansão recém adquirida do Capo, mas a vida estava longe de ser o que Gavi havia imaginado, ou melhor, temido. Não havia amor. Não havia afeto. Só havia controle e solidão.

A casa que agora morava era grande, luxuosa e muito imponente. 

Uma verdadeira prisão de luxo.

Pablo estava cansado desse lugar, ele não tinha paz e nem liberdade. Ficava o dia todo sem ter o que fazer, enquanto observava Pedro sair e adentrar o local sem ao menos olhar para si mesmo. Passava a maior parte do tempo sozinho. Apenas alguns empregados que faziam de tudo para o seu bem estar. Nos primeiros dias tentou se distrair com a piscina, academia ou outras atividades, mas simplesmente não conseguia. Não tinha como. Era triste e solitário estar ali. Queria poder sair, ter a liberdade de passear mas sempre que saia era acompanhado de Pedro e diversos seguranças. Na maioria das vezes iam apenas até a casa de Paloma, seus pais e o hospital onde Kai ainda estava internado.

A recuperação de Kai era dolorosamente lenta. O sobrinho de Pedro ainda não havia acordado desde o ataque dos rebeldes e isso mantinha uma sombra constante sobre a vida de todos ali. A verdade é que Pablo nunca havia se importado tanto com Kai, até então. Claro, ele era sobrinho de Pedri e parte da vida dele, mas agora, vendo como a ausência do garoto afetava profundamente Pedri, ele começou a perceber o quanto Kai era importante na dinâmica da família e no próprio equilíbrio emocional de Pedro.

Era mais uma noite solitária. O silêncio da casa do casal, era quase insuportável. O jantar tinha sido simples, como todos os outros nas últimas duas semanas, sem qualquer sinal de interação calorosa ou afetuosa. Pedro estava sempre perdido em seus próprios pensamentos, a preocupação com Kai e os problemas da máfia parecendo consumir cada pedaço de sua atenção. Gavi, por outro lado, sentia-se sufocado, como se estivesse se afogando naquele luxo vazio, naquela imensa mansão sem cor e vida.

Depois de empurrar a comida no prato por longos minutos, Gavi respirou fundo e decidiu que não poderia continuar assim. Ele não era feito para viver daquela maneira, trancafiado, sem qualquer liberdade. Ele sabia que algo precisava mudar, e embora fosse difícil enfrentar Pedri com seus pedidos, ele não aguentava mais.

Pedro estava sentado à mesa, seus olhos fixos no telefone, provavelmente lidando com algum problema relacionado à recuperação de Kai. O mais novo observou-o por um momento, sentindo o nó apertar ainda mais em sua garganta. Era agora ou nunca.

— Pedri... — começou ele, a voz hesitante, mas firme o suficiente para chamar a atenção do marido.

Pedri levantou os olhos lentamente, como se o nome de Gavi tivesse sido um eco distante.

— Sim? — respondeu ele, impassível, o tom de voz indicando que estava ali fisicamente, mas sua mente ainda estava distante.

Pablo se mexeu na cadeira, nervoso. Ele odiava ter que pedir algo assim, mas já estava no limite.

— Eu... eu estava pensando... — Ele respirou fundo antes de continuar. — Eu queria sair. Ter mais liberdade, sabe? Eu sei que a situação é complicada agora, mas... eu preciso disso. Eu estou me sentindo preso aqui, Pedro. Não aguento mais ficar confinado dentro dessa casa o tempo todo. Eu queria ter um carro... só pra mim. Poder ir e vir sem depender de ninguém.

Pedri franziu o cenho. Ele fechou o telefone e colocou-o sobre a mesa, finalmente prestando total atenção em Gavi. Havia algo de indecifrável em seu olhar, uma mistura de preocupação e severidade. Por um momento, ele ficou em silêncio, avaliando o que o mesmo estava pedindo.

— Você sabe que as coisas não estão seguras lá fora, não sabe? — Pedri respondeu, com o tom mais sério. — Principalmente depois do que aconteceu no casamento. Eu não posso simplesmente deixá-lo sair por aí, sozinho. O risco é grande demais.