Final

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Quebra de tempo

A brisa fria daquela noite soprou pelas árvores ao redor do templo, fazendo as folhas dançarem suavemente. O local era escuro, iluminado apenas pelas luzes fracas que vinham de longe. Típico de Mikey fazer suas reuniões ao ar livre, mantendo um ar quase intocável de autoridade. Mas hoje, ele não seria intocável.

Estava tudo preparado. Eu e meus principais subordinados da Taishaku nos movíamos silenciosamente, pegando cada um dos subordinados da Toman que ficavam nas bordas da reunião. Amarramos eles às árvores próximas, sem dar chances de resistência. A tensão no ar era palpável, a expectativa de uma luta iminente preenchia o espaço entre nós.

Meus olhos encontraram Draken primeiro. Sempre ao lado de Mikey, sempre aquele que não deixaria que as coisas saíssem do controle tão facilmente. Ele era o verdadeiro escudo de Mikey, sempre pronto para me enfrentar se fosse preciso. E foi.

Draken me viu primeiro e se moveu rápido, um golpe certeiro vindo diretamente para meu estômago. O impacto foi tão forte que cambaleei para trás, o ar me faltando por um momento. "Maldito..." murmurei, tentando firmar os pés no chão, mas a força do golpe me deixou atordoada. Draken era uma muralha, e ele não hesitava.

"Você não vai passar por mim, Sn," ele disse com aquela firmeza que eu tanto odiava.

Antes que ele pudesse desferir outro golpe, Anon avançou, ocupando meu lugar na briga. Eu sabia que ele daria conta de Draken, mas Mikey... Mikey era minha responsabilidade.

Eu me recompus o mais rápido possível, o som da briga ao redor quase se tornando um borrão. O foco estava nele, Mikey, parado no centro da confusão, os olhos fixos em mim. Sem dizer uma palavra, me aproximei, determinada a encerrar tudo ali. Não havia mais volta.

Avancei com um soco direto no rosto de Mikey, um golpe que ele quase conseguiu bloquear. Ele revidou imediatamente, um chute forte que pegou minha lateral, me fazendo grunhir de dor. Mas eu não ia desistir. Nem agora, nem nunca. Não podia me dar ao luxo de vacilar. Outra troca de golpes, socos e chutes que pareciam não ter fim, mas a intensidade estava claramente me desgastando. Mikey era rápido, forte, e apesar de tudo, ainda era o invencível que todos temiam.

Mas algo estava diferente nele. Seus golpes não tinham a mesma firmeza de antes, sua energia parecia estar se esvaindo com cada soco que desferia em mim. Eu conseguia sentir isso. Ele estava cansado, talvez emocionalmente mais do que fisicamente.

Num último esforço, desferi um chute violento em sua perna, forçando-o a se ajoelhar. Seu corpo quase desabou no chão, os olhos ainda fixos em mim, mas agora sem a mesma chama de antes. Mikey estava sem forças para continuar.

Ofegante, me aproximei dele, meu corpo doendo com cada movimento. Não era o plano... Eu devia acabar com tudo, devia terminar ali e agora. Mas algo dentro de mim me impediu. Ao ver Mikey naquela posição, ajoelhado diante de mim, algo mexeu comigo. Todos os momentos que passamos juntos, as alianças que formamos, as brigas e os risos. Fingir gostar dele e dos outros sempre pareceu parte do jogo, mas agora, naquele instante, o sentimento era confuso.

Mikey me olhou, e pela primeira vez em muito tempo, ele não parecia o líder implacável da Toman. Ele era apenas um garoto, perdido no meio de tudo isso. Eu me ajoelhei à sua frente, e sem pensar, me inclinei e o abracei. Foi um ato impulsivo, algo que eu não planejei, mas naquele momento, parecia a única coisa certa a fazer.

Ele fechou os olhos, as lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto. "A Toman... é sua, Sn..." ele murmurou, a voz fraca, carregada de dor e resignação.

Eu parei. O som da luta ao redor desapareceu completamente. Tudo que eu podia ouvir era o bater do meu coração e as palavras de Mikey ecoando na minha mente. Eu deveria matá-lo. Esse era o plano, o fim de tudo. Mas não tive coragem.

Gangue Taishaku  - 𝚃𝚘𝚔𝚢𝚘 𝚛𝚎𝚟𝚎𝚗𝚐𝚎𝚛𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora